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No clima da COP: Rio sedia os mais quentes encontros pré-conferência

Na próxima semana, a cidade será palco de decisões que podem definir os rumos da urgente batalha contra o aquecimento global

Por Paula Autran
Atualizado em 31 out 2025, 13h49 - Publicado em 31 out 2025, 06h01
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Alta expectativa: mais de 300 prefeitos de todos os continentes são aguardados na cidade para repetir a foto de 2015 na COP21, em Paris  (Climate allianCe/Cop21/Divulgação)
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As mudanças climáticas já deixaram há muito tempo de ser uma ideia abstrata para se tornar um desafio superlativo para a humanidade, que precisa encontrar soluções contra os termômetros em elevação, das quais depende a própria sobrevivência do planeta. Nas cidades, onde vive mais da metade da população mundial, o aquecimento global se manifesta na forma de enchentes, ondas de calor e tempestades cada vez mais nocivas, quando não letais. Mas é também nelas que brotam as respostas mais rápidas e eficazes, como lembra o secretário geral da ONU, António Guterres: “A batalha vai ser vencida ou perdida nas cidades”. Às vésperas da COP30, que reunirá cerca de setenta chefes de Estado em Belém, o Rio concentra encontros prévios e estratégicos para debater os caminhos para lidar com esse preocupante cenário. De segunda (3) a quarta (5), o Fórum de Líderes Locais da COP30 vai reunir mais de 300 prefeitos, governadores e autoridades no Museu de Arte Moderna (MAM) — o mesmo palco do G20, em novembro de 2024, e do Brics, em julho. O evento é encabeçado pela C40, rede formada por 97 centros urbanos de todos os continentes, que irá compartilhar experiências, apresentar ações exitosas e estabelecer prioridades. “O Rio tem profunda experiência em clima e é uma plataforma poderosa, que tem tudo para dar impulso às negociações no Pará”, diz Antha Williams, líder do programa ambiental da Bloomberg Philanthropies, parceira da COP na organização do “esquenta” carioca.

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Museu do Amanhã: palco da entrega do Earthshot Prize (Alexandre Macieira/Riotur/Divulgação)

O protagonismo urbano nas ações climáticas será também o foco da COP30, sediada no coração da Amazônia. Dez anos depois da COP21 — marcada pelo Acordo de Paris, quando 194 nações e a União Europeia se comprometeram a reduzir as emissões de gases de efeito estufa —, a nova cúpula é aguardada com imensa expectativa. O Fórum de Líderes Locais, etapa preparatória que o Rio abriga nesta semana, busca justamente reforçar o multilateralismo e a cooperação entre diferentes níveis de governo para acelerar a implementação do pacto firmado na França. Um dos principais objetivos será destravar o financiamento climático, de modo que autoridades de níveis diversos consigam ampliar as ações em suas próprias comunidades. Não por acaso, estarão por aqui não apenas prefeitos de toda parte, mas também representantes de bancos de desenvolvimento, agências de cooperação e governos, que aproveitam o ensejo para anunciar parcerias, apoios técnicos e subvenções. “Todos querem mostrar seus projetos e fechar colaborações”, ressalta Ilan Cuperstein, coordenador de relações internacionais da prefeitura carioca, destacando o impacto, tanto simbólico como prático, de reuniões como esta. “As cidades que integram a C40 têm diminuído suas emissões cinco vezes mais rapidamente do que a média global. Os prefeitos da rede sabem que não estão sozinhos e que suas mensagens podem repercutir internacionalmente”, arremata.

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Cidade experiente: “O Rio é uma plataforma poderosa para mostrar ações locais”, diz Antha Williams, líder do programa ambiental da Bloomberg Philanthropies (Bernardo Jardim/Divulgação)

Mais da metade da população mundial atualmente habita zonas urbanas, responsáveis por 70% do consumo de energia global e pelo maior naco das emissões de gases do efeito estufa. Até 2050, quase sete em cada dez pessoas estarão concentradas em tais territórios e mais de 90% desse crescimento ocorrerá em países em desenvolvimento, como o Brasil. “Chefes de Estado e primeiros-ministros debatem inúmeros assuntos, mas são os prefeitos que lidam com enchentes, secas e incêndios. Nas cidades, as mudanças climáticas se tornam concretas”, observa Rafael Lisboa, assessor especial de estratégia e assuntos internacionais da prefeitura, ecoando a fala de António Guterres sobre o papel decisivo dos governos locais. O Rio, que há tempos vem se firmando como laboratório de soluções urbanas, é um dos 26 finalistas do Local Leaders Awards 2025, prêmio que será entregue na terça (4) durante o fórum (veja outros projetos finalistas nos quadros abaixo). O reconhecimento se deve ao protocolo de resposta ao calor extremo, iniciativa lançada em 2024, pioneira no Brasil. O modelo estabelece cinco níveis de alerta com base na combinação entre temperatura, umidade e tempo de exposição, envolvendo mais de 200 ações integradas para proteger os moradores — desde monitoramento meteorológico e inteligência epidemiológica em tempo real ao alinhamento entre órgãos públicos e parceiros privados. Foram 160 propostas inscritas, vindas de 45 países e distribuídas em seis categorias, do transporte limpo e confiável à transição energética.

A cooperação entre cidades é uma das forças motrizes da agenda climática. Ideias testadas em um território podem inspirar soluções em outro. Foi assim com o BRT, criado nos anos 1970 em Curitiba pelo ex-prefeito Jaime Lerner (1937-2021) e replicado em Bogotá, na Colômbia, no início dos anos 2000, antes de ganhar o mundo e desembarcar no Rio em 2012. “Entre os centros urbanos, tudo o que é criado se compartilha”, observa Rafael Lisboa, para quem encontros como o que o Rio vai sediar potencializam tal intercâmbio, já que metrópoles enfrentam desafios semelhantes. Na C40 de 2016, no México, a capital fluminense decidiu apostar em uma iniciativa cujas raízes foram plantadas antes na Europa: o Solário Carioca, fazenda de energia solar instalada no antigo aterro sanitário de Santa Cruz, na Zona Oeste. O projeto nasceu de uma parceria público-privada (PPP), com apoio do programa Facilidades Financeiras para Cidades, também trazido aos holofotes durante aquela cúpula. “Áreas como essa são ônus, pois a questão ambiental impede a construção de equipamentos urbanos. Por que então não cobri-la com painéis solares?”, provoca Ilan Cuperstein. A energia gerada no local será 20% mais barata que a oferecida pelo distribuidor convencional, e a expectativa é retirar pelo menos 40 000 toneladas de carbono da atmosfera a cada ano, fornecendo eletricidade a escolas e unidades de saúde. A inauguração está prevista para domingo (2).

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É para já: nas cidades, a crise climática sai do abstrato, e a capital fluminense tem vocação para sediar eventos que ditam mudanças imediatas, como a Rio 92 (foto), a Rio+20 e o U20 (Michos Tzovaras/Divulgação)

Não poderia haver palco mais simbólico para essa intensa troca de ideias do que o Rio. Foi nestas praias que, há exatos 33 anos, a Rio 92, a histórica Cúpula da Terra, semeou as bases da governança climática global. Dela emergiram compromissos como a Agenda 21, que mobilizou o planeta em torno de metas para conter o desmatamento, reduzir a poluição da água e do ar e aperfeiçoar a gestão de resíduos. Desde então, a cidade se consolidou como referência nos debates sobre sustentabilidade, reafirmando seu protagonismo em eventos como a Rio+20, em 2012, e o U20, que antecedeu o G20, no ano passado, dedicado ao desenvolvimento sustentável. Encerrando a semana de debates, o Museu do Amanhã receberá, na quarta (5), a cerimônia do Prêmio Earthshot, concebido pelo príncipe William e considerado o “Oscar da sustentabilidade”, que reconhece iniciativas inovadoras de proteção ambiental em cinco categorias (leia mais no quadro acima). Será um fecho à altura do momento e da cidade, que há três décadas fez o planeta olhar para o futuro e, mais uma vez, volta a inspirar o mundo a mudar o curso da história. Cenários primorosos: além do MAM Rio, que recebe o Fórum de Líderes Locais, o Museu do Amanhã (ao lado) irá sediar o prêmio do príncipe William

Soluções exemplares

Iniciativas locais capazes de fazer a diferença para o meio ambiente

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Trash to cashback: programa filipinio enfrenta um duplo desafio: o aumento do lixo na cidade mais populosa do país e a necessidade de meios de subsistência alternativos entre as comunidades vulneráveis (./Divulgação)
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Do lixo ao Cashback |Quezon City, Filipinas

Lançado em 2021, o programa enfrenta um duplo desafio: o aumento do lixo na cidade mais populosa do país e a necessidade de meios de subsistência alternativos entre as comunidades vulneráveis. Os moradores trocam materiais recicláveis e plásticos desca | |táveis por pontos ambientais, que podem ser usados para pagar contas ou trocados por mantimentos, beneficiando diretamente milhares de famílias.

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Cerro Navia: banco de alimentos combate o desperdício de comida e fortalece a segurança alimentar (Sharon Pittaway/Unsplash/Divulgação)

Banco de alimentos | Cerro Navia, Chile
A iniciativa combate o desperdício de comida e fortalece a segurança alimentar, resgatando produtos não comercializáveis mas adequados para consumo para distribuí-los a cozinhas locais, microbancos e famílias em situação de vulnerabilidade. A empreitada também promove consumo sustentável, culinária saudável e educação ambiental. Os produtos inadequados para consumo são compostados para uso em áreas verdes da comunidade.

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Boston: Portaria de redução e divulgação de emissões de edifícios (Jimmy Woo/Unsplash/Divulgação)
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Portaria de redução e divulgação de emissões de edifícios | Boston, Eua
O projeto americano e seu Fundo de Investimento Equitativo em Emissões exigem que grandes edifícios reportem e reduzam as emissões, com relatórios anuais desde 2022, ajudando a reduzir as emissões em nível municipal em 40% até 2050. Boston também lançou um fundo comunitário de 3,5 milhões de dólares para apoiar projetos de descarbonização em bairros desproporcionalmente afetados pela poluição.

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Respite: plano restringe a circulação de automóveis em Paris (Massimo Borchi/Divulgação)

Respire | Paris, França
Em 2018, o plano que restringe a circulação de automóveis, reimaginando o espaço público para conceder a habitantes e turistas um ar mais limpo, foi posto de pé na Cidade luz. Metas ousadas foram reforçadas por um plano de ação lançado quatro anos mais tarde. Partes fundamentais do projeto são o combate à desinformação com ciência e a mobilização pública para melhorar a qualidade do ar e transformar a mobilidade na cidade.

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Barcarena: sistema alimentar conecta políticas públicas que promovem a produção agroflorestal local e ampliam a cobertura vegetal com agricultura familiar para o fornecimento de alimentos a escolas, famílias e hospitais (instagram Prefeitura de Barcarena Oficial/Divulgação)
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Sistema alimentar de Barcarena | Pará, Brasil
Coordenado pela Secretaria Municipal de Agricultura, a ação na pequena cidade paraense conecta políticas públicas que promovem a produção agroflorestal local e ampliam a cobertura vegetal com agricultura familiar. Dessa forma, é possível fornecer alimentos para alunos, famílias e pacientes atendidos pelas redes municipais de educação, assistência social e saúde.

Em nome do rei

Pela primeira vez em solo carioca, o príncipe William vai premiar projetos com foco em regeneração ambiental

Há exatos 57 anos, a rainha Elizabeth II iniciava uma nova etapa na relação da monarquia britânica com o Brasil, numa viagem que se encerrou no Rio e incluiu visitas ao Maracanã e às obras da Ponte Rio-Niterói. De lá para cá, outros membros da família real visitaram a cidade, como o então príncipe de Gales, hoje rei Charles III, que em quatro passagens dedicou a maior parte de sua agenda a projetos sociais e ambientais — embora seja mais lembrado por ter caído no samba ao lado da passista Pinah, da Beija-Flor, em 1978, aos 29 anos. Agora é a vez de seu filho mais velho, herdeiro do trono e das preocupações ambientais, aterrissar na capital fluminense. O príncipe William traz consigo a quarta cúpula global da Royal Foundation, que criou em 2020 para impulsionar ações coordenadas, anúncios e compromissos para reparar e regenerar o planeta até 2030. Coroando o evento, a cerimônia de entrega do Prêmio Earthshot premiará com 5 milhões de libras — cerca de 36,5 milhões de reais — cinco iniciativas focadas em revitalizar os oceanos, construir um mundo sem resíduos e combater a crise climática.

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Realeza no Rio: depois de Londres, Boston e Cidade do Cabo, o príncipe de Gales escolheu o Museu do Amanhã para receber a cúpula da instituição criada por ele em 2020 (Kensington Palace/Divulgação)
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Desde a criação do prêmio, foram avaliadas mais de 5 300 soluções ambientais de 141 países. Ao longo dos últimos cinco anos, sessenta projetos foram apoiados por meio de um programa de bolsas, e 20 milhões de libras (quase 143 bilhões de reais) foram distribuídos entre os vencedores. O Rio é a primeira cidade latino-americana a sediar a cerimônia. “Buscamos levar a premiação a cidades relevantes para o mundo. Já passamos por Londres, Boston, Singapura e Cidade do Cabo, na África do Sul”, explica Felipe Villela, diretor do Prêmio Earthshot no Brasil, destacando a Floresta da Tijuca e as praias cariocas. Mas ele credita ao Museu do Amanhã, onde acontece o anúncio, boa parte do peso da decisão: “É um lugar que traduz o que queremos frisar: urgência com espírito de otimismo”. Entre as concorrentes ao troféu está a carioca re.green, que usa IA e dados de satélite para identificar áreas com maior potencial de reflorestamento. A empresa já plantou mais de 6 milhões de mudas, sendo 4,4 milhões somente em 2024, e a meta é atingir 65 milhões até 2032.

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O futuro é agora: Felipe Villela, diretor do Prêmio Earthshot no Brasil, diz que é preciso ter urgência sem perder o otimismo (Earthshot Prize/Divulgação)

A celebração, com direito a tapete verde em plena Praça Mauá, é fechada, mas será transmitida para 34 milhões de pessoas no Brasil e no Reino Unido. Estrelas como Anitta, Gilberto Gil, Seu Jorge, a cantora australiana Kylie Minogue e o músico canadense Shawn Mendes vão participar. A plateia presencial e virtual vai poder conferir o curta Meet the World’s True Action Heroes (Conheça os Verdadeiros Heróis de Ação do Mundo, em português), com narração do astro hollywoodiano Matthew McConaughey. O vídeo apresenta os quinze finalistas, exaltando suas iniciativas. Também confirmaram presença no Museu do Amanhã nomes como o ex-jogador de futebol Cafu, o alemão Sebastian Vettel, tetracampeão mundial de Fórmula 1, e a ginasta Rebeca Andrade, a maior medalhista olímpica da história do Brasil. “O príncipe está animado não só para fazer história por aqui, mas para deixar um legado, um impacto de longo prazo na região”, avisa Villela. Que venham as mudanças, porque não há tempo a perder.

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Gilberto Gil: presença confirmada no Earthshot Prize (Pridia5/Divulgação)
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