Uma voz no fim do túnel

Filme narra a vida de Sobral Pinto, bravo jurista de tempos sombrios

Por Lula Branco Martins
Atualizado em 5 dez 2016, 14h05 - Publicado em 24 out 2013, 20h16
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Divulgação (Redação Veja rio/)
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A cena está na memória coletiva dos cariocas. Num palanque montado próximo à Igreja da Candelária, em 1984, discursam políticos como Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, tendo à frente 1 milhão de pessoas que queriam votar para presidente. Tratava-se da campanha das Diretas Já, e a certa altura um senhor de idade, o mais velho entre todos ali presentes, recebe o microfone do locutor Osmar Santos, para dizer: “Todo poder emana do povo, e em seu nome deve ser exercido”. Foi, claro, ovacionado, num dos momentos mais emocionantes do evento. Era o jurista Heráclito Fontoura Sobral Pinto, naquela ocasião já com 90 anos ? morreria em 1991, beirando os 100. Sua vida e trajetória nos bastidores do poder estão no filme Sobral, o Homem que Não Tinha Preço, dirigido pela neta, Paula Fiuza, a ser lançado no início de novembro, com imagens raras como seus passeios no bairro de Laranjeiras e as viagens pelo interior do estado, além da rotina diária de trabalho, no Centro da cidade.

O documentário tem como ponto de partida a recente revelação de fitas do Superior Tribunal Militar que contêm o áudio de processos contra presos políticos durante o regime militar de 1964 ? ali, uma das vozes que mais aparecem é justamente a de Sobral Pinto. Como advogado, independentemente da postura ideológica dos acusados, ele punha em primeiro lugar a defesa dos direitos humanos. Na tela, surgem depoimentos de várias pessoas que ajudou, a exemplo de Anita Leocádia, filha do líder comunista Luís Carlos Prestes e sua primeira mulher, Olga Benário. “Sobral foi o meu segundo pai, ao me salvar das garras do nazismo”, diz ela. Quase sempre calmo e bastante ponderado, o destemido jurista, católico devoto que vestia ternos pretos, parecia sair da linha em apenas uma circunstância: quando suas opiniões adentravam no terreno do futebol. Seu neto Guilherme Fiuza, jornalista e escritor (e irmão da cineasta), é quem conta no filme: “Quando o América perdia, para Sobral Pinto a culpa era sempre do juiz”.

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