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Especialistas questionam saldo das operações das Forças Armadas

Resultado é visto como modesto diante dos milhares de agentes mobilizados e da logística envolvida

Por Agência Estado
18 ago 2017, 12h57
Forças Armadas atuam na segurança pública na praia de Copacabana (Tomaz Silva/Agência Brasil)
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Três armas, 28 kg de drogas e 28 detenções, incluindo as de dois adolescentes. O saldo das duas operações realizadas até agora no Rio dentro do Plano Nacional de Segurança Pública, que prevê parceria entre as Forças Armadas e as polícias Civil e Militar, é visto como modesto por especialistas do setor, diante dos milhares de agentes mobilizados e da logística envolvida, com carros blindados e helicópteros.

Para pesquisadores, uma das consequências pode ser o desgaste da imagem das Forças Armadas, diante da expectativa que foi criada e da continuidade do crime no Rio de Janeiro. A primeira ação de enfrentamento direto dos criminosos, chamada Onerat, aconteceu em 5 de agosto na zona norte do Rio, e a segunda, batizada de Dose Dupla, foi realizada anteontem em oito favelas de Niterói.

Três suspeitos e um PM morreram em confrontos. Para especialistas em segurança, os resultados não justificam os investimentos necessários para bancar o deslocamento e a manutenção no Rio dos agentes das Forças Armadas.

“Mais de 15 dias de operação, com um custo de pelo menos R$ 1 milhão por dia, para apreender três pistolas? Isso afeta até a credibilidade das Forças Armadas, que não foram treinadas nem têm equipamentos para ações de policiamento urbano. Dos soldados do Exército até o comandante-geral, ninguém está satisfeito em ir às ruas para fazer esse tipo de serviço”, afirma Jacqueline Muniz, professora do Departamento de Segurança Pública da UFF (Universidade Federal Fluminense).

A pesquisadora estima o custo diário da manutenção dos 8.500 agentes das Forças Armadas no Rio com base no gasto das mesmas forças de segurança no complexo de favelas da Maré, na zona norte, de abril de 2014 a junho de 2015.

“No início dessa operação, no fim de julho, havia militares com um tanque no Largo do Machado, um lugar nobre da zona sul onde a criminalidade usual é de furtos, no máximo assaltos. Se algum criminoso quisesse roubar alguém e sair correndo, de que adiantaria militares com um tanque de guerra?”, indaga.

“A credibilidade que as Forças Armadas conquistaram atuando em operações internacionais, como no Haiti, pode ser colocada em xeque em uma operação dessas. Por isso, os soldados só participam porque são obrigados”, afirma. 

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“Nas cidades, o melhor método de policiamento é aquele enfadonho, rotineiro: o policial na rua todo dia, nos lugares onde os crimes são mais frequentes. Não é esse policiamento de espetáculo, com a presença das Forças Armadas, que acontece no Rio desde a Eco-92”, afirma Jaqueline.

Sem solução mágica, diz socióloga

Para a socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do Centro de Estudos de Cidadania da Universidade Cândido Mendes, o custo da atual operação militar no Rio não justifica os resultados. “Vendem a ideia de uma falsa sensação de segurança, que logo acaba. Gastaram R$ 600 milhões na ocupação militar das favelas da Maré, outros R$ 400 milhões com a ocupação do (Complexo do) Alemão, e hoje o que vemos lá? Jovens circulando armados a qualquer hora do dia”, afirma. “Não tem solução mágica, ainda mais a custos gigantescos para um país em crise como está o Brasil.”

O sociólogo Ignacio Cano, professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio), afirma que há um lado negativo e outro positivo no resultado das operações realizadas até agora. “Por um lado, o número de prisões e apreensões é pequeno. Uma única operação da Polícia Civil do Rio apreendeu 70 fuzis e, por enquanto, não se encontrou nenhum nessas ações [das Forças Armadas]. Por outro lado, se a pressão por resultados aumentar, vai haver o acirramento do confronto, mais tiroteios e mortes. Se for para acontecer isso, é melhor ficar como está”, avalia.

O que diz o Exército?

O coronel Roberto Itamar, porta-voz do CML (Comando Militar do Leste), afirma que “operações militares são caras, mas o valor que deve ser considerado é o das vidas humanas que estão sendo defendidas, a segurança da sociedade”. 

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“Não tem como avaliar [os custos] antes, porque não se sabe quantos tiros serão disparados, que tipo de intervenção será necessária. Mas claro que é um valor alto, e um eventual contingenciamento pode sim afetar a operação”, afirmou ele.

Sobre os resultados supostamente abaixo das expectativas, o coronel afirmou que “vários ministros já afirmaram que não se deveria esperar resultados cinematográficos, de uma hora para outra”.

Itamar destaca que a operação é de longo prazo e que os resultados devem melhorar com o tempo. “Estamos em um estado democrático de direito e as forças policiais cumprem o que a Justiça manda. Ninguém entra nas comunidades quebrando tudo. Se a ordem é para busca em um imóvel e a pessoa procurada foge para a casa vizinha, já não dá para [a força de segurança] entrar.” Segundo ele, na primeira operação para cumprimento de mandados de prisão, o sucesso foi de aproximadamente 50%. Na segunda, “o resultado melhor”.

O porta-voz considera improvável que tenha ocorrido vazamento de informações, permitindo a fuga de criminosos. “Se houve troca de tiros quando os agentes chegaram aos locais é porque os criminosos foram surpreendidos. Se foram surpreendidos, não houve vazamento. É impossível garantir, mas todos os indícios são de que isso não ocorreu.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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