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Capela do Museu da Cidade pode voltar a celebrar missas

Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, manifestou-se a favor da ressacralização da igrejinha, o que vem gerando confusão

Por Rafael Sento Sé
22 jan 2018, 14h17
 (Felipe Fittipaldi/Veja Rio)
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Na parte já concluída das obras de restauração do conjunto do Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro, a pequena Capela de São João Batista, construção do início do século XX, com capacidade para pouco mais de vinte pessoas, recuperou sua graça original em 2016. Após uma visita, o próprio cardeal Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, manifestou-se a favor da ressacralização da igrejinha — ou seja, a devolução do caráter sagrado ao espaço, o que autorizaria a volta da realização, por lá, de cerimônias religiosas, como missas, batizados e casamentos. Curiosamente, esse processo de reabilitação divina estacionou na Cúria, sem previsão de desfecho. Quem acompanha o caso de perto atribui a morosidade a pelo menos um pecado capital: a inveja. O retorno das bênçãos católicas ao templo no alto do Parque da Cidade teria incomodado, entre outros, os responsáveis pela Capela de Santa Ignez, também na Gávea, vizinha a pouco mais de 1 quilômetro de distância e muito procurada para a celebração de casórios na Zona Sul.
Pároco da região, o padre Lincoln de Almeida Gonçalves beira o voto de silêncio quando é consultado sobre o assunto. Diz estar aguardando instruções superiores, mas observa que já há um bom número de casas de Deus sob sua jurisdição. “Nunca fui àqueles lados, não conheço a Capela de São João Batista. A Gávea é talvez o bairro da cidade com a maior oferta de locais para missas por habitante”, conta o religioso, antes de listar, além da Santa Ignez, duas capelas no câmpus da PUC, o Convento das Clarissas, a Congregação das Servas de Maria e um espaço emprestado pela comunidade local no próprio Parque da Cidade. Interlocutores na Arquidiocese admitem que, passado um ano e meio, os trâmites para a ressacralização deveriam ter caminhado mais depressa. Dom Orani e a prefeitura, dona do imóvel, avalizam a mudança. “A realização de missas na capela, como acontecia no passado, vai contribuir para a revitalização do complexo, que ainda ganhará reserva técnica e vai estar completamente restaurado no início do segundo semestre”, opina Luciana Mota, diretora do Museu Histórico da Cidade.
Um incidente mundano ocorrido em 1972 mudou a rotina na São João Batista. Naquele ano, a Associação de Amigos do Museu da Cidade encomendou ao artista baiano Carlos Bastos a pintura de um afresco no local. Controversa, a obra levou à dessacralização da capela (veja o quadro acima). A antiga Chácara do Morro Queimado teve vários donos, como o marquês de São Vicente e o comerciante João de Carvalho Macedo, que levantou a capela e, em 1929, vendeu a propriedade a Guilherme Guinle. Por um breve período, de 1941 a 1943, o parque na Gávea acolheu o Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro e, após um intervalo, voltou a abrigá-­lo, a partir de 1948. O ciclo de decadência que manteve o complexo fechado entre 2010 e 2016 foi revertido com o começo das reformas. Bem cuidado, o espaço público atraiu atenções. A socialite Gisela Amaral e suas amigas do grupo de terço organizaram a recepção a dom Orani quando era exibida no museu a exposição Divina Geometria, do empresário e fotógrafo Oskar Metsavaht, sobre o monumento do Cristo Redentor. O artista plástico Vik Muniz compareceu à reinauguração do espaço, em 2016, encantou-se e cogitou realizar ali seu casamento com a produtora Malu Barreto. Por causa da longa lista de convidados, a celebração foi realizada na vizinha Santa Ignez. Enquanto não acerta suas contas celestiais, a Capela de São João Batista faz parte de um belo programa: a visita ao Museu cercado de verde, com duas exposições em cartaz — uma com fotos de Augusto Malta e a outra reunindo gravuras do início do século XIX.

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(Arte/Veja Rio)
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