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“Há muita criança infeliz na escola”, diz educadora carioca

Antônia Burke enfatiza a importância de prestar atenção no lado emocional dos jovens após as turbulências provocadas pela pandemia

Por Carolina Barbosa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
16 set 2022, 06h00
“O isolamento prejudicou demais o lado social”, diz a educadora -
“O isolamento prejudicou demais o lado social”, diz a educadora - (Carlos Andreh/Raiz Educação/Divulgação)
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Item obrigatório na grade escolar, segundo a Base Nacional Comum Curricular, o ensino de habilidades socioemocionais começa a se desenrolar na sala de aula de forma mais efetiva, impulsionado pela necessidade de pôr em prática um aprendizado menos enciclopédico e mais afinado com as exigências do século XXI. É a esse conjunto de capacidades, que focam em autoconhecimento, autonomia, empatia e outras, que se dedica a educadora carioca Antônia Burke, 35 anos, com vasta experiência como professora e diretora escolar e desenvolvedora do Programa Raízes, já aplicado em dezenas de instituições pelo país. Antônia falou a VEJA RIO sobre os reflexos provocados no lado social e emocional de crianças e jovens após a pandemia e os desafios do retorno ao presencial.

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Por que é mais necessário do que nunca se voltar para o lado emocional das jovens gerações? A pandemia exacerbou um cenário que já se observava: causou mais ansiedade, depressão, fobias e dificuldades de fazer amigos. Há muita criança infeliz dentro das escolas. As pessoas apenas acordaram um pouco mais para essa realidade.

Além das perdas acadêmicas provocadas pelo tempo longe da escola, quais outros prejuízos tiveram? Foram dois anos que todo mundo imaginava que seriam quinze dias. Lembro do meu filho, de 13 anos, achando que jogaria videogame nesse tempo e, à época, pensou: “Vai ser uma maravilha”. Depois de três meses, ele teve uma crise de choro por saudade da rotina e dos amigos. Isso me fez refletir sobre como aquilo estava afetando as novas gerações.

Quais as consequências que projeta no longo prazo? Só saberemos daqui dez, vinte anos. Mas hoje temos crianças e adolescentes ainda usando máscara, mesmo após sua liberação, porque sentem vergonha da mudança física pela qual passaram. Outros apresentam fobia, ansiedade, crise de pânico. Embora as dificuldades cognitivas sejam uma questão, o social foi o mais atingido. O isolamento, necessário naquele período, prejudicou demais o desenvolvimento deles.

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Em que medida? Muitos até hoje não conseguem fazer amigos, interagir, conversar, argumentar, se concentrar, ter perspectivas para o futuro. Dois anos distantes do convívio com a comunidade escolar faz muita diferença para uma criança. Por isso, é tão importante incutir nos alunos a destreza para debater e refletir sobre o que ocorre em seu entorno, incentivá-los a gerenciar o próprio tempo e trabalhar em equipe.

Há mais situações que derivam da longa privação do ambiente social? No âmbito virtual, cresceu o cyberbullying. Como eles ficaram muito tempo em casa, as telas foram suas melhores amigas. Uma parcela das crianças está mais agressiva, explode com mais recorrência e intensidade e chora com facilidade.

O vício nas telas, tão cultivado no esticado período de isolamento, atrapalha? Alguns revelam grande dificuldade em se desconectar. Uma escola me procurou desesperada para dizer que, na hora do recreio, ninguém interagia. Estava todo mundo vidrado em seus celulares ou tablets. As redes sociais são feitas para viciar mesmo.

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Quais benefícios enxerga para a vida das crianças com competências socioemocionais bem desenvolvidas? Além de boa autoestima e autocontrole, há uma visível melhora no desempenho escolar. Um aluno bem acolhido, com a saúde mental em dia, inserido em um ambiente familiar mais harmônico, com espaço tranquilo para estudar, sem grandes questões, seja na escola, seja em casa, aprende infinitamente melhor.

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