Coronavirus: Rio tem mais de 2000 leitos de hospital vazios, você sabia?
Sanitarista e ex-secretário de Saúde do município, Daniel Soranz diz que alas inteiras estão prontas e inoperantes porque 6 mil médicos foram demitidos
O Rio está à beira do colapso no sistema de saúde por um erro de estratégia do prefeito Marcelo Crivella. Quem garante é o sanitarista da Fiocruz e ex-secretário de Saúde do município, Daniel Soranz. Segundo o médico, a decisão de montar hospitais de campanha não poderia ter sido mais equivocada, já que atualmente há 1705 leitos prontinhos para receber a população nos hospitais públicos da cidade, mas impedidos de funcionar por falta de profissionais. Isso sem falar nos outros 999 leitos também em condições de atender pacientes, atualmente fora de uso por causa da suspensão de cirurgias eletivas. “Só no Ronaldo Gazolla, em Acari, há 150 leitos inativos. A prefeitura sabe disso mas prefere investir nos hospitais de campanha”, afirma Daniel. Ele conversou com VEJA RIO.
‘É preciso enrijecer as regras de afastamento físico’, diz infectologista
Diariamente nós vemos na TV cenas fortes, de doentes agonizando na porta e nos corredores dos hospitais públicos da cidade. Eles estão com 90% de seus leitos de UTI ocupados e não dão conta da demanda mesmo nos casos menos graves. Se há tantos leitos vazios, o que acontece? De dezembro de 2016 a fevereiro de 2020, seis mil profissionais da saúde do município foram demitidos. Por falta de recursos humanos, 1705 leitos na rede pública não podem ser usados. Leitos no Souza Aguiar, no Miguel Couto, no Albert Schweitzer, por exemplo, foram reformados e reestruturados para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Estão novinhos, mas foram fechados em 2017. Se readmitisse estes profissionais e os colocasse para trabalhar em estruturas já existentes, nossa situação estaria muito melhor.
Coronavírus: pressionado, Witzel tem 48h para decidir sobre lockdown
O prefeito Marcelo Crivella está a par desta quantidade de leitos prontos e inoperantes na cidade? Claro que sim.
E tem ideia do motivo de ele optar por não utilizá-los? Parece ser a opção mais sensata em tempos de pandemia e de um sistema de saúde saturado, não? Realmente é difícil compreender, e isso está gerando uma revolta muito grande nos funcionários da rede municipal de saúde. Eles questionam por que montar hospitais de campanha, que inclusive têm um desempenho clínico muito pior do que os hospitais já constituídos, se há muitos leitos vagos onde eles trabalham. Tecnicamente, não há nada que justifique a construção destes lugares, a toque de caixa. O INTO, por exemplo, está com taxa de ocupação baixa e é o hospital mais bem equipado da cidade, muito melhor que o Copa Star. Só lá são cerca de 200 leitos vazios. Hoje em dia temos 1200 pessoas na fila por um leito na cidade, e 361 à espera de UTI. Deixar duzentos leitos de primeira linha vazios em um hospital durante uma pandemia é inaceitável. Bastava uma decisão de governo de investir no recurso humano o que foi investido para montar essas estruturas temporárias.
‘É preciso enrijecer as regras de afastamento físico’, diz infectologista
Nota da redação: A cidade do Rio, segundo levantamento divulgado pela prefeitura às 18h desta sexta (8), tem agora 9672 casos confirmados de coronavírus, 621 a mais do que no dia anterior. O número de mortos passou a casa dos 1000. São 1002 óbitos no total, 83 deles confirmados nas últimas 24 horas.
Para assinar Veja Rio clique aqui