Os alertas que a morte de Juliana Marins traz para o turismo de aventura

Falta de estrutura e fiscalização na prática de atividades podem ser arriscadas e não se restringem à Indonésia

Por Marcela Capobianco
27 jun 2025, 06h09
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Juliana Marins: equipes de resgate levaram quatro dias para encontrá-la (Reprodução/Instagram)
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A viagem dos sonhos de Juliana Marins, de 26 anos, terminou de forma trágica. Natural de Niterói, a publicitária formada pela UFRJ estava desde fevereiro em um mochilão pela Ásia, compartilhando cada etapa da jornada pelas redes sociais. Passou por Tailândia, Vietnã e Filipinas antes de chegar à Indonésia, na ilha de Lombok, onde decidiu encarar um dos desafios mais conhecidos da região: a subida ao Monte Rinjani, o segundo vulcão mais alto do país, com 3 726 metros de altitude.

Na última sexta (20), durante a trilha até o cume, ela escorregou em uma área de terreno instável e caiu em direção à caldeira do vulcão. A partir dali, teve início uma corrida contra o tempo que mobilizou autoridades locais, voluntários e até outros turistas que estavam na montanha. O resgate, porém, logo se mostrou um desafio de enormes proporções, em uma das áreas de acesso mais difícil do parque natural.

Juliana Marins aguarda resgate há 3 dias
Resgate: primeiras imagens de drone após o acidente mostravamm Juliana à espera da equipe de salvamento (Instagram/Reprodução)

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O tempo era um inimigo constante. Neblina espessa, ventos fortes, temperatura abaixo de zero durante a noite e a própria geografia acidentada impediram o uso de helicópteros nos primeiros dias. As equipes de buscas locais desceram a pé, enquanto no Brasil familiares e amigos acompanhavam com angústia os relatos sobre as buscas. Famosos com forte presença nas redes sociais começaram a pressionar autoridades para agilizar o resgate. No domingo (22), a atriz Tatá Werneck fez um apelo para que seus mais de 56 milhões de seguidores acompanhassem o perfil no Instagram com informações oficiais sobre o caso.

A atriz Tainá Müller, que passava férias em Bali, escreveu um relato sobre a situação no país asiático. “Queria muito apelar para o governo brasileiro para checar as informações que estão sendo divulgadas”, publicou, mencionando o fato de que autoridades indonésias haviam passado informações falsas sobre o resgate à família.

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Por quatro dias, a possibilidade de encontrar Juliana com vida manteve todos em suspense. Até que na terça (24), os socorristas finalmente conseguiram alcançá-la. Pelo perfil Resgate Juliana Marins, a família publicou: “Com imensa tristeza, informamos que ela não resistiu. Seguimos muito gratos por todas as orações, mensagens de carinho e apoio que temos recebido.” O impacto da notícia foi imediato e devastador para quem acompanhava sua trajetória.

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A atriz Luana Xavier, que trabalhou com a niteroiense, resgatou um vídeo gravado com a publicitária. “Uma menina tão alegre, aberta para a vida, disposta a desbravar o mundo, mas que infelizmente deixou esse plano tão jovem. Foi massa trabalhar com você, Juliana. E a sua luz foi capaz de unir pessoas do mundo inteiro que clamaram com muito afeto pelo seu retorno”, escreveu.

Autoridades, como a ministra da igualdade racial, Anielle Franco, também lamentaram: “Desde sexta o Brasil todo estava torcendo por ela”. Já Tatá considerou o episódio um “descaso absurdo”. “Como chamam de ponto turístico e permitem uma trilha perigosa onde é impossível um resgate?”, indignou-se.

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A tragédia de Juliana na Indonésia acende o alerta para os riscos envolvidos em trilhas e outras atividades radicais, especialmente em uma cidade como o Rio, onde o turismo de aventura atrai tanta gente.

No mesmo fim de semana, enquanto um acidente matou oito pessoas durante um passeio de balão em Praia Grande, sul de Santa Catarina, na praia do Leme mais de setenta praticantes de stand up paddle foram arrastados por uma ventania e tiveram que ser resgatados pelos bombeiros.

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A empresa responsável pelo passeio teve o alvará cassado pela prefeitura, que após o incidente divulgou novas normas de segurança para a prática da atividade. “Regulamentamos a quantidade de alunos por aula, que agora é de no máximo 25, além das responsabilidades que cabem aos instrutores.

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No caso de uma ocorrência, eles precisam conseguir trazer as pessoas de volta à areia com segurança”, frisou o secretário de Esportes Guilherme Schleder sobre a publicação feita no Diário Oficial de terça (24). Mas além de criar normas, é preciso educar e fiscalizar. A pergunta que fica é: como isso será feito?

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Stand-up paddle: mais de setenta praticantes precisaram ser resgatados pelo Corpo de Bombeiros (Corpo de Bombeiros/Divulgação)
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Leia a homenagem completa de Luna Xavier a Juliana Marins:

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“Ouçam a gargalhada gostosa da Juliana Marins, essa menina tão alegre, aberta pra vida, disposta a desbravar o mundo, mas que infelizmente deixou esse plano tão jovem. Eu deixo aqui todo o meu carinho pra essa família, para que possam enfrentar esse luto da forma mais amena, se é que isso é possível. Todo o meu amor para vocês e minhas orações para que a Ju tenha uma passagem tranquila! Foi massa trabalhar com você, Juliana. E a sua luz foi capaz de unir pessoas do mundo inteiro que clamaram com muito afeto pelo seu retorno. Siga na luz!”

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E a postagem indignada de Tatá Werneck após a morte da jovem ser confirmada:

“Um descaso absurdo na Indonésia. Como chamam de ponto turístico e permitem uma trilha perigosa onde é impossível um resgate? E ao mesmo tempo palmas e agradecimentos para a equipe de voluntários e para quem arriscou a própria vida pra salvá-la. Essa família precisa ser acolhida. Mas houve sim demora. E mais uma vez fake news atrapalharam o processo porque inventaram que estavam resgatando Juliana e já tinham fornecido mantimentos ou que atrasou ainda mais o processo. Acompanhei a angústia dessa família esses dias. Sinto muito. Que recebam todo amor, carinho, força e conforto possíveis nesse momento.”

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