A música no tempo
Raridade de 1856, obra com partituras e gravuras dedicadas ao Rio é reeditada e ampliada por pianistas contemporâneos
“É simples, quatro compassos / E muito saracoteio / Cinturas presas nos braços / Gravatas cheirando o seio.” Os versos de Machado de Assis definem com graça a polca, dança do momento no Rio da segunda metade do século XIX. Esse e outros gêneros musicais trazidos da Europa animavam os salões em partituras tocadas por pianistas. Rodrigo Alzuguir, ator, produtor e pesquisador, resgata o poema de Machado, costumes do oitocentismo e uma obra-prima da imprensa musical brasileira no livro Rio de Janeiro — Álbum Pitoresco Musical 1856 e 2014 (Edições de Janeiro; 160 págs.; 80 reais). O título é emprestado da publicação de 1856, edição luxuosa com partituras de sete composições dedicadas a paisagens do Rio: Botafogo, Glória, Jardim Botânico, São Cristóvão e Tijuca, além de, em concessão às adjacências, Petrópolis e Boa Viagem. Alzuguir assina os textos sobre os compositores das peças e seus estilos musicais, reproduzidos junto a partituras e a belas gravuras do francês Joseph-Alfred Martinet encartadas no raro original. O “2014” acrescentado na capa refere-se a uma deliciosa continuação: sete pianistas dos dias de hoje participam da publicação com homenagens musicais a outros bairros cariocas, acompanhadas de desenhos de Guilherme Secchin, além de um disco em que registram as composições antigas e atuais.