Natural da vila de Monção, no distrito de Viana do Castelo, norte de Portugal, José Temporão foi pastor de cabras, agricultor, pedreiro e carpinteiro. Seu sonho de juventude, no entanto, era seguir a carreira do pai e atuar na construção civil. Em 1946, durante a ditadura salazarista, deixou mulher e filha em casa e veio para o Rio tentar uma vida melhor. Assim que pisou em solo carioca, aos 22 anos, foi trabalhar como ajudante no botequim de um amigo da família. Em quatro meses, assumiu um terço do negócio e, pouco tempo depois, tornou-se dono do estabelecimento, o Café e Bar Ceará, que existe até hoje na esquina da Rua Santa Luzia com a Avenida Presidente Antonio Carlos. Depois de experiências bem-sucedidas no comércio, pôs o antigo desejo em prática e se lançou na construção de imóveis. Ergueu três prédios, um deles um edifício de apartamentos para alugar, em São Cristóvão, batizado com o nome de sua mulher, Sara.
Dores de cabeça com inquilinos o levaram a desistir do setor e ele acabou voltando para a área de gastronomia. Entre idas e vindas ao país natal – numa das viagens nasceu seu filho José Gomes Temporão, que foi ministro da Saúde no governo passado -, o patriarca teve mais de uma dezena de cafés, botequins, lanchonetes e padarias. Em 1964, já com o clã devidamente instalado em um apartamento na Tijuca, abriria seu ponto definitivo. Alugou uma antiga lanchonete em frente ao Mosteiro de São Bento, mais tarde ampliada para a loja ao lado, e a transformou num dos templos da boa mesa lusitana na cidade, onde são consumidos mensalmente cerca de 300 quilos de bacalhau importado da Noruega. No salão do restaurante Mosteiro, cada detalhe da decoração tem a mão do proprietário, com destaque para o relógio de 140 anos que comprou em Coimbra e trouxe de navio, há mais de cinquenta anos. “Quando alguém pede o contato do arquiteto, dou o meu cartão”, diverte-se.
Da abertura para cá, recebeu todos os presidentes empossados. A única exceção, por enquanto, é Dilma Rousseff. Com vitalidade impressionante para seus 88 anos, Temporão chega ao trabalho todo dia às 6 da manhã e só sai após atender o último comensal, geralmente doze horas depois. Auxiliado pelo neto e sócio Marcelo, faz questão de receber os clientes e não se senta um minuto sequer. Um dos poucos que contaram com o privilégio de tê-lo à mesa, depois de muita insistência, foi o presidente João Figueiredo (1918-1999), que era frequentador assíduo. O salão é uma extensão de sua residência e onde recebe amigos. “Gosto dos meus clientes, não do restaurante”, costuma dizer Temporão, que por sua contribuição à boa mesa carioca é escolhido a personalidade gastronômica do ano.