Comemoração-ostentação: festas de 15 voltam com à moda com opulência
Consideradas cafonas após um período de auge, os bailes de debutante têm decorações superlativas e line-ups dignos de Rock in Rio
Début: o verbo francês cunhado em 1830 significa ‘aparecer em público pela primeira vez’. Os bailes de debutante, no entanto, surgiram bem antes disso, na Europa Antiga, e a tradição ganhou força na corte britânica no século XVIII, com cerimônias suntuosas. O objetivo era arranjar pretendentes para as moçoilas. Por aqui, há registros de celebrações no Copacabana Palace a partir de 1944, que viraram febre com o passar das décadas, até começarem a ser substituídas por viagens — geralmente para a Disney. Corta para 2025: vídeos de festas de 15 anos atingem milhões de visualizações no TikTok e no Instagram.
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Sim, elas estão de volta, e turbinadas. “São megaeventos, com trezentos convidados no mínimo e shows de artistas que já cantaram no Rock in Rio. O MC Cabelinho e TZ da Coronel são disputados”, conta Rodrigo Lasmar, CEO do EXC Rio, no Jockey, que caiu nas graças das adolescentes. O cachê dos músicos pode chegar a 80 000 reais. O EXC foi um dos requisitos de Manuella Ganem, que debutou em junho, com show do rapper Caio Luccas, que acumula cinco milhões de ouvintes no Spotify. “Ofereci outras opções de local, mas Manu não quis. Outro pedido dela foi o Daniel Cruz”, diz a engenheira química Daniella Ganem, mãe da menina, sobre o decorador carioca referência em superproduções. O trabalho dele parte de 150 000 reais. “Foi o melhor dia da minha vida, tudo estava exatamente da forma que pensei”, afirma Manu.
Uma celebração com pompa e circunstância, que em 2010 saía por 200 000 reais no Copacabana Palace, hoje chega a custar chocantes 1,5 milhão de reais. Esse é o valor de uma que os cerimonialistas Pati Teixeira, Naldo Turl e Thais Carvalho estão produzindo para o segundo semestre do ano que vem no Museu de Arte Moderna. “Antigamente, o ápice da noite era a valsa e a chegada do príncipe, representado por atores como Cláudio Heinrich e Thierry Figueira. E tudo acabava mais cedo. Agora, as festas duram entre 6 e 7 horas”, compara Pati. Se antes a aniversariante trocava de roupa para dançar a valsa, agora ela desfila com três looks: um vestido curto para receber os convidados, um longo para bailar com os pais e um mais ousado para se jogar na pista com os amigos. Os pares de chinelos – ou sapatilhas – seguem sendo distribuídos para quem não aguenta mais o salto e algumas convidadas podem ter ao alcance dos pés um spa para massagens rápidas. Outra novidade é uma sala de retoque de maquiagem. Bebidas alcoólicas só são servidas aos adultos, enquanto os teens têm um bar de mocktails, drinques sem álcool, à disposição. Em média, o custo é de 70 reais por pessoa. No bufê, não pode faltar uma estação de fast-food gourmetizada. “As debutantes fazem questão de batata frita com lascas de trufa e flor de sal”, aponta Jordana Mendonça, fundadora do bufê Pimenta Rosa, que costuma cobrar 500 reais por convidado.
Ao notar que esse tipo de celebração voltou com tudo, inundando as redes sociais de hashtags, o canal Gloob, dedicado ao público infantojuvenil, resolveu criar o Partiu XV, disponível no Globoplay. No reality show apresentado por Luluca, criadora de conteúdo com mais de sete milhões de seguidores no Instagram, treze meninas disputam a festa dos sonhos. “Trata-se de um universo viral. Tudo que é postado gera desejo”, observa Flavia Costa, gerente de conteúdo infantil e filmes do canal. “Na minha época, esse tipo de comemoração estava começando a ficar cafona. Mas a moda é cíclica, como uma saia balonê, que voltou a fazer sucesso”, avalia a escritora Thalita Rebouças, 51, uma das juradas da competição. “Vivemos a lógica da visibilidade no digital. Nada pode ser sutil, porque, senão, não viraliza”, pondera Bianca Dramali, professora de pesquisa e comportamento do consumidor da ESPM.
Professora do Instituto de Psicologia da Uerj, Edna Ponciano observa que, no passado, a festa mais bem-sucedida era a da menina que arranjava o melhor casamento e que, nos dias atuais, ganha a que repercute mais. “A adolescência é uma época de muita preocupação com a aparência. Então, a busca é por estar o mais encaixada possível num padrão tido como belo”, arremata. É um momento para ver, ser visto e postado.
Lista de exigências
O que não pode faltar numa celebração
Valsa
Troca de roupa
Telão com projeção em
alta definição
Bufê com fast-food gourmet
Drinques sem álcool
Decoração com muitas
flores e velas
Atração musical de peso
Penetras
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