Jorge Picciani recebeu R$ 58,58 milhões da Fetranspor, diz MPF
A informação consta em documentos entregues ao órgão pelo delator Álvaro José Novis
Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa fluminense, teria recebido R$ 58,58 milhões em propinas da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor). A informação consta em documentos entregues pelo delator Álvaro José Novis ao Ministério Público Federal.
Novis era um dos doleiros do sistema de corrupção que abastecia a cúpula política estadual. Ele afirmou ter feito pagamentos a Picciani entre julho de 2010 e julho de 2015 a mando da Fetranspor e de Carlos Miranda, ex-sócio e braço-direito do ex-governador Sérgio Cabral na distribuição de propinas. A federação teria enviado R$ 49,96 a Picciani. Já Miranda teria pago R$ 8,62 milhões ao parlamentar.
O ex-presidente da Alerj não foi o único beneficiado por repasses da Fetranspor. De acordo com Novis, a entidade pagou R$ 122,8 milhões a Miranda entre 2010 e 2016. No mesmo período, o ex-presidente do Detro Rogério Onofre recebeu R$ 44,1 milhões. O deputado estadual e ex-presidente da Alerj Paulo Melo, R$ 38,6 milhões. O doleiro informou que o dinheiro chegava por meio de carros comuns blindados da transportadora de valores Trans-Expert. Ele contabiliza que, ao todo, a Fetranspor teria transferido R$ 350 milhões em propina a autoridades. As revelações de Novis serviram de base para a operação Cadeia Velha, deflagrada nesta terça (14) pela Polícia Federal.
Cadeia Velha
Batizada de “Cadeia Velha”, a operação envolve 4 mandados de prisão temporária, 6 de prisão preventiva e 35 de busca e apreensão em 21 endereços. Além de Picciani, foram levados para prestar depoimento os deputados Paulo Melo e Edson Albertassi, ambos do PMDB. O último foi indicado pelo governador Pezão para a presidência do Tribunal de Contas do Estado há uma semana. No momento, o Ministério Público Federal tenta conseguir a prisão dos parlamentares junto ao 2º Tribunal Regional Federal, já que eles têm direito a foro privilegiado.
Felipe, filho de Picciani, foi preso – assim como Jacob Barata Filho e Lélis Teixeira, empresários do setor de ônibus. Detidos em julho na operação Ponto Final, os executivos foram liberados em setembro graças a uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, que é padrinho de casamento da filha de Barata. As ações de hoje estão relacionadas a suspeitas de lavagem de dinheiro de propina pago por transportadoras e outras empresas
por meio da venda por preços acima dos praticados no mercado de gados das fazendas da família do presidente da Alerj . O nome da operação é uma alusão ao Palácio Tiradentes, que abrigou uma cadeia durante o período colonial.
Posicionamentos
Confira nota divulgada pela Alerj e assinada por Jorge Picciani:
O que aconteceu hoje com meu filho é uma covardia feita para atingir tão somente a mim.
Felipe é um zootecnista, bom pai, bom filho, bom amigo, que trabalha de sol a sol e não tem atuação política. Todos que o conhecem o respeitam e sabem do seu caráter e correção.
Nossa família atua há 33 anos no ramo da pecuária, onde ingressei antes de me eleger deputado. Com trabalho duro, nos transformamos numa das principais referências em alta genética do País. Trinta e três anos não são trinta e três dias.
A indicação do nome do deputado Edson Albertassi para integrar o TCE foi do governador Luiz Fernando Pezão e aconteceu mediante ao fato de os três auditores a quem caberia a indicação terem decidido não concorrer pelo fato de ainda estarem no período de estágio probatório, o que foi avaliado por eles como insegurança jurídica. Diante da determinação da Justiça, pedindo 72 horas para esclarecimentos, eu já havia inclusive suspendido a votação da indicação que estava prevista para hoje no plenário.
Em toda a minha carreira jamais recebi qualquer vantagem em troca de favores. A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro não atua a serviço de grupos de interesse, não interfere em aumento de tarifas (que é autorizado pela Agetransp) e não votou isenção de IPVA para ônibus, porque isso foi feito por decreto pelo ex-governador (decreto 44.568 de 17/01/2014), quando eu nem sequer tinha mandato. São portanto falsas as acusações divulgadas.
Para quem não compreende o funcionamento da Alerj, é preciso esclarecer:
1. A Alerj é uma Casa plural. Há uma série de instâncias decisórias anteriores ao plenário, a começar pelas Comissões Técnicas Permanentes, como a de Constituição e Justiça, Saúde, Educação, Transportes, Direitos Humanos, etc. Os membros das Comissões Técnicas são indicados pelos líderes partidários e a presidência de cada uma delas, eleita por esse colegiado. Há, ainda, o Colégio de Líderes, convocado sempre que há pautas complexas ou com grande número de emendas. As discussões no Colégio de Líderes, que visam a obter consensos mínimos para as votações em plenário, reúnem dezenas de deputados. Por fim, há a instância do Plenário, onde votam os 70 deputados, cujas sessões são televisionadas, abertas ao público e à imprensa.
2. Em segundo lugar, nos meus seis mandatos como presidente da Alerj (de 2003-2010 e de 2015 até o presente momento), estabeleci relações institucionais com os setores organizados da sociedade, sobretudo os empresariais. Foi com esse objetivo que, em 2003, criei o Fórum Permanente de Desenvolvimento da Alerj, que hoje reúne 41 entidades da sociedade civil organizada. Desde que foi criado o Fórum, nunca mais houve uma denúncia sequer de CPIs que tentavam extorquir empresários, comuns no passado. Passamos, através do Fórum, a ter um canal de diálogo institucional, que não havia antes.
3. A produção legislativa da Alerj é a maior prova da independência da sua atuação em relação a interesses de grupos e setores, prevalecendo o interesse público. Alguns exemplos no que tange especificamente ao setor de transportes:
* Gratuidade para estudantes da rede pública, pessoas com deficiência e maiores de 65 anos nos transportes. (Lei 3.339/99, ampliada pela Lei 4.291/04) e reserva de assentos exclusivos para gestantes e pessoas com deficiência (Lei 1.768/90);
* Lei 6.712/14, que determina a disponibilização de redes WiFi em todos os terminais de transportes do estado, ficando a instalação a cargo das empresas responsáveis pelos terminais;
* Gratuidade para estudantes (vale educação) e para pessoas com deficiência e doença crônica (vale social) nos ônibus; intermunicipais (Lei 4.510/05, ampliada pela Lei 7.123/15);
* Controle por biometria de gratuidades e bilhete único nos transportes (Lei 7123/15);
* Derrubada do veto do governador a um parágrafo da Lei 5.628/09, que destina as sobras dos cartões eletrônicos ao Fundo Estadual de Transportes. Essa medida havia sido incluída pela Alerj em dezembro de 2016. O veto foi derrubado em abril de 2017 (Lei 7.506/16);
* Vagões exclusivos para mulheres em trens da Supervia e Metrô ( Lei 4.733/2006)
* Ampliação do prazo para comprovação de renda de usuários do Bilhete Único, de 60 para 90 dias, evitando a perda do direito por usuários que recebem até R$ 3.209. (Lei 7.605/2017).
3. A vigilância permanente exercida pelos próprios parlamentares e pela sociedade, através da imprensa, das mídias digitais e dos mecanismos de controle existentes nos deixa permanentemente sob escrutínio público, de quem dependemos, a cada quatro anos, para renovar nossos mandatos.
Não tenho nem nunca tive conta no exterior. Não conheço Álvaro Novis, nunca o vi, nem sei onde fica seu escritório. Tampouco conheço seus funcionários.
Meu patrimônio é absolutamente compatível com a renda oriunda das minhas atividades empresariais e isso já foi comprovado em investigação que durou dois anos e foi devidamente arquivada, em 2006, pela unanimidade – repito, pela unanimidade – dos votos do Conselho Superior do Ministério Público Estadual.
O tempo vai se encarregar de desmascarar essa covardia em curso. A tentativa de me envolver não pode ser maior que os fatos.
Atenciosamente,
Jorge Picciani
Confira nota divulgada pela defesa de Jacob Barata Filho: