Ela vem com a assinatura da Hermès, é fabricada artesanalmente, utiliza como matéria-prima o refinado couro taurillon clemence e virou o sonho de consumo de muita gente. Não se trata de uma bolsa Birkin nem de nenhum outro acessório feminino da maison francesa. O produto em questão é uma estilosa bicicleta vintage fabricada pela casa que é sinônimo de requinte. Com estrutura de aço inoxidável e punhos e selim revestidos do sofisticado tecido, ela custa o equivalente a 10?000 reais. Não é um caso isolado. Outras marcas destacadas do mercado de alto padrão passaram a produzir as chamadas “magrelas de luxo”, casos em que se enquadram Chanel, Gucci, Fendi e Missoni. Atentas a essa tendência que vem de fora, as grifes cariocas investem nesse filão, que atrai, principalmente, as mulheres. “Hoje em dia o conceito de sofisticação vai muito além de roupas e acessórios”, diz o estilista Marco Sabino, autor do Dicionário da Moda.
Nas vitrines e catálogos da cidade, as bicicletas agora dividem espaço com calças, camisas, vestidos e bolsas. Para seduzir a clientela, a aposta é na personalização. A Q-Guai, em Ipanema, oferece um modelo feminino equipado com selim de matelassê no formato de coração, cesta de vime e estrutura de alumínio rosa-metálico. Mais Barbie, impossível. Um deles foi adquirido pela estudante de direito Julia De Lamare, que, depois de morar seis meses na Holanda, voltou apaixonada pelo estilo de vida em duas rodas. “Pedalo para ir à faculdade ou sair com os amigos”, diz ela, que circula pela Zona Sul com seu modelo sob medida. Na Reserva Mais, no mesmo bairro, a compradora escolhe na hora a cor de pedais, quadro e até da correia. Ela pode ainda escrever seu nome no alumínio. Tanto paparico tem seu preço: 3?500 reais. Mas, apesar de custar três vezes mais que uma similar elétrica, o exemplar da grife tem tido boa saída. Só em fevereiro foram negociadas vinte unidades.
Mais do que ser um bom negócio do ponto de vista comercial, as bicicletas agregam outros valores às lojas, como a prática da vida saudável e do desenvolvimento sustentável. Motivos convincentes que levaram a Farm a aderir à tendência. Desde o mês passado, a grife oferece quatro modelos, todos com estampa floral e quadro rebaixado, para facilitar a tarefa de quem pedala de vestido ou calça comprida. “As pessoas não buscam só um meio de transporte, elas querem um produto lindo”, afirma Carlos Mach, gerente de branding. Numa cidade convidativa para programas a céu aberto e com mais de 235 quilômetros de ciclovias, tornou-se natural que as magrelas entrassem, literalmente, na moda.