Um dos prédios mais antigos do Rio, Convento do Carmo vai reabrir como centro cultural
Reforma na edificação do século XVII revela tesouros arqueológicos da época da chegada da família real portuguesa ao Brasil
Um dos prédios mais antigos do Rio de Janeiro, o Convento do Carmo (1620), na Praça XV, vai virar um centro cultural. Construída por frades carmelitas, a edificação viu a cidade crescer, mas estava abandonada há décadas quando foi iniciada a reforma que abre espaço também para um restaurante, uma biblioteca e salas de aula. O investimento, de quase R$ 30 milhões, é da Procuradoria-Geral do Estado (PGE).
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“Em 2017, a PGE teve a ideia de recuperar o imóvel com seus recursos próprios. E agora a gente está tendo este momento feliz de devolvê-lo à sociedade do Rio de Janeiro. Nenhum centavo sequer do orçamento do Poder Executivo foi destinado para esta obra”, disse ao Jornal Nacional desta segunda-feira (20) Bruno Dubeux, procurador-geral do Estado do Rio de Janeiro.
A primeira exposição, no ano que vem, vai mostrar tesouros arqueológicos da época da chegada da família real portuguesa ao Brasil garimpados durante as obras. São louças inglesas, francesas, garrafas de vinho, talheres de prata encontrados ao lado de cachimbos, búzios e fragmentos de cerâmica.
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“E o que eu acho muito interessante nesse sítio é que ele te remete a esse universo diverso, não é um universo binário entre a realeza e os escravizados, você tem uma massa de pessoas de classes outras que estão convivendo nesse espaço e deixando igualmente seus remanescentes”, destacou ao JN a arqueóloga Jeane Cordeiro.
O prédio em si já é um marco arqueológico, com paredes de pedras coladas com óleo de baleia, grades antigas e a estrutura reforçada por vigas de madeira, prova do medo que os colonizadores tinham de viver no Brasil a tragédia dos terremotos que sacudiram Portugal. A reforma revelou decorações nas paredes e a pintura imitando madeira. Mudanças feitas no início do século XIX, quando a corte de Portugal veio para o Rio. Antigos corredores ligando o convento ao Paço Imperial e à capela real estão registrados em fotos.
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Os frades deixaram o convento para uma moradora ilustre: Dona Maria, a primeira mulher a governar o império português. Vítima de depressão profunda, após várias perdas na família em uma epidemia de varíola, a rainha tinha acessos de loucura. Vivia entre paredes, circulando apenas em passagens que não existem mais. Quem passava na rua ouvia os gritos de Dona Maria, segundo relatos da época. O único aposento de uma rainha europeia nas Américas foi restaurado, após um trabalho que buscou e recuperou o piso, a cor e as pinturas originais. No local, Dona Maria passou os últimos oito anos da sua vida, até morrer, em março de 1816, aos 81 anos de idade.