O que foi discutido na Bienal do Livro, que movimentou meio bilhão no Rio
Foram mais de 740 mil visitantes, 23% mais que em 2023, que levaram para casa cerca de 6,8 milhões de livros

A Bienal do Rio fechou sua edição 2025 neste domingo (22) com um recorde de público: foram mais de 740 mil visitantes, 23% mais que em 2023, quando 600 mil pessoas estiveram presentes. Eles levaram para casa cerca de 6,8 milhões de livros, mas também puderam discutir in loco os mais variados temas, com autores e formadores de opinião. Em destaque, assuntos como ancestralidade, diferentes formas de amor e temáticas relacionadas à mulher.
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Num evento todo trabalhado no conceito de Book Park, um júri formado por arquitetos, cenógrafos e designers percorreu os pavilhões da Bienal do Livro Rio 2025 para escolher os quatro estandes das empresas expositoras que mais se destacaram nesta edição do festival. O espaço considerado o mais bonito foi revelado na noite de domingo (22) e recebeu o Prêmio Alfredo Machado, com o direito de ser o primeiro a escolher sua localização na próxima Bienal, em 2027: Darkside, que pela primeira vez participou de um evento literário e fez um enorme sucesso com o público jovem, trazendo uma série de experiências. O segundo colocado foi o estande Compiladas – que reuniu 20 editoras independentes -, seguido da Record, que trouxe a Casa Record com referências bem brasileiras, e da GreenBooks, estande que apresentou um navio pirata com telas que simulavam o balanço do mar e outros elementos interativos para crianças.
O júri foi composto pela arquiteta e apresentadora Bel Lobo; pela cenógrafa Susana Lacevitz; pelos arquitetos Giordana Pacini, Louise Brunet, Fernanda Loureiro e Vinicius Vicentini; pela cenógrafa e diretora de arte Patrícia Sobral e pela arquiteta e escultora Isabela Saramago. A avaliação levou em conta critérios como estética, qualidade de execução, conceito, funcionalidade, inovação, criatividade, interatividade, complexidade, sustentabilidade e acessibilidade.
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Conheça alguns temas abordados ao longo dos dez dias de festival
Ancestralidade e Afroliteratura
A Afroliteratura foi o fio condutor de conversas profundas, como o encontro entre Conceição Evaristo, a portuguesa Teresa Cárdenas e a sul-africana Zukiswa Wanner, que ocorreu no Café Literário, com a mesa “Memória e Resistência”, e discutiu temas como colonialismo. Já o ator e escritor Lázaro Ramos – um dos curadores da edição deste ano, participou de uma roda de conversa em torno da sua obra com Edvana Carvalho, Bussaka Kabengele, Gabz e as Pretinhas Leitoras Eduarda e Helena Ferreira. Representantes de diferentes gerações, eles reforçam o empoderamento das pessoas pretas, compartilhando momentos desafiadores, reflexões e expectativas.
A atriz Clara Moneke, protagonista da novela “Dona de Mim’, da TV Globo, esteve com sua avó na mesa “ O Fio do tempo: ancestralidade, voz e permanência”, dividindo com o público a história de Dona Maria, de 87 anos, filha de escravizados que publicou um livro de poemas há dois anos. Em outro encontro, Geovani Martins, Eliane Alves Cruz, Tiago Rogero e Lorrane Fortunato fizeram um recorte no período de tempo “Entre Machado e Hoje”, trocando sobre literatura brasileira contemporânea.
Os obstáculos enfrentados e a força da representatividade negra na produção literária contemporânea também foram temas de debate com Eliana Alves Cruz e Marcelo D’Salete sobre o crescimento da Afroliteratura.
A mulher no centro das discussões:
violência, maternidade ou não maternidade, menopausa, empoderamento
As experiências femininas marcaram presença em diversas discussões, a começar pelas reflexões trazidas por Chimamanda Adichie em um bate papo com a atriz Taís Araujo, no dia da abertura do festival. Além do empoderamento e questões de gênero, a conversa lançou luz sobre a importância de se dar voz às mulheres negras e como a escrita tem potencializado esse movimento.
Na mesa “Segurança para quem?”, com mediação da jornalista Flávia Oliveira, especialistas discutiram a violência estrutural contra mulheres e a ausência do Estado, o que também causa impacto para as mulheres brasileiras. A jornalista Ana Paula Araújo, que lançou livro sobre o aumento da violência contra a mulher, também participou de um papo com as atrizes Isabel Fillardis, que compartilhou sua experiência em um livro, e Marjorie Estiano, que interpretou Ângela Diniz para a mini série da HBO que será lançada sobre este feminicídio.
Temas normalmente tratados como tabus, a não maternidade e a menopausa reuniram grande público. A Apresentadora Angélica e a escritora Thalita Rebouças compartilharam suas próprias vivências sobre a transição para a menopausa, destacando as dificuldades, sensações físicas, falta de informação e sentimentos. A endocrinologista Isabel Bussade também participou da conversa, ampliando a discussão e trazendo mais elementos para a conscientização da sociedade.
A atriz Thaila Ayala e as autoras Elisama Santos e Karla Tenorio trataram sobre os diferentes caminhos da maternidade: desejo, construção, imposição ou recusa.
Amor
Diversos tipos de romance bombaram no festival este ano. Cowboys sensíveis, atletas universitários em crise, heroínas sombrias, pais solos e vilãs carismáticas: os romances atuais refletem um novo mapa afetivo, abordando temas como saúde mental, abandono parental, relações abusivas, diversidade e recomeços. Uma das grandes protagonistas dessa onda, Brynne Weaver, autora da trilogia Morrendo de Amor (cujo encerramento será lançado em junho com Foice e Pardal), participou da Bienal no último domingo e é o grande nome por trás do estilo comédia romântica dark. Já a mesa “Apostando no amor: romances e conquistas nos esportes” juntou Babi A. Sette, Arquelana e Thais Bergmann, para discutir como o universo esportivo inspira histórias de paixão e superação.
No Palco Apoteose, uma atividade cultural divertida também mobilizou o público: “Bienal Late Show: Amor – Um talk show literário”, apresentado por Paulo Ratz, trouxe reflexões leves e profundas sobre as diferentes formas de amar, com a participação de autores que abordam o tema em suas obras. Já as escritoras contemporâneas Marcela Ceribelli e a psicóloga Ana Suy abordaram os afetos, os limites do amor romântico e o que nos ensinaram a esperar das relações.
Leituras elásticas
O conceito permeou toda a programação, trazendo mais diversão à experiência leitora, conectando ao universo dos livros as narrativas e formatos diversos, como streaming, música, cinema e games. Esse enredo potencializou também as ativações imersivas do parque literário – a roda gigante ‘Leitura nas Alturas Light’ com suas cabines de histórias e áudios, o ‘Escape Room Estácio’, o ‘Labirinto de Histórias Paper Excellence’, e o novo espaço ‘Praça Além da Página Shell’, onde ocorreu, por exemplo, um concurso de poemas, sarau e karaokê literário, envolvendo os visitantes em atividades culturais e experiências de criação poética, a leitura e a performance.
True crime e mistérios
Tema super em alta, a lógica investigativa esteve presente nos estandes das editoras, que apostaram em títulos como “A Empregada” (de Freida McFayden/Sextante), “A Camareira” (Nita/Intrínseca) e “Assassinato em Família” (Cara Hunter/Trama), “Jantar Secreto” (Raphael Montes/Companhia das Letras). Os clássicos de Ágatha Christie – a Rainha do Crime e do Mistério – foram relançados com capa nova e moderna pela Globo Livros e HaperCollins. Já o público foi convidado a participar de uma grande brincadeira no Palco Apoteose para a resolução de mistérios ao vivo com G. T. Karber. O autor de Murdle trouxe a experiência de sua série de enigmas para o palco, envolvendo o público em uma narrativa interativa e cheia de suspense.
A construção de suspense nas histórias também foi tema da mesa que reuniu o best seller Raphael Montes e a escritora inglesa Cara Hunter, conhecida como a Agatha Christie da atualidade, focando na criação de thrillers, tramas criminais e investigações literárias. O autor também participou de uma conversa sobre o gênero policial, suas
influências e o impacto do true crime na cultura pop, atraindo uma multidão de fãs no Palco Apoteose, e se juntou à Walcyr Carrasco para comentar como esse estilo literário de suspense impacta na criação das histórias das novelas.
Entre as ativações do Book Park, as quatro salas do ‘Escape Room Estácio’ atraíram leitores de todas as idades, em busca de pistas para solucionar os mistérios. Entre os temas, Agatha Christie e o próprio Raphael Montes, criador da novela Beleza Fatal.
Na Kombi do Mapa Lab, estacionada próximo aos jardins do Riocentro, o público também pôde conhecer e se interessou pelo livro jogo ‘Assassinato no Parque Lage’, da escritora Luciana De Gnone, que traz pistas e dicas para simular uma investigação criminal real.