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Sem trotes: calouros mais do que veteranos conhecem rotina do campus

Dois anos de aulas remotas depois, os estudantes finalmente têm o gostinho da vida universitária com a volta às salas de aula

Por Carol Zappa
Atualizado em 20 abr 2022, 09h01 - Publicado em 14 abr 2022, 09h00
Recém-chegada à PUC-Rio: Nina Fragale retomou a dinâmica social com colegas e professores -
Recém-chegada à PUC-Rio: Nina Fragale retomou a dinâmica social com colegas e professores - (Leo Lemos/Divulgação)
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Após um intenso ano de estudos para o Enem, Mateus Rameh, então com 18 anos, estava cheio de expectativas: tinha passado para o disputado curso de cinema na Universidade Federal Fluminense (UFF) e contava os dias para estrear na tão esperada vida universitária. Em março de 2020, pouco antes do início das aulas, foi conhecer o campus, fez a matrícula, escolheu suas disciplinas e ainda almoçou com futuros colegas. Logo depois, tudo mudou. O mundo ingressou em uma esticada quarentena e a universidade adiou o princípio das atividades em duas semanas — que acabaram virando dois anos de muita lição a distância.

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Pois agora, ele e tantos outros veteranos calouros podem finalmente pisar na sala de aula, uma experiência “mágica e emocionante” para Mateus. No 5º período de engenharia ambiental da mesma universidade, Barbara Stanzig, 20 anos, só travou nestes dias contato olho no olho com estudantes e professores. Está em plena fase de adaptação. “A pandemia afeta a saúde mental, tira o foco, por isso puxei menos matérias. Preciso reaprender a estudar e engatar na rotina”, diz.

O estudante de cinema Mateus Rameh na UFF: experiência “mágica e emocionante” -
O estudante de cinema Mateus Rameh na UFF: experiência “mágica e emocionante” – (Leo Lemos/Divulgação)

Mateus e Bárbara compõem esta geração que entrou para a faculdade justo quando o novo coronavírus impôs o isolamento social — e isolados eles ficaram, esperando a hora de vivenciar a experiência completa. Não são exatamente calouros, mas muitos se sentem assim em algum grau. A fase do ensino remoto lhes exigiu um esforço de concentração e ajustes sem precedentes. No caso da UFF, os alunos ficaram seis meses sem aulas até que o modelo a distância fosse implantado. “Eu me desligava muito fácil, sentia que a aula estava acontecendo na tela e eu lá, em um mundo à parte”, conta Mateus. Os universitários foram os mais atingidos entre todos os estudantes: enquanto a maioria das escolas voltou ao presencial no segundo semestre de 2021, o ensino superior começa a promover agora esse retorno, grande parte ainda no sistema híbrido. “Já era hora”, decreta Andrea Ramal, doutora em educação pela PUC-Rio, que avalia os prejuízos acumulados. Afinal, todos foram pegos de surpresa pelo sacolejo pandêmico e tiveram de instantaneamente embalar no estudo a distância, modalidade que requer autodisciplina, capacidade de organização pessoal e muita motivação. “Cabe neste momento às universidades ajudar esses jovens, para que não fiquem para trás”, afirma a especialista.

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Uma das primeiras instituições a voltar à rotina presencial, a PUC-­Rio se mostra atenta à delicada transição. “Há uma expectativa muito grande sobre esses estudantes que nunca estiveram no campus. Nossa preocupação é acompanhar sua inserção, com acolhimento individual sempre que necessário”, diz a coordenadora de graduação Daniela Vargas. Ela avalia que bons aprendizados foram extraídos dos tempos de aula exclusivamente virtual, como o uso das plataformas digitais como forma de comunicação e fonte de saber. A universidade na Gávea retornou no início de março com 65% das atividades in loco, priorizando laboratórios e disciplinas práticas. Certos protocolos foram adotados, como a exigência do passaporte de vacinação, a redução de alunos em sala e a orientação do uso de máscaras em ambientes fechados, mesmo com a queda de obrigatoriedade no município. Para o segundo semestre, tais medidas serão reavaliadas.

UFRJ reaberta: 176 cursos de graduação de volta ao modelo presencial -
UFRJ reaberta: 176 cursos de graduação de volta ao modelo presencial – (UFRJ/Divulgação)
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A jovem geração de hoje foi profundamente marcada pela experiência de assimilar conhecimento sem estar frente a frente com o mestre nem ao lado da turma. Aluna de estudos de mídia da PUC, Nina Fragale, 19 anos, se diz calejada: depois de concluir o ensino médio a distância pela Escola Parque já na pandemia, fez o vestibular por uma plataforma virtual. “A câmera ficava aberta e mandavam uma mensagem se você se mexesse muito, como forma de controle”, conta. No segundo semestre de 2021, passou também para o curso de jornalismo na UFF. Tirou de letra a maratona de aulas remotas. Era uma das poucas a deixar câmera e microfone abertos e participava ativamente no universo on-line — a sala cheia costuma deixá-la mais inibida. Conheceu a melhor amiga da faculdade e até o namorado, colega de curso, nos grupos virtuais de trabalho. Página virada, agora está adorando a vida no câmpus. “Tem essa dinâmica social que a gente tinha perdido. Encontrar as pessoas, especialmente os professores, circular entre várias turmas, mais velhas ou mais novas, conhecer outras matérias, tomar uma cerveja na padaria”, enumera Nina.

Andrea Ramal, doutora em educação: “Uma faculdade vai muito além da sala de aula” -
Andrea Ramal, doutora em educação: “Uma faculdade vai muito além da sala de aula” – (Ricardo Wolf/Divulgação)

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E assim a vida dos universitários vai entrando no ritmo. Recentemente, as atividades pedagógicas presenciais nos 176 cursos de graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também retornaram. Outras instituições, como a Unirio, ainda estudam essa volta. A previsão é que aconteça ainda no primeiro semestre de 2022, já que a pandemia arrefece e o dia a dia vai tomando ares de normalidade. A educadora Andrea Ramal reforça a importância do ensino presencial, sobretudo no começo da universidade. “Frequentar uma faculdade vai muito além das lições ensinadas em sala de aula: inclui ir à biblioteca, assistir a palestras, conhecer outros departamentos e frequentar atividades interdisciplinares”, reforça. Além disso, diz, a vida ao vivo e em cores promove uma vital troca de experiências, de visão de mundo e expectativas de carreira. Mateus, o aspirante a cineasta, se sente aliviado com esse contato e acredita que isso vai lhe abrir a visão e ampliar sua experiência. “Agora só temos dois anos pela frente, vou tentar passar o máximo de tempo na faculdade e aproveitar cada momento”, garante o entusiasmado veterano calouro.

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