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A praia dos riquinhos

Clube montado na orla da Zona Sul atrai frequentadores de alto poder aquisitivo que buscam tratamento vip e a experiência de compartilhar a areia com gente do mesmo perfil

Por Ernesto Neves
Atualizado em 5 jun 2017, 14h09 - Publicado em 27 fev 2013, 17h26
foto Fernando Frazão
foto Fernando Frazão (Redação Veja rio/)
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foto Fernando Frazão ()

Ponto de encontro de todas as classes sociais e tribos, as praias cariocas sempre fizeram jus ao epíteto de “espaço mais democrático da cidade”. Do Leme ao Pontal, qualquer um consegue achar seu lugar ao sol, independentemente de estilo, credo, cor, traje, idade ou condição financeira. Neste verão, no entanto, a máxima ganhou uma exceção. Uma estreita faixa de areia em plena Zona Sul tornou-se território exclusivo de quem pode pagar ? e bem ? para estar ali. Trata-se do Aqueloo, como foi batizado esse clube com serviço de luxo à beira-mar, que fica no complexo do Forte de Copacabana. Ele é voltado para consumidores abonados, dispostos a desembolsar pelo ingresso 250 reais (homens) e 90 reais (mulheres), preços válidos para o domingo, dia de maior movimento e, portanto, o mais caro. Ao longo da faixa de areia com 70 metros de extensão foram instalados deques elevados que abrigam dezoito camarotes. O mais luxuoso deles, com capacidade para vinte pessoas, custa 20?000 reais a diária. Nesse cercadinho vip, os frequentadores têm à disposição uma banheira de hidromassagem com vista para o mar e um mordomo particular sempre a postos para atender aos seus desejos. “Todos podem vir ao Aqueloo sem medo de usar seu relógio Rolex ou sua bolsa Louis Vuitton”, assegura Marcos Rossato, gerente do empreendimento.

fotos Fernando Frazão
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foto Fernando Frazão
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Com capacidade para acolher até 500 pessoas, o beach club carioca é um mundo à parte, com seus atrativos e códigos peculiares. Para chegar à praia, o visitante embarca numa van na entrada da fortaleza. Dois minutos depois, já está no complexo de entretenimento à beira-mar, que reúne serviço de bar e restaurante, salão de beleza, spa e cabine de DJs. Definitivamente, não é um local indicado para quem quer sossego, pois a música eletrônica jorra em alto volume durante todo o horário de funcionamento da atração, de quinta a domingo, das 10 às 20 horas. Ali, o mar é mero detalhe do negócio, a ponto de a maioria das mulheres abrir mão da canga e do biquíni e optar pelo modelito bermuda, camiseta e óculos escuros. O banho de mar, por sinal, atrai pouca gente, ao contrário da sempre concorrida pista de dança, onde no sábado passado (16) se amontoavam quase todos os 300 presentes. Com essa vocação mais para boate que para o típico lazer litorâneo, é natural que o clima ali comece a esquentar às 4 da tarde, atingindo seu ápice à medida que o pôr do sol se aproxima. “Deixei de frequentar Ipanema e passei a vir aqui todos os dias porque o público é muito mais selecionado”, diz a socióloga Camila Diniz. “Posso beber champanhe na taça e fazer escova no cabelo após mergulhar.” Assídua desde a inauguração, ocorrida em 9 de janeiro, Camila calcula já ter gastado 3 000 reais na brincadeira (veja o quadro com os valores nesta página). “Vale muito a pena. Nem em Paris os garçons entendem tanto de bebida”, justifica. Se no restante da orla a cerveja gelada e o mate são os campeões de pedidos, na praia privê esse título cabe ao champanhe. No fim de semana, são vendidas por dia 100 garrafas do espumante Veuve Clicquot, ao custo de 390 reais a unidade.

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Antes de ser revelada aos cariocas, ainda que mediante uns trocados, a praia da fortaleza era um recanto isolado, que nem nome tinha. Sua frequência se limitava a uns poucos militares, que a utilizavam para realizar treinamentos e celebrar festas de aniversário. “Abrimos para a população uma praia até então desconhecida”, afirma Daniel Barcinski, mentor da iniciativa que sofreu ataques de moradores do bairro, irritados com a privatização de um espaço público. Quatro anos atrás, Barcinski já havia realizado outro evento de grande porte nesse terreno militar, com a instalação de uma roda-gigante. Alugado por 300 000 reais, o espaço desta vez foi alvo de um investimento de 2,5 milhões de reais, boa parte do dinheiro aplicada na infraestrutura, com destaque para o deque dos camarotes e as tendas na porção mais alta, em que ficam o spa e cabeleireiro. Para proporcionar conforto aos clientes, o staff do clube conta com 100 pessoas, entre chef, cozinheiros, atendentes, salva-vidas e equipe médica. Apesar do forte aparato de segurança, que inclui 25 homens e detector de metal na entrada, não é incomum flagrar algum convidado compartilhando um certo cigarro suspeito com a galera sem sofrer repressão.

Atração conhecida nas sofisticadas praias de Ibiza, na Espanha, em Punta del Este, no Uruguai, e na badalada Jurerê Internacional, em Florianópolis, o beach club desembarca pela primeira vez no Rio. No começo, teve dificuldade para emplacar, prejudicado pelo tempo chuvoso. Mas o sol deu o ar da graça e o Aqueloo viu o afluxo crescer. “Não sabíamos como o conceito seria recebido. Mas a aceitação foi tão grande que devemos criar uma carteira de sócio para os mais assíduos”, adianta Barcinski, que prorrogou até o fim de março a temporada atual e planeja repetir o evento no próximo verão. Ao conjugar tratamento vip e cenário paradisíaco, a praia privê seduz não só os nativos em busca de novidade como estrangeiros já familiarizados com a fórmula. “As mulheres são lindas”, derretia-se no Forte de Copacabana o turista havaiano Dominic Ahnee, habitué de beach clubs na Europa e nos Estados Unidos. “Aqui só tem gente bonita, e os homens sabem como se aproximar”, elogia a carioca Michelle Shane, que se divertia no último sábado ao lado da amiga Geane Fialho. Ambas de salto alto fincado na areia.

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