Arte em liquidação
Versão popular da ArtRio, a Artigo venderá obras com preços que variam de 80 a 17 000 reais
A segunda edição da ArtRio, em setembro, levou 74?000 pessoas em cinco dias aos galpões do Píer Mauá, na Zona Portuária. O saldo positivo da feira, que contou com a participação de 120 galerias, muitas delas vindas de fora, chamou atenção para o potencial desse tipo de evento ? espécie de shopping das artes plásticas. No seu encalço surge a Artigo Rio, com pretensões mais modestas (27 expositores no Centro de Convenções SulAmérica), voltada a um público com menor poder aquisitivo, mas mesmo assim recheada de obras, em ofertas que não se veem todo dia por aí. A expectativa é atrair 25?000 amantes da arte a partir de quinta 8.
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Com peças cujo preço varia de 80 a 17?000 reais, a Artigo segue os passos da irmã mais requintada até nos eventos paralelos, com uma agenda de performances e palestras. Seu idealizador é o artista plástico Alexandre Murucci, 50 anos, que bolou o nome da mostra, com base na expressão em inglês art+I+go (arte+ eu+vou, em português). “Quero atrair uma classe média que não compra obras de arte como rotina, mas que tem vontade, por exemplo, de iniciar uma coleção”, diz ele.
Não se pense que não haverá artistas renomados nas prateleiras. Amílcar de Castro comparece com uma litogravura de 3?000 reais. Há um prato de Vik Muniz a 2?800 reais. Para os dispostos a investimentos mais elevados, há pinturas sobre cartão de Frans Krajcberg, as peças com valor mais elevado da feira, beirando os 17?000 reais. No total serão 1?500 obras, apresentadas por galerias como Amarelonegro, Almacén e Cosmocopa. Com investimento de 700?000 reais, a organização prevê faturamento de 1,5 milhão.
Inovadora em sua proposta, a iniciativa vem merecendo elogios de quem é do ramo. Ricardo Rego, dono da galeria Lurixs, destaca o que chama de “democratização da arte”: “O jovem que hoje adquire uma gravura mais barata tem grande chance de, um dia, se tornar comprador de uma tela mais cara”. A Artigo carrega, como se vê, um caráter didático. Mas, além de oferecer uma oportunidade aos neófitos, acaba alimentando indiretamente uma animada discussão sobre os critérios que estabelecem o valor das obras, terreno movediço por excelência. “Há dois dados nessa história, o valor artístico e o de mercado. O preço de mercado está ligado a quanto o comprador se dispõe a pagar. Já o artístico é definido pela demanda. Bienais, prêmios e a trajetória do artista formam variáveis, até que se chega a um nível extremo, em que a cotação é estabelecida por importância histórica”, explica Luiz Camillo Osorio, curador do MAM. Pelo sim, pelo não, quem for à feira terá a oportunidade de comprar peças que, com alguma dose de sorte, poderão valer muito no futuro.