Carioca nota 10: Raff Giglio
O instrutor de boxe Raff Giglio tem uma academia que fornece bolsa integral a jovens moradores do Vidigal
Ao voltar dos Jogos de Londres com uma medalha de prata, no ano passado, o boxeador Esquiva Falcão teve como prioridade ir à favela do Vidigal. Primeiro brasileiro a participar de uma final olímpica da modalidade, ele fez questão de agradecer a seu antigo treinador, o carioca Raff Giglio. Foi na academia dele, então instalada na subida do morro, que o atleta capixaba pôde desenvolver seu talento para o ringue. Aberta há vinte anos e de início voltada para alunos de classe média, a unidade aos poucos passou a atender também os moradores da favela. “Os garotos ficavam na porta, olhando os outros treinar”, lembra o professor, que, sensibilizado, começou a oferecer bolsas integrais a quem não podia arcar com a mensalidade. Para bancar o projeto, Giglio teve de se desdobrar entre as aulas no Vidigal e três outros empregos. A extenuante rotina se estendeu até 2007, quando obteve patrocínio e pôde, enfim, se dedicar à iniciativa em tempo integral. “Era a realização de um sonho”, diz ele, que aproveitou para fundar o Instituto Todos na Luta.
O financiamento permitiu que fossem oferecidas 100 bolsas integrais, além da contratação de uma equipe de apoio e do fornecimento de cesta básica e auxílio financeiro aos aprendizes. No entanto, o patrocínio expirou em 2012. Para complicar, o ano também foi marcado pela especulação imobiliária naquela área, que o obrigou a entregar o ponto. Desde então, as turmas foram reduzidas à metade e as aulas têm sido realizadas de improviso na associação de moradores. Em busca de um novo espaço para seu centro de treinamento, o professor encontrou um degradado galpão no alto do Vidigal, que passa por uma reforma de 30?000 reais ? bancada por doadores ?, com previsão de término em janeiro. Já o aluguel, de 1?500 reais, vem sendo pago pelo ator Malvino Salvador, um ex-pupilo. Giglio briga agora para obter um novo patrocínio, que viabilize o incremento do projeto. “Mesmo com as dificuldades, conseguimos manter uma equipe de alto rendimento”, afirma ele, que chegou a lutar profissionalmente nos anos 90. “É uma satisfação sem tamanho saber que você salvou uma vida pelo esporte.”
“É uma satisfação sem tamanho saber que você salvou uma vida pelo esporte”