Marcos Gladstone estava noivo de uma mulher, mas em 1999, após uma viagem a São Francisco, nos Estados Unidos, tudo mudou. Primeiramente, ele assumiu sua orientação sexual. E, a partir daquele momento, tentou trazer para o Brasil a Metropolitan Comunity Church, denominação americana, protestante, conhecida por congregar homossexuais. Não conseguiu. Por isso, fundou, ele próprio, em 2006, a Igreja Cristã Contemporânea, de proposta inclusiva. Deu certo — afinal, como diz a gíria do universo gay, “Deus é mara” (de “maravilhoso”). Tanto é assim que, na segunda (7), foi aberta a sexta sede da ICC na cidade, uma catedral em Madureira onde cabem cerca de 800 pessoas. A congregação já conta, ao todo, com 3 000 fiéis.
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O templo funciona no prédio do antigo Cine Bristol. A reforma foi completa, mas a nova igreja demorou a ficar pronta. Entre os fatores que dificultaram a conclusão da obra, há um de viés preconceituoso: ao saberem que se tratava de denominação simpatizante de gays e lésbicas, os técnicos que instalariam o sistema de ar condicionado, evangélicos ligados a outra congregação, deram no pé. Daí que, na inauguração da casa, os três ventiladores montados às pressas não foram suficientes, e a multidão inteira se abanava.
Nos cultos da ICC, homens de terno dividem espaço com transexuais de vestido extravagante. Como é comum em celebrações pentecostais, há quem fique aos pulos, há quem desmaie (confira vídeos em vejario.com.br). Nesta semana, durante um sermão sobre o mar de provações que os fiéis devem atravessar, o pastor Marcos, casado com o colega Fabio Inacio, pai de dois filhos adotivos, caminhou sobre as poltronas do auditório. Pouco depois, informou que cada uma delas havia custado 200 reais e pediu a ajuda dos presentes para quitar a dívida, distribuindo envelopes para receber contribuições. A luta deles é realmente grande: no fim de 2014, uma bomba foi jogada numa das sedes da ICC. O local estava vazio e ninguém se feriu. Estudos de grupos ligados à causa gay mostram que as mortes causadas por homofobia aumentaram 4% no ano passado em relação a 2013. Na Região Sudeste, o Estado do Rio responde por 22% das ocorrências.