Pedalar é a solução
Cariocas despertam para a importância de discutir a questão da mobilidade urbana e começam a adotar a bicicleta como meio de transporte
Engarrafamento, horas procurando por uma vaga para estacionar o carro, falta de tempo para fazer exercício físico. A lista de reclamações de quem mora em uma cidade grande, como o Rio, pode ser grande. Mas, em vez de ficar parada no trânsito de braços cruzados, uma turma resolveu arregaçar as mangas, colocar um capacete e fazer da bicicleta o seu principal meio de transporte. E quer levar mais gente a fazer essa mudança.
Há 10 anos, José Lobo era um ciclista urbano engajado, em busca de mais apoio ? e condições – para continuar deixando o carro na garagem. Ao perceber que, sozinho, não teria muita chance, resolveu criar a Transporte Ativo (www.ta.org.br), uma organização que busca dialogar com sociedade, governo e empresas, em busca de maior mobilidade. ?Nossa intenção é facilitar o uso da bicicleta como meio de transporte, mostrando aos cidadãos que esta é uma solução muito vantajosa para grandes centros urbanos?, explica.
Segundo José, o contexto que o Rio vive, se preparando para grandes eventos, é positivo. ?Pela primeira vez, temos um cenário no qual a sociedade criou uma demanda por maior mobilidade e passa a cobrar, a prefeitura optou por impulsionar o movimento e as empresas privadas também apoiam?, comemora. O que falta para a ideia pegar de vez? ?Cada um fazer a sua parte, sem ficar esperando pelo governo. Mas, em vez de buscarmos por soluções individualmente, precisamos nos unir para ter mais voz. À medida que a demanda for crescendo, a pressão fica maior e acabamos sendo atendidos?, declara.
A estratégia da Associação ? e de muitas outras iniciativas que buscam melhorar a mobilidade na cidade ?parece estar funcionando. Nos últimos quatro anos, a malha cicloviária passou de 150 km de lazer para os atuais 305 km, com previsão de 450 km até 2016, distribuídos em todas as regiões do Rio. Já é possível que o ciclista saia de casa pedalando, ou alugue uma bicicleta, estacione em um dos bicicletários disponíveis nos BRT’S, Metrô, rodoviárias, trens e barcas, e siga o seu trajeto em um transporte coletivo, evitando assim o uso do carro.
A carioca Maria Luiza Guia, 39, morava na Barra da Tijuca e não saía de casa sem o carro. Até se mudar para a Holanda, onde viveu por cinco anos. A partir de então, a bicicleta ? principal meio de transporte do país – passou a ser uma companheira inseparável. ?Percebi como nos limitamos com essa necessidade de estar sempre motorizados. Às vezes eu ia até a padaria e nem percebia que uma bicicleta seria o meio de transporte ideal: desafoga o trânsito, não me deixa presa em engarrafamentos nem dá trabalho para estacionar, e ainda faz bem à minha saúde?, diz. Na família de Malu, todo mudo tem bicicleta: ela, marido e os dois filhos, de seis e nove anos.
Para deixar a vida mais fácil
Muitos cariocas estão cheios de ideias para transformar a cidade em um lugar melhor para viver. Alguns tentam colocá-las em prática, como foi o caso de Marcos Ferreira, da mobContent, criador do projeto Bike Lovers ? que envolve uma série de TV, um documentário e um aplicativo mobile – em parceria com Michelle Chevrand. ?A inspiração veio da Michelle que, insatisfeita com os frequentes assaltos a ciclistas no Túnel Novo, participou de uma manifestação em que foram aplicados stêncils avisando que lá era uma área perigosa. Como os avisos eram sempre retirados, decidimos criar uma ferramenta virtual para mapear pontos de interesse dos ciclistas?, esclarece.
Batizado de Itinere (https://benfeitoria.com/itinere), o app, desenvolvido para o sistema IOs, vai ser lançado em outubro e pretende criar um grande mapa colaborativo cicloviário com os pontos de interesse dos ciclistas – bons (como oficinas) e ruins (como lugares perigosos) – e mapear onde os ciclistas mais passam, para orientar o governo a instalar ou melhorar a infraestrutura nestes locais. ?O Rio é uma cidade muito propícia para o uso da bicicleta como meio de transporte. Basicamente plana na sua área urbana, integrada à natureza e com clima favorável na maior parte do tempo. Os obstáculos são muito mais da cultura automotiva que da cidade em si?, lamenta.
Outros aplicativos interessantes para quem anda de bicicleta no Rio:
Ciclovia Rio (IOs)
Desenvolvido em parceria com a Transporte Ativo, usando o banco de dados do Mapa Colaborativo do Rio de Janeiro. Descubra onde há bicicletários, oficinas, bombas de ar, bicicletas públicas, além de rotas de ciclovias e ciclo faixas na cidade.
https://itunes.apple.com/br/app/cicloviario/id610220648?mt=8
Rio de bicicleta (Android)
Reúne diversas informações úteis para o ciclista na cidade do Rio de Janeiro, como localização das ciclovias, bicicletários, chuveiros, pontos de aluguel e oficinas.
https://play.google.com/store/apps/details?id=serrao.rio.de.bike
Comece a pedalar
Quer contribuir para melhorar o trânsito na cidade, sua qualidade de vida e ainda ficar com a saúde em dia? Comece a pedalar! José Lobo, do Transporte Urbano, dá algumas dicas para os iniciantes. Outras, você encontra no Manual ?De bicicleta para o trabalho? ? LINK https://www.ta.org.br/Educativos/DOCS/De_bicicleta_para_o_trabalho.pdf:
? Comece aos poucos, utilizando a bicicleta em viagens mais curtas, perto de casa, para ganhar intimidade com o meio de transporte;
? Use o equipamento completo, para sua segurança: capacete, luvas, instale olhos de gato ou luzes traseiras e dianteiras e invista em trancas de qualidade;
? Não pense na bicicleta apenas como lazer: ela pode ? e deve ? ser encarada como um meio de transporte e não precisa ser usada apenas para ir ao trabalho. Utilize-a dentro do bairro para ir à padaria, mercado, encontrar os amigos, ir até uma estação de metrô ou trem;
? Procure outros ciclistas ou compartilhe suas experiências com os amigos. Dessa forma, um vai motivar o outro.
Links relacionados
https://www.escoladebicicleta.com.br/
https://www.bikebrasil.com.br/