Bope treina tiro com ex-oficial italiano
Batalhão aprende táticas de guerra com um dos melhores atiradores do mundo, o Instrutor Zero, que já deu cursos para mais de vinte tropas de elite internacionais
Os caveiras estão prontos para a guerra — e dizer assim, desta vez, não é figura de linguagem, nem exagero. Na semana passada, vinte agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), além de outros dez militares de diferentes divisões da segurança do estado, tiveram treinamento com um dos mais conceituados instrutores de tiro do mundo: o Instrutor Zero, como é conhecido, 40 anos, nascido em Roma mas criado na África. Veterano do Exército da Itália, ele criou em 2006 o Team Zero, grupo de treinamento para atiradores cujos serviços já foram requisitados por batalhões de 23 países. Agora chegou a vez do Brasil.
Sua página do Facebook tem mais de 650 000 seguidores e no YouTube ele compartilha vídeos para divulgar seu trabalho. “Meu sonho é construir uma grande comunidade de pessoas que possam usar minhas técnicas de segurança para salvar vidas”, disse, na semana passada, o Instrutor Zero em entrevista a VEJA RIO. Tamanho exibicionismo contrasta com o zelo do treinador em resguardar detalhes de seu currículo como militar. “Não quero dividir com ninguém o meu passado antes de 2006, quando recomecei minha vida”, diz. Tanto mistério resulta em uma série de especulações quanto à identidade da figura. Muitos o confundem com outros célebres veteranos de guerra, como Brandon Webb, ex-fuzileiro da Marinha americana que atuou no Iraque e no Afeganistão -— inclusive, no que diz respeito a confrontos nesses dois países, Zero afirma que não esteve em nenhum deles. “Sou italiano e, apesar de ter passado algum tempo nos Estados Unidos, jamais poderia pertencer às Forças Armadas de lá”, diz. “Ele segura informações sobre sua vida pessoal para se proteger, já que, entre outras tarefas, ele treina brigadas contra ataques terroristas”, explica João Sansone, do Caos Brasil, grupo que trouxe o instrutor ao país.
Aos policiais do Bope ele deu lições de tiro de precisão, resposta rápida a ameaças e disparo em alvos dinâmicos. Mais do que treinar mãos e músculos para atirar, o especialista propôs o chamado “condicionamento do cérebro”, uma técnica de autocontrole. “O Bope é um exemplo a ser seguido, por priorizar a capacitação dos recursos humanos”, elogia o professor. As aulas no Rio, solicitadas pelo próprio batalhão, foram gratuitas, na verdade fruto de uma esticada de Zero em terras cariocas. Ele foi pago (e muito bem pago, cerca de 1 500 reais por aluno) para ministrar cursos na Polícia Militar do Estado de São Paulo e em empresas privadas de lá — sabe-se que membros da família do deputado Jair Bolsonaro, do Partido Progressista (PP) do Rio, acabaram de aprender mais sobre o manuseio de armas.
Apesar da proximidade dos Jogos Olímpicos, oficialmente o Bope garante que a solicitação do treinamento não faz parte de um plano específico de segurança pública. “Buscamos novos conhecimentos e aprimoramento constante para eliminar erros em situações difíceis e proteger melhor a sociedade, inclusive durante a Olimpíada”, afirma o primeiro-tenente Ronald Cadar, que é instrutor de tiro no batalhão. Saber que nossos policiais estão sendo preparados para situações de extremo risco é mesmo muito bom. Mas o ideal — e não custa sonhar — é que o uso das novas técnicas só se faça necessário dentro dos campos de treinamento.