A capital vista do céu
Resgatadas de velhos arquivos, imagens do Rio feitas por pioneiros da aviação militar se transformam em livro
Preciosas, de beleza impactante e desconhecidas da maioria dos cariocas, estão sendo reveladas ao público fotos aéreas da cidade produzidas durante as décadas de 30 e 40 do século passado, agora reunidas em livro. Trata-se de O Rio pelo Alto, da ID Cultural, com organização, legendas e textos assinados pela pesquisadora Patricia Pamplona. Após anos de negociações e visitas ao Museu Aeroespacial, no Campo dos Afonsos, na Zona Oeste, ela desengavetou dos velhos armários noventa filmes originais. Na empreitada, teve apoio de um dos mais importantes historiadores da fotografia brasileira, Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, da Divisão de Iconografia da Biblioteca Nacional. O trabalho resultou numa obra fundamental para geógrafos, cartógrafos, memorialistas ou simplesmente curiosos — pois é uma delícia, mesmo para leigos, observar como era a cidade, olhada de cima, e notar as transformações pelas quais ela passou.Nessas fotos, que VEJA RIO publica com exclusividade, surge, por exemplo, Ipanema, que lá do alto mais parecia um bairro feito com peças de brinquedo. A Tijuca, por sua vez, contava com muitos cinemas de rua, e no Centro ainda se via a Esplanada do Castelo. São imagens de um Rio que de certa forma não existe mais, realizadas por desbravadores dos céus, de forma artesanal. Em aviões que hoje seriam considerados teco-tecos, tenentes valiam-se de pesadas câmeras, como a inglesa Thornton Pickard e a americana Folmer Graflex K-20, buscando o melhor ângulo a centenas de metros do solo. Ao fazerem fotos chapadas (não oblíquas), eles ficavam quase deitados, mirando num buraco no piso da aeronave. E, como não havia filmes de rolo para esses fins, se errassem o alvo ou deixassem a desejar no foco, tinham de trocar a chapa de nitrato de celulose, da Kodak, e começar tudo de novo.Orientados por oficiais de uma missão francesa trazida pelo presidente Getúlio Vargas à então Escola de Aviação Militar, aqueles destemidos brasileiros não tinham por finalidade fazer cartões-postais da capital do país na época. Longe disso. “O objetivo era demarcar a cidade, pontuando seus limites; por isso a maioria das fotos se detém na orla, em campos de futebol e nas linhas férreas”, observa Patricia.Dividido por capítulos referentes a quatro regiões do Rio (zonas Sul, Norte e Oeste, além do Centro), o livro chegará às prateleiras no mês que vem. Sua introdução foi escrita pelo brigadeiro Marcio Bhering Cardoso, diretor do Museu Aeroespacial, que reforça a importância da obra, além de convocar os leitores à exposição permanente de 140 aviões no Campo dos Afonsos. Melhor notícia ainda é que a instituição, embalada pelo lançamento, agora estuda a possibilidade de montar uma exposição — gratuita — com o material fotográfico reunido. É mais uma chance para os cariocas verem de perto aquilo que esses fantásticos pioneiros enxergaram de longe.