Ancestralidade africana será celebrada em lavagem do Cais do Valongo
Cerimônia, conduzida por Mãe Edelzuita de Oxalá, acontece neste sábado (29), no local que sofreu apagamento e hoje é Patrimônio da Humanidade da Unesco
Neste sábado (29), às 10h, acontece a 12ª Lavagem do Cais do Valongo, conduzida pela iyalorixá Mãe Edelzuita de Oxalá, com produção do Instituto Ilê Odara. Declarado Patrimônio da Humanidade da Unesco em 2017, o Valongo foi o principal porto de entrada de africanos escravizados nas Américas e o único que está preservado: por ali, passaram cerca de um milhão de pessoas sequestradas na África.
Ao longo de sua história, o lugar sofreu diversos apagamentos, para que a história da escravidão fosse esquecida. Nos últimos anos, no entanto, algumas iniciativas têm buscado resgatar as memórias da região e o legado africano para a cidade e o país. A lavagem se consolidou como uma dessas ações.
+ Viralizou: do nada, motorista abandona ônibus lotado na Avenida Brasil
Localizado na região batizada de Pequena África, hoje o Valongo integra o Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana, que estabelece marcos da cultura negra brasileira na zona portuária, ao lado do Jardim Suspenso do Valongo, do Largo do Depósito, da Pedra do Sal, do Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab) e do Cemitério dos Pretos Novos.
O ancoradouro foi construído em 1811, para retirar da Rua Direita, atual Rua Primeiro de Março, o desembarque e comércio de africanos escravizados, escondendo a escravidão da sociedade da época, até porque muitos dos sequestrados chegavam à cidade em estado deplorável, quando não mortos, como o Cemitério dos Pretos Novos comprova.
Em 1831, o tráfico transatlântico de escravizados foi proibido, por pressão da Inglaterra, e o Valongo foi fechado. Em 1843, foi feito um aterro para a construção de um novo ancoradouro, batizado de Cais da Imperatriz, já que tinha como função a receber a princesa Teresa Cristina, futura esposa de D. Pedro II. Em 1904, durante a reforma urbana realizada pelo prefeito Pereira Passos, ele também foi soterrado.
Em 2011, durante as obras do Porto Maravilha, os dois ancoradouros foram descobertos, um sobre o outro. Junto a eles, uma grande quantidade objetos de uso da população negra da época da escravidão, como cachimbos, partes de calçados, botões feitos com ossos, colares, amuletos, anéis, pulseiras em piaçava, búzios, pedaços de cerâmicas e outras peças usadas em rituais religiosos.
+ Para receber VEJA RIO em casa, clique aqui