Bia Rique presta serviço gratuitamente na Santa Casa de Misericórdia
A nutricionista reserva um dia por semana em sua agenda para dar consultas no local
Há treze anos, Bia Rique foi fazer um trabalho acadêmico na Santa Casa de Misericórdia. Foi quando tomou conhecimento de que a maioria dos pacientes que procuravam o departamento de cirurgia plástica, chefiado por Ivo Pitanguy, estava acima do peso, o que aumenta o risco de qualquer intervenção. A nutricionista, então, resolveu se juntar à equipe de voluntários da entidade e até hoje reserva um dia da semana para dar consultas gratuitas. “No início, eu atendia duas pessoas por dia; agora, são de trinta a 35. O serviço cresceu tanto que tive de formar grupos de pacientes. Foi melhor, porque muitas delas tinham dificuldade de assimilar alguns conceitos e compreender a tabela nutricional, por exemplo. Estando juntas, uma apoia a outra”, conta a nutricionista. E, antes que alguém pense que o objetivo é puramente estético, é bom deixar claro que Bia e sua equipe — atualmente, ela tem quatro colaboradoras — atendem casos complexos, de gente que precisa emagrecer para ter pele sobrando e fazer enxerto a mulheres com problema de coluna devido a mamas grandes.
“Com o programa, muitas pacientes que vivem em autoabandono passam a ter uma vida mais saudável e a se ver de forma mais positiva”
O programa de reeducação alimentar dura de três meses a um ano e vai além da perda de peso. “Faço um trabalho de conscientização de saúde, porque comecei a perceber que muitas estavam anêmicas ou diabéticas e nem sabiam. E isso acontece porque elas só vão ao médico quando estão doentes mesmo, e não têm o hábito de fazer exame de sangue anual”, diz Bia. De quebra, as pacientes ainda recuperam a autoestima. “Muitas vivem em autoabandono, por causa dos obstáculos que enfrentam. A partir do programa, elas não só ganham uma vida saudável como passam a se ver de forma mais positiva”, atesta a nutricionista, que sabe que a sua iniciativa é só um pequeno passo para resolver o problema nutricional da população. “Sei que é dever do Estado facilitar o custo dos alimentos saudáveis, mudar a merenda nas escolas, desenvolver políticas melhores para a agricultura. Mas isso não isenta o profissional de saúde de fazer um esforço como cidadão”, afirma Bia, satisfeita com os resultados obtidos com sua atuação. “Acho que sou sonhadora. Mas o que me move é conseguir transformar um pouco a vida das pessoas, mesmo com tantas dificuldades. A Santa Casa foi e é, para mim, uma janela para o mundo, que me possibilita mergulhar em universos tão diferentes e dolorosos”, diz.
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