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Patricia Lins e Silva

Por Patrícia Lins e Silva, pedagoga Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Educação
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Racismo é inaceitável

Como falar sobre esse assunto com os filhos? Como educá-los para não serem racistas?

Por Patricia Lins e Silva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
27 Maio 2020, 13h30
racismo
Injúria racial: Equiparado ao racismo, crime tem pena prevista de 2 a 5 anos de reclusão. (Particularly/Pixabay/Reprodução)
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Racismo é inaceitável.

 “Nossas vidas começam a terminar no dia em que ficamos em silêncio sobre as coisas que importam.”   Martin Luther King Jr.

Um episódio recente de racismo, que aconteceu com uma adolescente e um grupo de colegas, chegou à mídia e causou justa indignação. Imediatamente nos lembramos que esses episódios não são eventuais, que manifestações racistas são praticadas diariamente, mas não chegam a criar repulsa porque naturalizamos o comportamento preconceituoso e continuamos com a herança da escravidão.

O assunto é grave e cabe aos adultos, pais e educadores, formar filhos e alunos não racistas. A começar por não recorrer à tentativa de justificar a discriminação como ‘coisa de criança’, que passa. Não, não passa. É tema para conversa longa com as crianças e os jovens para que percebam a irracionalidade do preconceito.

Como falar sobre essa violência com os filhos? Como educar os filhos para não serem racistas? Um dia, uma mãe negra me disse que nunca teve o luxo de decidir se educa ou não os filhos para a aceitação das diferenças porque esta é a vida cotidiana dos negros. A escritora Lonnae O´Neal, do jornal The Washington Post, alerta que essa questão séria não diz respeito apenas aos negros, mas a todos nós, à nossa História. E exatamente propõe começar conversando com as crianças sobre a história dos países escravistas. E o Brasil é um deles.

Nossos filhos precisam saber o tamanho da dívida histórica que o Brasil tem com os descendentes dos escravos africanos, saber que nossa História se assentou sobre os ombros dos negros aprisionados e trazidos da África. Lembra o pensador Fabio Comparato que, no Brasil, fantasiamos que os escravos eram bem tratados, bem alojados e alimentados, que paravam o trabalho para descansar, divertir-se e praticar a religião. Enquanto outros países não ocultaram seus atos de crueldade, o Brasil sempre preferiu a ilusão de que não tem preconceitos em relação aos negros e pobres. Mas essa nunca foi a realidade e as brutalidades cometidas foram sempre encobertas.

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Em 1824, a Constituição aboliu os açoites, a tortura, a marca de ferro quente e todas as penas cruéis. Mas, em 1830, o Código Criminal determinou a pena de galés, que sujeitava os réus, sempre escravos, a andarem com calceta no pé e corrente de ferro. Usava-se muito um instrumento de tortura que era uma máscara de folha-de-flandres que tinha três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça com um cadeado. Havia as mutilações, dedos decepados, dentes quebrados. Os escravos fugiam com frequência, tanto que até havia pessoas com o ofício de pegar escravos. Nos fugitivos era colocada uma coleira de ferro grossa no pescoço, pesada. O castigo pelo açoite era cruelmente aplicado e os cativos continuaram a ser marcados com ferro quente apesar da expressa proibição constitucional. Os senhores rurais não tratavam os escravos como pessoas, mas como coisas. Faziam o que bem entendessem com eles.

O comportamento não oficial, paralelo à lei existente, sempre prevaleceu. Os diversos tratados com a Inglaterra para a interrupção do tráfico negreiro não impediram que os carregamentos de africanos continuassem a ser desembarcados na costa brasileira sem nenhum pejo, à vista da polícia, e os negros encaminhados para a venda como escravos nas vilas e fazendas.

Conta a historiadora Wlamyra Albuquerque, da Universidade da Bahia, que a própria lei da Abolição, assinada depois de 300 anos de escravidão, no 13 de maio de 1888, criava restrições à população negra sem explicitação, relegando-a  a uma espécie de sub cidadania.

Essas histórias estão em muitos livros, que podemos consultar ou ler para as crianças, levando em conta a idade delas. São histórias espantosas de seres humanos tratando outro ser humano de maneiras inconcebíveis; uma história de pessoas desinformadas, sem empatia, com uma visão de mundo ilógica e irracional.

 Como a cultura branca ainda é hegemônica, isto é, ainda prevalece na cultura, as crianças podem perceber que muitas outras crianças não se encontram representadas nas histórias, nas bonecas, nos brinquedos. O objetivo é sempre conversar e tornar as diferenças reais, normais e iguais.

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Parece tudo muito fácil e sabemos que não é. Mas os pais são responsáveis por essa questão delicada. A escola também tem sua parte, mas, nesse caso, a parceria com a família é fundamental. É responsabilidade de todos os educadores – pais e professores – criar uma imagem realista do que acontece no país. As crianças precisam saber, acima de tudo, que todas as pessoas são iguais, sem importar cor, gênero, etnia, religião.

Em 2003, a Lei 10.639, inseriu na escola a temática do negro no Brasil e a História da África, mas há dificuldade em sua institucionalização. O arcabouço cultural que nos cerca não ajuda a livrar o país desse racismo endêmico.

A família e a escola podem colaborar muito para eliminar o racismo estrutural da sociedade, mostrando às crianças que a história da escravidão perdura, que o racismo existe, sim, e que não pode ser tolerado.

 Vamos educar a próxima geração sem preconceitos, sem discriminações, sem racismo.

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