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Dira Paes: “Arte é um ato político, temos que ter responsabilidade civil”

Atriz pode ser vista nos cinemas no filme Veneza, de Miguel Falabella. "Sabemos que não é o momento ideal, mas é preciso arriscar", desabafa

Por Marcela Capobianco
Atualizado em 18 jun 2021, 15h54 - Publicado em 18 jun 2021, 06h00
Dira Paes, sorrindo de boca fechada, olhando para a câmera
Dira Paes: preparando as malas para o Mato Grosso do Sul, onde vai gravar a nova versão de Pantanal, atriz falou sobre ativismo, resistência cultural e família a VEJA Rio (Reprodução/Instagram)
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Preparando-se para longa temporada em Mato Grosso do Sul, onde vai gravar a novela Pantanal, Dira Paes compõe o time de famosos que não têm receio de se posicionar politicamente. Ela participou das manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro, em maio, e sabe que sua voz reverbera. “Ser artista é um ato político e, por isso, é preciso ter responsabilidade social e civil”, prega a paraense de Abaetetuba, que pode ser vista nos cinemas no longa Veneza, de Miguel Falabella.

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Aos 52 anos, com 36 de carreira e mais de quarenta filmes no currículo, um dos grandes nomes do cinema nacional encarna agora Rita, uma prostituta que embarca em viagem à romântica cidade italiana para realizar o último sonho da dona do bordel, interpretada pela diva espanhola Carmen Maura.

Em entrevista por telefone a VEJA RIO, de sua casa no Itanhangá, Dira falou sobre resistência cultural e a esperança em dias melhores para a cultura. “Sabemos que não é o momento ideal para lançar um filme, mas temos de arriscar. O artista precisa de um pouco de utopia”, acredita.

Miguel Falabella disse que Veneza é um “filme de resistência”. Concorda? Sim. É uma história poética, sobre uma mulher em seus últimos dias de vida, entregue ao desejo de reencontrar um antigo amor. Nesse período tão difícil em que vivemos, poder reafirmar a arte, numa produção grandiosa como essa, é, sim, marcar uma posição de resistência.

Sentiu-se inibida de contracenar com a espanhola Carmen Maura? No início, sim. Ela já ganhou quase todos os prêmios que existem, é uma das maiores atrizes do mundo. Um furacão. Vai de zero a 300 quilômetros por hora. A gente tem de correr para acompanhá-la.

Qual é a expectativa em torno do lançamento de um filme em meio à desaceleração da cultura no Brasil? Sabemos que não é o momento ideal, pouca gente tem ido ao cinema, mas é preciso tentar saídas, arriscar. O artista necessita de um pouco de utopia para viver.

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Artistas têm sido cobrados para se manifestar sobre pautas sociais e políticas. Em sua opinião, é um dever da classe? Ser artista é um ato político. Tudo o que falamos reverbera e é preciso ter responsabilidade social e civil. Ao mesmo tempo, tem a questão da liberdade individual, que precisa ser respeitada. Dito isso, considero que abster-se de um posicionamento diante de quase 500 000 famílias que perderam entes queridos na pandemia é grave.

O que achou do polêmico vídeo em que Juliana Paes defendeu a médica Nise Yamagushi? Juliana é uma atriz responsável e exerceu a liberdade de se dirigir aos seguidores dela. O vídeo, claro, representa um olhar pessoal. Alguns se identificam, outros não.

Já perdeu contratos ou papéis ao expor suas opiniões? Nunca. Desde a adolescência eu me coloco primeiro como cidadã, depois como atriz. As marcas e o público já me conhecem dessa forma. Não preciso provar nada para ninguém.

“Tudo o que falamos reverbera e é preciso ter responsabilidade social e civil. Diante de quase 500 000 mortes, abster-se é grave”

Você foi vacinada contra a Covid-19 em maio. Precisou lidar com os fiscais das comorbidades nas redes sociais? Confesso que nem li todos os comentários da foto que postei. Sou asmática desde os 22 anos, não posso ficar sem o remédio. No fim de julho, tomo a segunda dose e talvez fique um pouco aliviada. O Brasil deu um péssimo exemplo na pandemia. Sempre fomos referência em imunização e, agora, viramos piada mundial.

Como lidou com as limitações impostas pelo novo coronavírus? Foi um momento de me dedicar totalmente aos meus filhos. E, claro, prestar atenção ao cotidiano da casa, cozinhar, botar roupa para lavar. Acho que cuidar foi o verbo mais importante para mim neste período.

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Enquanto diretora da ONG Movimento Direitos Humanos, de que forma viu o aumento de casos de agressão doméstica durante o isolamento social? Acho que esse momento serviu para termos noção de algo que na verdade sempre aconteceu. E isso é inaceitável. Eu espero que as pessoas tenham entendido de uma vez por todas que é preciso, sim, se meter em briga de marido e mulher. Não podemos ser coniventes, temos de falar.

Em 2020, você e Manoela Aliperti chamaram atenção com um beijo na série As Five, do Globoplay, que provocou uma explosão de comentários nas redes. Esperava essa reação? Fiquei orgulhosa por conseguir impactar a nova geração. Esse público mais jovem é muito bem informado sobre questões sociais. Meu filho de 13 anos me ensina sobre aceitação e superação de preconceitos. O que para a minha geração foi complicado de entender, para eles é natural.

Tem vontade de explorar mais as plataformas de streaming? É um mercado que cresce rápido no Brasil, porque temos qualidade de produção e uma população acostumada a ver TV. Sou contratada da Rede Globo e estou feliz por lá, mas sem dúvida essa proliferação de plataformas é um incentivo a mais para os atores, que ganham opções interessantes de trabalho.

Sente-se representada pelo atual secretário especial de Cultura, Mário Frias? Prefiro não falar especificamente dele. Agora, essa marginalização da classe artística por quem está no governo é fantasiosa, irreal, e eles sabem disso. Quem está no poder não está interessado no saber. Toda essa desinformação é passageira. É impossível que o cinema brasileiro sobreviva fazendo só filmes sobre a Bíblia. Os verdadeiros artistas não conseguem conviver com fronteiras para a criatividade.

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