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Às vésperas de novo BBB, Pedro Bial abre o jogo sobre sua trajetória

Teimoso assumido, o apresentador adora uma roupa de marca, admite que seu ego é proporcional ao seu 1,92 metro de altura e dá de ombros para os críticos

Por Sofia Cerqueira
Atualizado em 2 jun 2017, 12h48 - Publicado em 10 jan 2015, 00h00
Pedro Bial
Pedro Bial (Tomás Rangel/)
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Com uma fórmula escorada no voyeurismo e movida a confrontos, intrigas e casos amorosos, o Big Brother Brasil é um dos programas mais longevos e populares da televisão brasileira. Em nenhum outro lugar do planeta a atração inspirada no universo do escritor George Orwell, criada na Holanda e já exibida em mais 75 países, alcançou marcas tão impressionantes. Foi aqui, por exemplo, que bateu o recorde de 154 milhões de votos registrados em uma única noite de eliminação. Mas, ao longo dos últimos catorze anos, o formato original sofreu sucessivos ajustes. Tudo com o objetivo de piorar as condições de temperatura e pressão na casa-laboratório onde as cobaias humanas vivem três meses espionadas por câmeras 24 horas por dia. Os ambientes foram remodelados, as provas ganharam requintes de sadismo e as regras mudaram ao sabor de uma audiência ávida por embates entre os participantes. Uma única coisa, entretanto, se mantém desde o princípio: a presença de Pedro Bial, 56 anos, jornalista convertido em mestre de cerimônias do reality show. Às vésperas da 15ª edição, com estreia marcada para o próximo dia 20, Bial tem estudado os vídeos dos candidatos selecionados e se preparado para uma extenuante jornada — com o programa no ar, ele diz não dormir mais de quatro horas por noite. “O BBB foi um acidente de percurso na minha carreira, que encarei de forma honesta e apaixonada”, avalia. “É um formato trash feito com um grau de excelência sem igual. Transformamos o que chamam de lixo em luxo.”

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Desde 2002, Bial incita o público a exercitar a bisbilhotice pelos ambientes da casa cenográfica montada no Projac, em Jacarepaguá. Mas, com o passar dos anos, ele próprio acabou se tornando uma vítima da superexposição provocada pelo programa. O jornalista, que gosta de frequentar botequins e de rodar a Zona Sul de bicicleta, mal consegue pisar na rua quando a atração estreia. “As pessoas perderam a cerimônia comigo”, diz. Sua rotina, nessas temporadas, se resume a longas horas diante das três TVs de sua casa, sintonizadas dia e noite no BBB. Obsessivo, ele chega à Globo com nove horas de antecedência nos dias de gravação. Em seu camarim há até uma cama, onde já dormiu algumas vezes. A compulsão para tentar manter tudo sob controle, porém, nem sempre o livra dos imprevistos que as transmissões ao vivo costumam guardar. Em 2003, numa eliminação, foi surpreendido pela aparição de uma mulher nua na plateia. Desesperado com a possibilidade de a imagem da desinibida ter ido ao ar, travou em frente às câmeras ao vivo e só conseguiu balbuciar a palavra “seguranças!”. Até hoje o caso é motivo de piada nos bastidores da emissora. Para os críticos do programa, tido como vulgar e banal, a presença do apresentador, que gosta de citar grandes escritores e filósofos em seus discursos de eliminação, é uma tentativa de dar nobreza à atração de uma pobreza abissal em termos de conteúdo. “O horário deveria ser ocupado por coisa melhor, mas admiro o Bial. Ele fala com todos os públicos, e com qualidade”, diz José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-­todo-poderoso da emissora e pai do diretor do programa, Boninho.

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Bial é a cara do Big Brother no Brasil, mas sua versatilidade, é fato, vai bem além do reality show anual. Pouca gente sabe, mas nos anos 90 seu nome foi cogitado na cúpula da emissora para apresentar o Jornal Nacional ao lado do novato William Bonner. Neste ano, além de botar ordem na casa cenográfica mais uma vez, comandará a quarta temporada do Na Moral, desenvolverá o roteiro de um seriado para a Globo e um novo programa de entretenimento, ainda guardado em segredo. De origem judaica — o pai era alemão e veio para o país na II Guerra — e formação católica (estudou no Santo Inácio), ele se diz agnóstico. “Não acredito em Deus. Como os teólogos definem, a fé religiosa é uma entrega ao absurdo”, filosofa. Isso não quer dizer que não tenha superstições e uma queda por jogos de azar. Em várias edições do BBB, antes de entrar no ar, borrifava uma lavanda de bebê na plateia para “levantar o astral”. Cada acontecimento marcante, seja na vida pessoal, seja mundo afora, vira pretexto para fazer uma fezinha no jogo do bicho. Foi o que aconteceu no trágico 11 de setembro de 2001, quando apostou no porco. O raciocínio que levou ao animal foi tortuoso: “Imaginei a Big Apple e escolhi um bicho que tradicionalmente é assado com uma maçã na boca”. O delírio lhe rendeu 2 000 reais. Em novembro, ao entrar em cartaz o musical sobre Abelardo Barbosa (1917-1988), o Chacrinha, que marca sua estreia como roteirista de teatro, fez uma combinação com a data de nascimento do apresentador. Dessa vez, perdeu. Novos motivos para testar a sorte não faltarão. Bial escreve mais um musical, agora sobre o cronista Antônio Maria (1921-1964), e planeja outra parceria nos palcos com Andrucha Waddington, que dirige a peça sobre o Velho Guerreiro. “Ele une a experiência jornalística com o talento para a dramaturgia como poucos”, elogia Andrucha.

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Contratado da Globo há 34 anos, antes de assumir a porção showman no BBB Bial já tinha uma longa estrada. O jovem carioca criado em Ipanema, que sonhava ser cineasta, começou a carreira em Salvador, passou pelo Jornal Hoje, pelo Globo Repórter e, aos 30 anos, virou correspondente em Londres (veja o quadro abaixo). Deu sorte. A estada na capital britânica, no fim dos anos 80 e início dos 90, coincidiu com um período de grande efervescência na Europa e no Oriente Médio. Acompanhou o colapso da União Soviética e as guerras do Golfo e da Bósnia. Quem vê sua carreira ascendente pode imaginar uma trajetória sem percalços e marcada por uma vigorosa capacidade de transformar um talento inato em conquistas profissionais. De certa forma, isso é verdade. Mas Bial não esconde que pagou um preço alto do ponto de vista pessoal. No fim dos anos 90, quando apresentava o Fantástico, viveu uma das fases mais difíceis de sua vida. Acometido de uma forte depressão, precisou recorrer a ajuda médica. Pouco antes, havia enfrentado um conturbado processo de separação litigiosa da atriz Giulia Gam. No episódio, ambos disputaram a guarda do filho Theo, hoje com 16 anos. “Não vejo vergonha alguma em dizer que por dez anos precisei tomar Rivotril, antidepressivos e remédios para dormir”, afirma Bial, que atualmente namora a jornalista de moda Maria Prata. Além de Giulia, ele foi casado com a atriz e escritora Fernanda Torres, com a jornalista Renée Castelo Branco (com quem teve a filha Ana, de 27 anos) e com a produtora Isabel Diegues (mãe de seu caçula, José Pedro, de 12 anos).

Ultrapassados os 50 anos, Bial tem buscado uma vida mais equilibrada — se isso é possível para alguém que é por natureza agitado e ansioso. Notívago inveterado, ele tenta manter uma rotina saudável. Acorda às 5 da manhã e aproveita para ler seis jornais, metade deles estrangeira. Com o auxílio de um personal trainer, exercita seus 98 quilos distribuídos em 1,92 metro de altura na academia montada em casa. O jeito desengonçado nem de longe lembra o de alguém com destreza para o surfe, mas Bial gosta de se arriscar no mar. Costuma pegar onda com os dois filhos menores, como fez recentemente em uma viagem à Costa Rica. É uma mudança radical para quem o conheceu em outros tempos. Ex-fumante compulsivo, ele largou o cigarro há sete anos, ao ser diagnosticado com enfisema pulmonar. Também diminuiu radicalmente a quantidade de álcool depois de passar por experiências traumáticas com a bebida e ter de recorrer à ajuda de um psicanalista, no início dos anos 2000. “Percebi que estava perdendo a mão. Durante quatro anos bebi todos os dias. E muito.” Do tipo que não deixa pergunta sem resposta, o mestre de cerimônias do Big Brother também fala abertamente sobre sua experiência com as drogas. Conta que, como muitas pessoas de sua geração, passou por LSD, cocaína e maconha. “Vi gente se atolar, estragar a vida. Tomei ojeriza de pó, e hoje não uso nada, nem maconha”, afirma.

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Quando não está na Globo, nem passeando de bicicleta pela Zona Sul, Bial se refugia na casa em que mora, na região do Horto. É um belo imóvel, de projeto arquitetônico arrojado e recheado de peças de design — o que evidencia o bom gosto de seu proprietário. Ali ficam guardadas roupas de marcas como Prada, Armani, Zegna, que ele adora usar, apesar de tentar manter sua vaidade em discrição. “Você vê como é natural? Visto um negócio desses e ninguém percebe”, diz. Embora tenha uma vida muito confortável, Bial se autoexclui do primeiro time de apresentadores da Globo e diz que até o décimo Big Brother “ganhava menos do que merecia”. Fontes do mercado de televisão calculam que ele receba algo em torno de 3 milhões de reais para apresentar cada temporada da atração. Os vencimentos ajudam a entender o pragmatismo com que Bial enfrenta as críticas ao programa. Para ele, ser a imagem do BBB não é incômodo nenhum. “Não sou apenas um jornalista ou um apresentador. Sou um homem de televisão”, diz a encarnação brasileira do Grande Irmão.

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