Nos 40 anos do Sambódromo, 5 momentos inesquecíveis do Carnaval carioca
Se fosse vivo, o Marquês de Sapucaí certamente reprovaria o magistral desfile das escolas de samba
O palco maior das escolas de samba, definidas como “as maiores instituições civilizatórias do Brasil” pelo professor e historiador Luiz Antônio Simas, está completando 40 anos de vida. O Sambódromo é a passarela do espetáculo que é tido como o maior a céu aberto da terra, atraindo os olhares e desejos de pessoas em todas as partes do mundo, quando a Avenida Marquês de Sapucaí se transforma num mundo encantado durante os desfiles oficiais do Carnaval.
As histórias são muitas, gravadas para sempre nas memórias, assim como as curiosidades envolvendo o espaço que recebe cerca de 100 mil pessoas durante o Carnaval, segundo estimativa da prefeitura.
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Marquês de Sapucaí
Muita gente se pergunta quem é o personagem que batiza a Avenida, e a resposta surpreende pelo fato de que, muito provavelmente, a figura em questão desaprovaria os desfiles das escolas de samba e as liberdades da festa carnavalesca. Cândido José de Araújo Viana (1793-1875) foi professor de literatura de Dom Pedro II e da Princesa Isabel, desembargador e político, cavaleiro da Ordem de Cristo e extremamente conservador. Ganhou títulos de visconde e marquês e acabou batizando o templo do carnaval carioca.
Leonel, Darcy e Niemeyer.
O primeiro carnaval na Rua Marquês de Sapucaí foi em 1978, mas a passarela foi inaugurada em 1984, sob os olhares incrédulos de muita gente que não acreditava na conclusão das obras anunciadas pelo então governador Leonel Brizola. Ao lado de seu vice, Darcy Ribeiro, ele encomendou o projeto ao arquiteto Oscar Niemeyer. “A ideia principal foi fazer o carnaval voltar pro povo, que todos tenham acesso à parte terra, às praças previstas pelo povo, de modo que as arquibancadas e camarotes são elementos suspensos, o que não prejudica este aspecto popular, que, a meu ver, era o mais importante”, disse Niemeyer, na época.
Números
Participaram da construção da avenida uma equipe de 2,5 mil operários, selecionados entre milhares de trabalhadores que fizeram fila no canteiro de obras. Foram 156 dias de trabalho, 18 mil metros quadrados de concretagem, 2,2 mil toneladas de aço, e 120 mil sacos de cimento.
Mangueira ou Portela?
Em 2 de março de 1984, a escola Império do Marangá, de Jacarepaguá, inaugurou o Sambódromo em um desfile oficial, na disputa do Grupo 1-B. O resultado: a escola atrasou 45 minutos, perdeu cinco pontos e foi rebaixada, nunca mais retornando à Sapucaí. O desfile foi dividido em duas noites e teve duas campeãs escolhidas pelos jurados. A Portela venceu a primeira, e a Estação Primeira de Mangueira levou a segunda noite. Houve um terceiro desfile, no sábado das campeãs, valendo como desempate, e a Mangueira triunfou em desfile impressionante no qual contornou a Praça da Apoteose e voltou desfilando.
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Cristo tapado e os mendigos
A Beija-Flor não levou o título em 1989, mas fez história com Joãosinho 30, o gênio carnavalesco. Além das alas de mendigos, incluindo mendigos reais convidados na hora do desfile do enredo “Ratos e urubus, larguem minha fantasia”, a imagem de um Cristo Redentor em farrapos foi reprovada pela Arquidiocese e desfilou coberto de lona, com a faixa gigante: “Mesmo proibido, olhai por nós”. Foi um delírio coletivo que muitos consideram o momento mais importante da história do Sambódromo, mas a vitória apertada ficou com a Imperatriz Leopoldinense, com outro defile de antologia, a bordo do enredo “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós”.