Bolsonaro indiciado: PF vê ex-presidente como articulador de golpe
Sustentação da defesa de Bolsonaro é de que ele não sabia de nada; à Globonews, advogado de Mauro Cid diz que sabia sim, mas depois volta atrás
Indiciado no inquérito que investiga a tentativa de golpe de estado não apenas por isso, mas também por tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito e organização criminosa, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vê sua situação se complicar já que, pela primeira vez, a Polícia Federal o coloca na participação de uma articulação de uma tentativa de golpe, e não como um beneficiário passivo de uma tentativa de ruptura do estado democrático de direito. A expectativa é a de que o sigilo do relatório final deve ser levantado na semana que vem, o que trará à tona quais são os crimes que, segundo a Polícia Federal, Bolsonaro cometeu e quais são as implicações contra ele. Além do ex-presidente, outras 36 foram indiciadas.
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Nesta sexta (22), o advogado do tenente-coronel Mauro Cid, Cezar Bittencourtt, disse que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro confirmou em depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que o ex-presidente sabia do plano de assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do próprio Moraes. O militar prestou depoimento nessa quinta (21). As declarações de Bittencourt foram dadas em entrevista ao programa Estúdio I, da GloboNews. “Confirma que sabia, sim. Na verdade, o presidente de então sabia tudo, comandava essa organização“, afirmou o advogado. O advogado era entrevistado de maneira remota, e a conversa precisou ser interrompida por problemas técnicos. Nove minutos depois, ao ser retomada, a jornalista Andreia Sadi toca novamente no assunto, mas desta vez Bittencourtt nega que o ex-presidente sabia do plano: “Eu não disse que o Bolsonaro sabia de tudo. Até porque o ‘tudo’ é muita
coisa. Alguma coisa evidentemente ele tinha conhecimento, mas o que é o plano? O plano
tem um desenvolvimento muito grande”, retificou.
Até este momento, a sustentação feita pela defesa de Bolsonaro é a de que ele não sabia de nada. Mas a PF afirma que tem vastas provas, segundo o blog da jornalista Natuza Neri, no portal G1: duas reuniões do então presidente da República com o comando das três forças armadas; um documento do estado de sítio que foi aprendido pela polícia na sede do PL; trocas de mensagens do ex-ajudante de ordens Mauro Cid fazendo referência a Bolsonaro, de que ele faria ajustes no decreto do golpe; documento com plano de matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes impresso dentro no Palácio do Planalto.
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Ainda segundo o blog, pode-se dizer que não tem uma prova cabal no caso da falsificação da carteira de vacinação do ex-presidente. Já “no caso das joias da Arábia Saudita, é mais complicado dizer que ele não era o beneficiário direto. Não faria sentido o Cid ter feito uma operação de venda e depois de recompra e Bolsonaro não ter nada a ver com o caso”, afirma Natuza. Bolsonaro também foi indiciado em ambos os casos.