Atalho para o Oscar
O Anima Mundi, que começa na sexta (13), ganhou tanto respeito lá fora que agora poderá indicar filmes à estatueta
Alinhado hoje em dia com os cinco mais importantes eventos de animação do planeta, o Anima Mundi chega à sua vigésima edição cheio de novidades. O festival, nascido carioca em 1993 e mais tarde expandido para São Paulo, pela primeira vez servirá de ponte para o Oscar. Tendo conquistado ao longo dos últimos anos o respeito no metiê dos animadores estrangeiros, e dada sua repercussão internacional, o evento passa a ter o direito de indicar um pré-candidato à corrida pela cobiçada estatueta – privilégio do curta que se sagrar campeão da mostra competitiva. A disputa tem início na próxima sexta-feira (13), quando começam a ser exibidos, no CCBB e em mais cinco salas, os 470 filmes selecionados para a festa, entre 1?600 inscritos (a programação completa e os endereços estão no site de VEJA RIO). São produções vindas de países como França, Alemanha e Dinamarca, e mais uma vez haverá espaço para fitas de nações da antiga Cortina de Ferro, como Polônia e República Checa, berço de profissionais talentosos, que costumam se utilizar das mais variadas técnicas. Síria e Tunísia serão os estreantes do ano.
Veja aqui a programação completa do evento
Além do sonho de virarem “oscarizáveis”, os autores brasileiros participantes do Anima Mundi têm neste ano um motivo a mais para torcer: a batalha pelo Prêmio Carlos Saldanha. Não se trata de um troféu, e sim de uma recompensa financeira, de valor ainda não definido, a ser oferecida à melhor animação nacional. O próprio diretor (carioca radicado nos Estados Unidos, que estourou com A Era do Gelo e dirigiu Rio) já tem em mãos os concorrentes, mas o anúncio do vencedor será feito só no fim da fase paulistana do festival, no dia 29. Outro brasileiro que anda fazendo sucesso no exterior, o gaúcho Rodrigo Teixeira vai palestrar sobre o uso de 3D nas animações – nos créditos de A Invenção de Hugo Cabret, premiado longa de Martin Scorsese, ele aparece como diretor de efeitos visuais. Entre as celebridades estrangeiras desta edição, o destaque é o americano Adam Pesapane, conhecido como PES e famoso por animar objetos do cotidiano, como panelas e talheres, com humor e ironia. Os organizadores apostam ainda que uma das mesas mais concorridas será a do escritor Roger Horrocks, biógrafo do neozelandês Len Lye (1901-1980), pioneiro da arte gráfica, com seus filmes sem história, quase sempre coloridos, tais como um caleidoscópio musicado.
Se atualmente há uma dezena de convidados que vêm de fora, no início da década de 90 isso era algo muito mais raro. No primeiro Anima Mundi, o holandês Paul Driessen foi a estrela solitária do evento, que contava com um público bem menor e ainda sofria reflexos da parca produção brasileira da época ? o setor estava praticamente em recesso desde meados da era Collor, quando a Embrafilme foi fechada (confira no quadro a comparação entre a edição inicial e a atual). Neste ano, os destaques estrangeiros são os curtas Head over Heels, do inglês Tim Reckart, e Noodle Fish, do coreano Kim Jin Man, feito totalmente com macarrão.
Embora as transformações desde os primórdios sejam gritantes, um detalhe permanece: o quarteto que criou a mostra se mantém unido. Aída Queiroz, César Coelho, Léa Zagury e Marcos Magalhães, que lá estavam, num esquema quase mambembe em 1993, ainda hoje formam o núcleo duro da festa, tanto desempenhando o papel de curadores como cuidando da organização. Para além da burocracia, todos eles são também autores – com o curta Meow! (sobre um gatinho vidrado em propagandas de TV), Marcos ganhou o prêmio especial do júri no Festival de Cannes em 1982. É ele quem fala das dificuldades que costumavam enfrentar na primeiras edições: “Muito antes da internet e dos e-mails, os filmes chegavam ao Rio de avião, em latas, e, para não haver problemas na alfândega, volta e meia pedíamos interferência dos consulados”. Pela conta deles, hoje 90% das obras exibidas no festival são finalizadas no computador e enviadas de forma digital. Fã na infância do clássico Tom e Jerry, a parceira Aída lembra que outro grande problema foi convencer as pessoas de que não havia apenas Hanna-Barbera e Disney sobre a face da Terra. “E que desenho animado era uma coisa, animação era outra”, ela reforça. Por dez dias, o público carioca poderá provar que cresceu e aprendeu as lições.