Ney Matogrosso, Mestre Ciça e Heitor dos Prazeres: os temas de enredo do Carnaval 2026
Nossos ídolos ainda são os mesmos; escolas de samba vão investir em figuras emblemáticas da cultura nacional para emocionar o público no próximo Carnaval

Sob chuva de notas 10, a Beija-Flor sagrou-se campeã do Carnaval em março de 2025, reafirmando a força do tributo a Laíla (1943-2021), figura icônica que por décadas esteve à frente da escola. O desfile arrepiou a Sapucaí — e até mesmo quem assistiu pela TV pôde notar a emoção dos integrantes da Azul e Branco de Nilópolis ao celebrar a trajetória de um personagem tão familiar. A nove meses da próxima festa de Momo, as agremiações do Grupo Especial começam a divulgar os enredos, movimentando as quadras. Seguindo a fórmula de sucesso levada à Avenida por Nilópolis, a Viradouro, que terminou em quarto lugar neste ano, vai exaltar Moacyr da Silva Pinto, o Mestre Ciça. Durante o anúncio, que aconteceu no início do mês, o lendário comandante da bateria da Vermelha e Branca, que completa 70 anos no ano do desfile, não escondeu a emoção. A consagração de um integrante em plena atividade é inédita. “Ao vestir a fantasia, o componente passa a vestir a alma da agremiação. E, se ele se identifica com a história que está contando, o resultado é mágico”, avalia o carnavalesco Tarcísio Zanon, da agremiação de Niterói.
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Se em 2025 a cultura afro e suas influências na sociedade brasileira dominaram as narrativas na Avenida, em 2026 boa parte dos enredos vão se debruçar sobre personalidades. Após trocar Paulo Barros pela dupla Gabriel Haddad e Leonardo Bora, campeões com a Grande Rio em 2022, a Vila Isabel voltará às origens da folia, laureando Heitor dos Prazeres (1898-1966). Cantor, compositor e pintor, o artista carioca participou da fundação das primeiras escolas de samba do país. Seu pioneirismo será celebrado com a grandiosidade que lhe é devida pela Azul e Branco de Noel. A Imperatriz levará à Sapucaí a vida e a obra de Ney Matogrosso, que segue hiperativo aos 83 anos e acaba de ganhar uma cinebiografia. Cofube ao tricampeão Leandro Vieira desenvolver o tema, que considera um prato cheio de cultura. “É impossível observar a trajetória desse artista e não enxergar um material de altíssimo nível”, define o carnavalesco da Rainha de Ramos.

A Mocidade ainda não anunciou o enredo, mas a expectativa é altíssima para que no dia 22, data da divulgação oficial na quadra, saia uma homenagem a Rita Lee. A provável escolha de Renato Lage promete desembocar num desfile marcado pela inovação, com toques futuristas que dialogam com o legado criativo da cantora, falecida em 2023. Peça-chave para o desempenho das agremiações, os carnavalescos são mestres em identificar os sentimentos que vibram nos corações dos componentes, transformando emoção em tramas esplendorosas que, por sua vez, podem arrancar lágrimas durante a passagem pela Sapucaí. E mais uma vez, as escolas confirmam o que o tempo não apaga: os ídolos da cultura brasileira — vindos do passado, pulsando no presente ou nascidos no calor dos barracões — ainda são os mesmos. Que venham os ensaios e as feijoadas. No Rio de Janeiro, a magia das escolas de samba está permanentemente viva.
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Confira os enredos já definidos para 2026:

Imperatriz Leopoldinense
Com Camaleônico, a escola de Ramos vai celebrar a vida e a obra de Ney Matogrosso.
Vila Isabel
A agremiação da Zona Norte promete colorir a Avenida com a homenagem ao pintor e músico Heitor dos Prazeres.
Beija-Flor
A atual campeã se debruçará sobre Bembé do Mercado, candomblé de rua do Recôncavo Baiano.
Paraíso do Tuiuti
A escola de São Cristóvão levará à Passarela do Samba Lonã Ifá Lukum, vertente religiosa afro-cubana.

Viradouro
Com o tributo a Mestre Ciça, será a primeira a exaltar um integrante de escola de samba em plena atividade.