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Beltrame deixa o cargo e uma herança complexa a seu sucessor

O desafio de Roberto Sá será reduzir as incidências de crimes e administrar as 38 UPPs em meio a grave crise financeira do estado

Por Pedro Moraes e Jana Sampaio
Atualizado em 2 jun 2017, 11h56 - Publicado em 15 out 2016, 01h00
José Mariano Beltrame
José Mariano Beltrame (Equipe Veja Rio/)
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A carta de demissão do secretário José Mariano Beltrame, entregue ao governador interino Francisco Dornelles na tarde de segunda (10), pôs fim à mais duradoura gestão da área de segurança no estado. Ao longo de nove anos e nove meses, o gaúcho de Santa Maria fez história ao implantar o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), a primeira iniciativa bem-sucedida a enfrentar a criminalidade nas favelas da cidade. A retomada do poder público em áreas dominadas pelo tráfico resgatou a autoestima do carioca e provocou uma queda abrupta nas taxas de criminalidade. Passados oito anos da instalação da primeira UPP, no Morro Dona Marta, em Botafogo, o modelo, de relevância inquestionável para o Rio, dá sinais de esgotamento. A imagem de um homem abatido a tiros rolando pelo maciço do Cantagalo em um confronto entre gangues de bandidos e a polícia nos limites entre Copacabana e Ipanema, disseminada pela internet na semana passada, tornou-se emblemática dessa inflexão. “Beltrame fez uma gestão que apontou caminhos, mas não investiu neles. Também desperdiçou o capital político que amealhou ao deixar de reestruturar a polícia”, critica o sociólogo Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj.

Quadro
Quadro ()

Designado como o sucessor de Beltrame, Roberto Sá, até então subsecretário de Planejamento e Integração Operacional, terá uma herança complexa para administrar (veja o quadro à esquerda). O mais difícil dos desafios é a delicada situação das finanças estaduais. Nos últimos dez anos foram aplicados cerca de 40 bilhões de reais na segurança pública. Hoje, com o governo na bancarrota, não há como manter o padrão de repasses ao programa de 38 UPPs no Rio. Uma das críticas é justamente ao tamanho do projeto. “É insustentável. Teria sido mais sensato ficar em vinte favelas estratégicas. O resultado é que a polícia está enfraquecida”, analisa Rodrigo Pimentel, ex-capitão do Bope. A tese de Pimentel é sustentada por estatísticas: embora as taxas de homicídio tenham caído 25% em oito anos, o número de crimes como roubo de veículo e latrocínio, depois de quedas sucessivas até 2012, aumentou a partir de 2013.

QUADRO SEGURANÇA
QUADRO SEGURANÇA ()

Diante de tal complexidade, as soluções não são triviais. Se os casos de violência antes se concentravam na capital, agora se espalham pela região metropolitana e interior. Com o efetivo de 46 694 policiais militares e 9 840 civis, a nova gestão terá de distribuir bem seus homens. Especialista no tema, o antropólogo Paulo Storani é radical na solução. “A redução do número de UPPs é necessária e deve ser feita mesmo sob críticas. Isso não é retrocesso, mas sim um passo atrás para depois avançar de novo”, opina. Da mesma forma, apenas a presença de mais policiais nas ruas também não é suficiente para fazer frente ao crime. Para a cientista social Silvia Ramos, a inteligência da polícia do Rio é precária. “Temos recursos que não são usados. Ainda se acredita que é apenas com homens que se melhora a segurança”, diz a coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes. Ao novo secretário cabe, agora, apontar o rumo a ser seguido.

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