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Por Gilberto Ururahy, médico
Especialista em medicina preventiva
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A pandemia do estresse

Enfrentaremos um novo estresse – voltar ou não à vida normal

Por Gilberto Ururahy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 19 jun 2020, 13h51 - Publicado em 19 jun 2020, 12h34

Recebi o texto abaixo do meu amigo Ricardo Braga, psiquiatra e psicoterapeuta, a quem pedi licença para compartilhar com os leitores desta coluna por ser muito apropriada para o momento em que estamos passando.

 

Boa leitura!

A PANDEMIA DO ESTRESSE

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O coronavírus e o isolamento social já são o maior estresse de toda a história da civilização. Nenhum evento mobilizou uma reação igual e com semelhante taxa de adesão. Não se trata apenas de uma obediência generalizada às recomendações dadas, mas de um pânico disseminado. Podemos ainda diagnosticar outra pandemia – a do estresse.

Protágoras, um filósofo grego pré-socrático, escreveu, que “o homem é a medida de todas as coisas”. Isto significa que, em última análise, a avaliação da extensão de um fato é determinado pelo ponto de vista de cada um de nós – o único fato objetivo é que tudo tem uma dimensão subjetiva. Essa é a que buscamos aqui.

Sem aumentar ou diminuir o problema damos uma outra medida. Esta visa reduzir o sofrimento diante dele, mais traumático para uns que para outros.

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Estresse é uma reação de adaptação a um desafio que pode ser tanto positivo, como uma promoção no trabalho, quanto negativo como uma ameaça de morte – uma pandemia.

O nosso organismo se prepara para uma resposta padrão de luta ou fuga. Em uma floresta, por exemplo, diante de um animal feroz, ou o enfrentamos, se tivermos condições, ou fugimos para um lugar seguro e protegido. Uma descarga de adrenalina é a defesa que o corpo faz. Resolvendo o desafio normalizamos em até quarenta e oito horas, mas nem sempre é assim que ocorre.

O fato de causar sofrimento psíquico depende da intensidade do fator traumático, da duração de exposição e mais importante, da resposta do indivíduo: sua adaptação ou não à situação. É preciso, para adoecer, sofrer um evento traumático sério de forma a – ‘ experimentar risco de morte ou graves danos à própria integridade física, sendo vivenciados com sentimentos de impotência, medo intenso ou horror’. Nesse caso aparece o transtorno de estresse agudo. Se não resolver o desafio em até um mês , outro quadro ocorre: o transtorno do estresse pós-traumático. Já estamos há três meses em isolamento, atingimos a fase pós-traumática.

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Esses transtornos costumam ocorrer junto com abuso de álcool, drogas e medicamentos para aliviar a ansiedade envolvida.

Os sintomas dos transtornos tem um espectro de respostas que varia da negação do trauma, com desorientação ou choque emocional, até otimismo e heroísmo. A memória sofre alterações, revive o trauma como se fosse hoje. Procura-se evitar pensamentos e locais relacionados ao susto, diminui-se o interesse em tarefas relacionadas e busca-se isolamento social.

Os sintomas mais aflitivos são provocados pelo excesso de adrenalina e cortisol. A excitabilidade produz dificuldades de conciliar o sono, ansiedade, irritabilidade e falta de concentração.

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Essas alterações ocorrem tanto no transtorno agudo como no pós-traumático. A diferença entre os dois quadros está no período em que ocorrem: até um mês no quadro agudo, depois disso, chamamos pós traumático. Esse segundo quadro ocorre na ausência do evento traumático inicial.

Entrando na fase de flexibilização da quarentena é preciso se preparar para a volta gradativa à normalidade na sociedade. O medo e o risco de contágio continuarão por um bom tempo: precisamos nos fortalecer. Não custa lembrar – o sofrimento maior ou menor depende de você – sua adaptação.

Enfrentaremos um novo estresse – voltar ou não à vida normal. Números e gráficos são apresentados como a verdade da hora e qualquer versão poderá ser encontrada. A melhor forma de tomarmos a decisão certa é estarmos atentos e bem informados.

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Uns podem negar que precisam voltar a trabalhar, outros podem ficar paralisados , esperançosos e corajosos serão vistos , enquanto muitos revivendo o risco de vida evitarão sair de casa. A variação vai da negação ao heroísmo! As atitudes são parecidas com os sintomas pós traumáticos. A piora da ansiedade é comum nesta fase.

Políticos, cientistas e profissionais tentam resolver a questão. O que nos garante que o risco ainda não passou ou se estamos sofrendo um transtorno coletivo? Seguir as orientações oficiais nem sempre trará segurança. Revivemos uma ameaça sem fim? Como saber, se estamos avaliando com a razão ou na pura emoção do trauma? Quem se aventura a dar a palavra final: terminar de vez este isolamento ou viver sob estresse pós traumático eternamente?

Dr. Ricardo Braga, psiquiatra e psicoterapeuta individual.

 

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