Carlos Alberto de Barros Franco explica os riscos do cigarro eletrônico
Na coluna Letra de médico, o pneumologista e membro da Academia Nacional de Medicina fala por que a versão pode ser pior do que o convencional
Na era da informação, é de pleno conhecimento de todos os malefícios do cigarro. Eles vão desde a perda de vitalidade da pele e diminuição da potência sexual até o infarto cerebral, do coração e câncer de vários órgãos. Tais constatações fizeram com que o número de fumantes no Brasil diminuísse de 20% para 7% nos últimos anos. Diante desse cenário, a indústria logo criou uma estratégia para lançar uma versão mais “moderninha”, que, à primeira vista, pode lembrar um brinquedo inofensivo.
O cigarro eletrônico vem sendo divulgado pelas companhias produtoras como a salvação da lavoura para aqueles que desejam parar de fumar. Trata-se de uma enganação, uma propaganda mentirosa e interesseira. Na verdade, o objetivo real é aumentar o número de jovens dependentes da nicotina, já que, como se sabe, é a droga que causa maior dependência química e, portanto, a mais difícil de ser abandonada depois. Ao acharem que a versão eletrônica não oferece riscos — e ainda é uma inovação —, os jovens começam a experimentá-la e aí se desencadeia um novo vício.
Uma vez viciados, esses jovens precisarão “alimentar” sua dependência e passarão a fumar. No fim das contas, esse é o principal interesse da indústria: manter a vida útil do cigarro como fonte de renda. Vale lembrar que o nível de nicotina inalado em alguns dispositivos eletrônicos ultrapassa em muito o contido em um maço de cigarro comum e que as substâncias são mais voláteis, aumentando sua absorção. Ou seja, nesse caso, o potencial de dependência torna-se superior ao do cigarro convencional.
Recentemente surgiram nos Estados Unidos vários casos de doença pulmonar grave (evali) que levam à internação dos jovens e, em muitos casos, à morte. O que havia em comum entre eles? O uso do cigarro eletrônico. Ficou comprovado que tal doença era causada por inalação de substâncias existentes no e-cigarrette, como o acetato de vitamina E, um óleo utilizado na diluição de THC (tetra-hidrocanabinol, não por acaso o princípio ativo contido na maconha).
Grosso modo, seu quadro se assemelha ao de uma pneumonia viral, e todos os serviços de emergência devem perguntar a pacientes com quadros parecidos se são usuários de cigarro eletrônico. Já são 2 807 casos da doença nos EUA, e agora ela espraiou-se mundo afora. No Brasil, foram identificados pelo menos três casos. O Ministério da Saúde proibiu a comercialização desse tipo de cigarro no Brasil, mas ainda há muito que fazer para conscientizar a população jovem. Afinal, de inofensivo o “brinquedinho eletrônico” não tem nada.
Carlos Alberto de Barros Franco é pneumologista e membro da Academia Nacional de Medicina