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“A política deve reduzir abismos sociais”

Vereadora Monica Benicio conta como transformou o luto em ação política e detalha seus projetos em defesa da cultura e de grupos minoritários

Por Da Redação
31 out 2025, 08h00
Vereadora Monica Benicio
 (Vereadora Monica Benicio. Leo Lemos/Reprodução)
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Nascida e criada no Complexo da Maré, a vereadora Monica Benicio (PSOL), 39 anos, é arquiteta e urbanista formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e cumpre atualmente seu segundo mandato, reeleita com mais de 25 000 votos. Viúva de Marielle Franco, cuja trajetória inspira sua atuação, Monica é a primeira vereadora declaradamente lésbica da cidade e tem como bandeiras o feminismo, a causa LGBT+ e o direito à cidade. Na Câmara, preside a Comissão de Cultura, a Comissão Especial do Carnaval e a de Monitoramento de Serviços Públicos para Mulheres, além de liderar frentes parlamentares de Defesa da Água e do Combate ao HIV/Aids, seguindo o legado de David Miranda. Em conversa com VEJA RIO, a parlamentar conta como entrou na política durante a pandemia de Covid-19 e detalha os debates que mais a orgulham até hoje.

Sua entrada na política aconteceu num momento de luto que se transformou em luta. Como foi essa transformação de uma dor pessoal em ação política? Em 2018, eu fazia mestrado em arquitetura e não pensava em política institucional. Depois do 14 de março, percorri o mundo pedindo apoio internacional e participei de atos de solidariedade, o que deu novo sentido à minha vida. Morre uma Monica e nasce outra. A Marielle deixou de ser só minha companheira e se tornou símbolo das lutas que eu também defendia. Em 2020, percebi que a política poderia ser uma ferramenta na busca por justiça. Movimentos sociais me encorajaram a me candidatar, e o partido apoiou.

Ter nascido e crescido na Maré influencia sua atuação política? Sem dúvida. A favela é vista pelo que ela “não tem”, fruto de uma presença do Estado ineficaz. Estudar numa faculdade particular da zona sul me fez enxergar mais ainda essas desigualdades. Ser criada na Maré e estudar na PUC formou minha visão feminista e socialista: o centro da política deve reduzir abismos sociais. Defendo que a favela seja reconhecida como espaço de desigualdade produzida, onde Estado e sociedade colaboram para a exclusão.

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Por que o Plano Municipal de Cultura é tão importante para o setor? Ao assumir a presidência da Comissão de Cultura, percebi desigualdades profundas no acesso a editais, especialmente nas zonas norte e oeste. O Plano Municipal de Cultura, construído coletivamente, garante 2% do orçamento à cultura por dez anos, consolidando políticas públicas permanentes e reduzindo desigualdades. Hoje, o setor cultural ainda depende da vontade política de quem está no poder, e o plano é essencial para assegurar recursos dignos e distribuição mais justa.

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Como presidente da Comissão do Carnaval, o que representa garantir um Carnaval popular, democrático e acessível? O Carnaval é central para a identidade do carioca, mas os blocos ainda enfrentam atrasos em editais e falta de fomento, saindo, muitas vezes, endividados. A comissão que presido busca ouvir os produtores, negociar com órgãos, reduzir taxas e ampliar prazos, garantindo apoio e valorização dessa manifestação cultural.

Como têm sido implementados projetos que você defendeu, como o Programa Municipal de Enfrentamento ao Feminicídio e o Programa de Apoio ao Acolhimento de Pessoas LGBTI? O desafio está na implementação, que depende da ação do Executivo. O Programa de Enfrentamento ao Feminicídio, aprovado em 8 de março de 2021, foi construído coletivamente, com pesquisadoras, coletivos e movimentos sociais, incluindo mulheres trans, derrotando uma emenda que tentava excluí-las. Mesmo assim, ainda não foi executado. Da mesma forma, o Programa de Acolhimento de Pessoas LGBTI, aprovado em 2022, enfrenta obstáculos orçamentários. Apesar disso, essas leis representam vitórias importantes: colocam pautas fundamentais em discussão, garantem aprovação legal e pressionam o governo a agir.

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Como mantém diálogo em um contexto polarizado? Defendo um republicanismo na Câmara, dialogando com quase todos os vereadores, mesmo adversários, exceto os com posições fascistas. O mandato é instrumento de movimentos sociais, feminista, socialista e LGBTI, buscando vocalizar desigualdades e urgências da cidade. O diálogo permite avançar nos debates e representar a sociedade civil organizada, mesmo sendo minoria.

Quais projetos lhe deram mais orgulho de defender na Câmara? Dar continuidade a pautas de Marielle e David Miranda, como a Frente de Combate ao Estigma do HIV/Aids e o Programa de Enfrentamento ao Feminicídio, construído coletivamente. Outra pauta especial é o Dia da Visibilidade Lésbica, que a Marielle tentou aprovar em 2017 e, após ser derrotada, inspirou o movimento Ocupa Sapatão. Desde 2019, realizamos os 10 Dias de Ação Sapatão, com atividades culturais e de debate, reafirmando que visibilidade é cidadania — existir com dignidade, não apenas resistir.

O que ainda a motiva na política e quais os próximos passos? Sou inspirada pela representatividade: sou a única vereadora lésbica entre 51 cadeiras, e ocupar esse espaço permite dar voz a mulheres feministas, faveladas e LGBTQ+. Os próximos passos são decididos coletivamente, e meu foco é continuar enfrentando o avanço da extrema-direita e usar meu mandato como ferramenta para fortalecer movimentos sociais, inspirar novas gerações e construir políticas coletivas.

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