O Estação continua: após ameaça de despejo, cinema será tombado
Com dois decretos, prefeitura busca evitar fechamento das tradicionais salas de cinema de Botafogo
Ameaçado de despejo, o Estação Net Rio, em Botafogo, ganha nesta quarta-feira (24) um novo mote que pode evitar um final nada feliz para gerações de cinéfilos empenhados em evitar seu fechamento: a prefeitura vai tombar o prédio e a atividade do Estação, como sala de cinema. Administrado há 25 anos pelo Grupo Estação, o espaço está ameaçado por causa de uma dívida de quase 2 milhões de reais em aluguéis atrasados para o dono do imóvel, o Grupo Severiano Ribeiro (GSR).
“O prefeito Eduardo Paes quer proteger os negócios que tenham a ver com a identidade do Rio. E o cinema se enquadra nessa categoria. Além disso, no caso do Estação Net Rio, trata-se de um importante exemplo de arquitetura art déco para a cidade”. disse ao jornal O Globo o secretário de Governo e Integridade Pública do Rio, Marcelo Calero.
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São na verdade dois decretos municipais. O primeiro inscreve os três complexos de salas do Estação (Botafogo, Rio e Ipanema) no Cadastro dos Negócios Tradicionais e Notáveis, que preservaria a atividade dos imóveis como cinemas. O outro tomba provisoriamente o imóvel do Estação Net Rio (Antigo Cine Star) considerando “o valor arquitetônico e cultural dos edifícios, representantes da arquitetura de linguagem Art-Déco”.
O Estação Net Rio foi intimado pela Justiça a deixar o espaço após alegação do Grupo Severiano Ribeiro (GSR) de que os aluguéis deixaram de ser pagos a partir de março de 2020. A justificativa de que a pandemia inviabilizou o negócio, durante a quarentena, não foi aceita pela juíza Elizabete Franco Longobardi, titular da 27ª Vara Cível, que assinou a decisão em 26 de outubro.
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A ameaça a um dos mais tradicionais espaços de cinema da cidade mobilizou cineastas, críticos, frequentadores do local e entidades, como o Instituto de Arquitetos do Brasil — Departamento do Rio (IAB-RJ) e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio (CAU-RJ), que assinaram um manifesto em defesa do Estação Net Rio.
Para Claudio Hermolin, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio (Ademi-RJ), no entanto, o tombamento é uma ideia que parece boa no papel, mas não funciona na prática. Exemplo disso seria o Roxy, cujo imóvel, em Copacabana, já era tombado desde 2003, mas foi incluído em junho pela prefeitura no Cadastro dos Negócios Tradicionais e Notáveis da cidade, o que manteria a sua exploração comercial no mesmo ramo: o espaço segue fechado.
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“É uma forma de penalizar duas vezes o proprietário, que sai de uma situação de inadimplência e depois é obrigado a alugar para um único ramo. E, se ninguém quiser mais tocar um cinema ali, ainda assim é melhor deixar o imóvel fechado, criando risco de ocupação irregular e insegurança na vizinhança em vez de gerar renda e empregos?”, questiona ele em entrevista ao Globo. “Saudosismo com o dinheiro dos outros é fácil”.
Procurado pelo jornal, o Grupo Severiano Ribeiro não se manifestou sobre o assunto.