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Bernardinho inaugura escola de vôlei no Complexo do Alemão

Em entrevista, o técnico da seleção brasileira fala sobre este e outros projetos e revela o segredo para o sucesso

Por Daniela Pessoa
Atualizado em 5 dez 2016, 16h05 - Publicado em 31 ago 2011, 17h00
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bernardinho2.jpg (Redação Veja rio/)
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Formado em economia, Bernardo Rezende, o técnico Bernardinho, parece ter mesmo aprendido sobre bons investimentos. Inquieto, de fala rápida e dono de um espírito empreendedor, ele tem apostado não só na multiplicação de campeões, mas também de cidadãos. O treinador da seleção masculina de vôlei, campeã olímpica e mundial, inaugura nesta quarta (31), no Complexo do Alemão, o primeiro núcleo social da Escola de Vôlei Bernardinho, que tem três unidades no Rio, além de franquias em Niterói e outros estados. A nova escolinha, uma parceria com o governo estadual e com o Banco do Brasil, tem capacidade para atender até 300 crianças de 7 a 13 anos na favela Nova Brasília, que faz parte do Complexo. Na entrevista a seguir, saiba mais sobre este e outros projetos de Bernardinho, e descubra também o segredo do treinador para o sucesso.

Como surgiu a ideia da Escola de Vôlei Bernardinho? Já não bastava ser treinador da seleção?

O desejo de ensinar o esporte para as crianças e usá-lo como uma ferramenta de desenvolvimento sempre me acompanhou ao longo da carreira. Há 14 anos abri a primeira escola e, desde então, minha vontade é levar para o maior número de crianças possível a minha metodologia de iniciação no vôlei, fazer a diferença na vida delas.

Por isso a inauguração de uma unidade na favela?

Exatamente. Tudo começou com um núcleo social da EVB [Escola de Vôlei Bernardinho] na favela Tavares Bastos, no Catete, em 2007. Apoiados pelo BOPE, trabalhamos o vôlei com cunho social, no sentido de formar cidadãos. Em seguida vieram as UPPs, e foi quando vi, no esporte, um papel muito importante no processo de pacificação das favelas. Não tem como mudar as coisas só na base da tomada de território pela polícia. É preciso oferecer oportunidades aos jovens.

Mas o que você pretende exatamente? Formar campeões olímpicos e tirar as crianças da pobreza?

Quero ajudar a transformar esses jovens em cidadãos de bem, passando a eles princípios e valores do esporte, como ética, compromisso e dedicação. Certamente alguns talentos serão detectados, mas o objetivo não é colocar medalha no pescoço de ninguém. Isso é consequência.

Como você disse há pouco, a Escola de Vôlei Bernardinho se destaca pelo ensino do esporte por meio de uma metodologia própria, criada por você mesmo. Que metodologia é essa?

Meu objetivo é despertar nas crianças o prazer pela atividade, o que só é possível através do êxito. É preciso mostrar que elas podem sacar tão bem quanto o Giba e serem campeãs. Perder faz parte, mas, para quem está começando, é frustrante, e acaba desestimulando. Por isso, adotei na escola o minivôlei, voltado para crianças de 7 a 13 anos. As quadras são de tamanho reduzido, as bolas são menores e mais macias, e as redes adequadas à altura das crianças, possibilitando maior participação, envolvimento e mais chances de elas acertarem as jogadas. Estimulando a autoconfiança, a criançada parte sozinha para novos desafios.

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É verdade que o seu filho, Bruno, hoje levantador da seleção brasileira, foi cobaia da sua metodologia?

Sim, ele ajudou no desenvolvimento do método. Eu via o que dava certo, o que não dava, e ia ajustando. Ele já foi campeão de minivôlei várias vezes, inclusive na Itália.

Você tem também um acampamento de vôlei para crianças na Disney, que começa no ano que vem. Disney e favela são dois projetos tão antagônicos…

O esporte é uma das instituições mais democráticas que existe. É praticar e buscar a evolução sem olhar para a cor, para a origem, nem para a conta bancária de ninguém. Você só enxerga o parceiro para jogar, o companheiro que faz parte do seu time. A prática do esporte é um direito de todos, não importa se no asfalto ou no morro. As aulas gratuitas que a gente vai oferecer no Complexo do Alemão têm exatamente o mesmo padrão de qualidade que as da Disney ou de qualquer outra franquia da EVB.

Mas, cá entre nós, a criançada não fica com medo de jogar na escola do treinador conhecido pelo temperamento enérgico e explosivo nas quadras?

Que nada, eu sou assim só com os adultos, especialmente com a seleção, porque ganhar é o nosso trabalho. A gente tem contas a prestar com todos os brasileiros. Em casa, sou um pai babão, pode perguntar. E na EVB eu sou muito mais um orientador, alguém que está ali para estimular, do que um técnico que cobra resultados.

Por falar em resultados, no seu livro Transformando Suor em Ouro você diz que a determinação, mais do que o talento, é a chave do sucesso. Qual é o seu segredo para conseguir extrair o melhor das pessoas?

O segredo é valorizá-las, dar atenção para elas, oportunidades e, ao mesmo tempo, cobrar postura e atitude. Costumo dizer, ainda, que a missão de um treinador – e de todo educador, seja ele um professor ou os próprios pais – é seduzir. Pegue como exemplo um adolescente que quer passar no vestibular, mas tem preguiça de estudar. Para ajuda-lo a alcançar esta conquista, é preciso seduzi-lo, mostrar como estudar faz parte de um processo que vai leva-lo exatamente aonde ele quer – ao sucesso.

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Falando em livro, qual é o seu livro de cabeceira?

No momento, a autobiografia de um jogador de futebol americano chamada Through My Eyes, e Unbroken, que conta a história do sobrevivente muito disciplinado de um avião que foi abatido na Segunda Guerra Mundial.

Boas dicas. Qual foi a maior derrota da sua vida e o que você aprendeu com ela?

Foram muitas. Elas fazem parte do processo, só não perde quem não joga. Mas a minha postura é sempre a de compromisso, e é isso que é importante. Assumo a responsabilidade pelos meus erros para tentar melhorar.

Pois é. Um cara como você, com tamanha responsabilidade e pressão profissional, precisa de terapia?

Terapia é muito bom para dedicar um pouco de tempo a si mesmo. Hoje em dia não faço por falta de tempo, mas já fiz e acho muito válido. Com tantas preocupações, às vezes você acaba se deixando de lado, mas a terapia te resgata e faz você voltar a se enxergar, a prestar atenção nos próprios anseios.

E quem é o seu grande exemplo de pessoa na vida, aquele que você procura seguir?

Pode parecer clichê, mas são meus pais e avós. Eles são meus maiores ídolos, aqueles que me passaram valores importantes que vão ficar comigo para o resto da vida, como a ética. Minha família sempre me ensinou que é preciso fazer o que é certo, não o que é conveniente.

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