Na tarde do último sábado (16), um agitado grupo chamou atenção no calçadão de Ipanema. Com modernos celulares em punho, cerca de 100 pessoas percorreram o trajeto entre o Jardim de Alah e o Arpoador, fotografando os pontos mais interessantes do percurso e disponibilizando as imagens logo em seguida na internet. Elas participaram do Instawalk Rio+20, uma iniciativa que teve o apoio de VEJA RIO, NATIONAL GEOGRAPHIC e do Planeta Sustentável, movimento lançado pela Editora Abril. Como o nome deixa claro, a caminhada reuniu os adeptos do Instagram, aplicativo para celular e iPad que permite dar acabamento às fotos e depois compartilhá-las em rede social. A paisagem, saturada de belezas, facilitou o trabalho da turma, que apontava os aparelhos para alvos variados: o Morro Dois Irmãos, as Ilhas Cagarras e banhistas na areia. “Sou uma entusiasta do programa”, diz a dentista Thessia Sab, uma das integrantes da atividade. “No Rio, você não precisa de muitos recursos para a imagem sair linda.”
Radicada em Ipanema, Thessia é um caso exemplar do feitiço que o aplicativo exerce. Em seus passeios pelo bairro, chega a disparar o iPhone mais de 400 vezes. Tamanha paixão resulta em 570 imagens postadas em seu perfil. A facilidade para clicar, numa cidade de tantos cenários deslumbrantes, faz com que as galerias de imagens na internet sejam fartas. Usuária da tecnologia desde 2010, a também dentista Flávia Tanaka já compartilhou 1?360 registros com seus 1?000 seguidores. Adepta da mania, ela ajudou a fundar o Instaforfun, grupo que promove desafios como o de sábado passado. Na caminhada, que durou uma hora e meia, Flávia não sossegou o olhar. “Tento pôr na rede social ao menos uma imagem por dia”, conta ela, sem esconder seu fascínio pela novidade. “O aplicativo deixou de ser um hobby qualquer, pois realmente eu me preocupo muito com a foto que vou fazer.”
Obter efeitos visuais, o que até recentemente só era possível por meio de complicados programas de computador – e, num passado mais remoto, manipulando substâncias químicas na hora da revelação -, tornou-se banal. Prova disso são os registros feitos durante a caminhada, exibidos nesta página. No Instagram há dezoito opções de filtro, capazes de transformar radicalmente as imagens. Elas podem realçar cores, texturas e contrastes, destacar os matizes de um pôr do sol, embaçar parte da paisagem ou deixá-la em tom sépia, com um aspecto retrô. Com tantas possibilidades, personalizar os cliques tornou-se uma obsessão entre os mais de 50 milhões de usuários da rede social em todo o mundo.
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Criado há dois anos pelo brasileiro Mike Krieger em parceria com o americano Kevin Systrom, o Instagram virou um fenômeno dos nossos dias. Com um investimento inicial de 500?000 dólares, o programa atingiu em uma semana a marca de 100?000 usuários. Em apenas dois meses, esse número saltava para 1 milhão. Antes restrito aos aparelhos fabricados pela Apple, o aplicativo, em abril, passou a ser compatível também com os telefones que usam o Android, sistema operacional do Google. Essa mudança fez com que a quantidade de cadastrados atingisse o patamar atual, despertando a cobiça de Mark Zuckerberg. O inventor do Facebook identificou ali um bom negócio e pagou 1 bilhão de dólares pelo programa.
Graças à novidade concebida pelo agora milionário programador brasileiro, conseguir bons cliques deixou de ser privilégio de profissionais. Munido de um celular, qualquer um pode ter, vá lá, seu momento de Cartier-Bresson ou Sebastião Salgado. “O fundamental é ter curiosidade”, destaca Flávia Tanaka. A seu lado no Instawalk Rio+20, o arquiteto Raul Inocente mirava diversos pontos da paisagem com seu iPad, acompanhado da mulher, Fabiana Paes Leme, e da sobrinha Bruna, todos os três fanáticos pelo programa. As fotos do passeio foram agrupadas na hashtag #insta4desafioriomais20, com a devida identificação de cada autor. No total, houve 687 registros. Os mais curtidos serão premiados com o livro Mestres da Fotografia, da NATIONAL GEOGRAPHIC. Uma competição de alto nível, a julgar pelo modelo, inegavelmente fotogênico. “Cada pedaço da nossa cidade tem um ângulo encantador”, resume Raul Inocente. Quem há de discordar?