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Febre amarela ameaça existência de micos-leões dourados

Reserva Biológica de Poço das Antas, vizinha a Casimiro de Abreu, é a única região do mundo onde ainda vivem os animais

Por Agência Estado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 20 mar 2017, 16h27 - Publicado em 20 mar 2017, 16h07
Mico-leão-cara-dourada (Arthur Ikishima/Veja Rio)
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Além de ter causado a morte do pedreiro Watila dos Santos, de 38 anos, e de ao menos três macacos no interior do Rio de Janeiro, a febre amarela ameaça também um dos mais bem sucedidos projetos de reintrodução na natureza de animais em extinção. A Reserva Biológica de Poço das Antas, vizinha a Casimiro de Abreu (RJ), onde Watila vivia, fica na única região do mundo onde ainda existem micos-leões dourados.

Na década de 1980, esses animais eram presença rara nas áreas de Mata Atlântica da região. Havia apenas 200 na floresta. Graças ao programa conduzido na Reserva, hoje eles são 3.200, em oito municípios.

“Não há o que fazer, só esperar. Os micos são tão vítimas quanto os humanos. Infelizmente, não há vacina contra febre amarela para primatas”, diz o geógrafo Luís Paulo Ferraz, secretário-executivo da Associação Mico-Leão-Dourado (AMDL), organização não-governamental que faz o acompanhamento dos micos na natureza.

O programa de reintrodução contou com o apoio de zoológicos internacionais, que doaram os animais para serem readaptados ao meio ambiente. Técnicos treinaram os micos para agir novamente como animais silvestres. Em cativeiro, os micos desaprendem a subir em árvores e a encontrar frutas para se alimentar, por exemplo.

Um programa de conscientização dos proprietários rurais da região levou à transformação de 22 fazendas em Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs). Separados em famílias, os micos têm um colar que permite aos técnicos da AMLD acompanhar seus deslocamentos, reprodução e ciclo vital. “Até agora só tivemos mortes de micos por causas naturais, atacados por predadores, ou atropelados. Não há registros por doença”, disse Ferraz.

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Nos últimos dias, porém, equipes da AMDL passaram a vasculhar a mata com mais atenção, em busca de primatas que possam ter sido vítimas da febre amarela. “Se ocorrer o pior e tivermos uma catástrofe, temos 250 micos em cativeiro. O jeito será recomeçar o trabalho todo de novo”, declarou Ferraz.

Na última quinta-feira, um dia depois de exames confirmarem que Watila havia morrido pela doença, a equipe do biólogo Waldemir Vargas, da Fundação Oswaldo Cruz entrou na floresta de Córrego da Luz, bairro rural onde o pedreiro vivia. “A mata era só silêncio”, relatou Vargas. A falta de som é mau sinal, explicou. Significa que os bugios podem ter deixado a região ao perceber que outros animais adoeceram.

O biólogo afirma que o bugio é o primata mais sensível à doença. “Ele tem o metabolismo mais lento e movimentos vagarosos. Acaba sendo presa mais fácil para o mosquito. O mico também adoece, mas o bugio é a primeira vítima”, afirmou.

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