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As NOVAS vozes da cena musical brasileira contemporânea
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Chico Buarque: seu canto e seus encantos

Se você não concorda com o posicionamento político de Chico, vá sem medo. O show é pra você porque a arte é inclusiva.

Por Fabiane Pereira
30 jan 2018, 16h39

É dificil conseguirmos ‘ser’ na escrita (literária) porque a ‘memória é uma ilha de edição’ (Salve, Waly!) mas minha construção de lembrança musical afetiva jamais começaria por outra pessoa senão por ele: Chico Buarque de Hollanda.

Foi no meu aniversário de sete anos que ganhei de minha mãe o vinil d’Os Saltimbancos. Na ocasião, ela orgulhosa dizia às amigas que a filha era “apaixonada” pelas canções de Chico Buarque – assim como ela e sua mãe, minha avó. De fato, o presente foi um pedido meu. Ouvia tanto aquela voz pelos cômodos da casa que quis tê-la em meu quarto “só pra mim”. Naquela época, as crianças não ganhavam presentes a todo momento, só em situações especiais como uma festa de aniversário. Então tive que esperar por quase seis meses para ganhar aquele disco.

Meus coleguinhas queriam ouvir e dançar ao som do Xou da Xuxa – que naquele ano era febre entre a criançada – mas como a festa era minha (e eu sou ariana), era justo que eu comandasse as picapes. Então passamos a tarde brincando embalados pela “História de uma gata”, “Bicharia”, “A Galinha” e todas as outras faixas daquele disco antológico. Foi amor a primeira ouvida, certeza.

Cresci apaixonada por aquela voz e aos poucos fui conhecendo melhor a história e a obra de Chico. Já li todos os livros que ele lançou e considero “Leite derramado” uma obra prima. Mas o que me encanta e inebria em Chico Buarque – além dos olhos verdes e daquela malemolência carioca intacta mesmo com 73 anos –  é a coerência de sua vida pública.

Filho do historiador Sérgio Buarque de Holanda e de Maria Amélia Cesário, Chico lançou seu primeiro álbum em 1966. Com o acirramento da ditadura militar estabelecida em 1964, a produção artística de Chico sofreu grande impacto. Em 1967, ele estreou o espetáculo Roda-Viva, que acabou censurado. Há vários episódios em que o artista foi atacado por sua ideologia política – um dos mais recentes aconteceu em 2015, no bairro do Leblon, e foi causado por dois jovens que em pleno século XXI não entenderam que democracia se faz com liberdade de expressão e respeito ao outro.

Se sua posição política divide opiniões, sua obra continua sendo objeto de estudo e admiração (quase) unânimes. Ao longo dessas cinco décadas de produção musical, Chico caminhou com coerência e manteve sua obra intacta, não modificando seu estilo com o tempo. Ao contrário de Gil e Caetano que adaptaram suas obras para a “modernidade contemporânea”, Chico – até onde eu sei – “só” utilizou versos do cantor Criolo na música “Cálice” em alguns poucos shows da turnê realizada em 2011 e nada mais.

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Muitas de suas canções são conhecidas pelo “eu lírico” feminino e talvez venha daí o encantamento da mulherada. Cá entre nós, só Chico é capaz de arrancar suspiros admirados de três gerações ao entoar “Olhos nos olhos”, “A História de Lily Braun”, “Teresinha” e tantas outras.

Sexta passada fui, finalmente, assistir ao show da turnê “Caravanas” no Vivo Rio. Já tinha lido as críticas e decorado cada verso das novas músicas, por isso, ansiava por este momento embora soubesse que “minha música preferida da vida” não estaria no roteiro (Quem te viu, Quem te vê). O show se impõe como um marco antológico na trajetória do artista nos palcos por vários motivos mas principalmente por estarmos vivendo, de fato, um momento “ímpar” na história recente da democracia brasileira.

Chico Buarque: temporada carioca de ‘Caravanas’ (Leo Aversa/Divulgação)

Chico fica em cartaz no Rio de Janeiro, esta cidade esquecida e saqueada pelo poder público, até dia 4 de fevereiro (próximo domingo) e o show em momento algum soa panfletário. Se você não concorda com o posicionamento político de Chico, vá sem medo. O show é pra você porque a arte é inclusiva e em momentos difíceis como o que estamos passando, ela se torna mais que necessária, ela é mola propulsora.

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Os Saltimbancos é uma das mais expressivas obras de teatro musical dedicada ao publico infantil e narra as aventuras de quatro bichos que, sentindo-se explorados por seus donos, fogem para a cidade e tentam a sorte como músicos.

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#ficaadica: os ingressos para a 6a edição do FESTIVAL FARO que acontecerá dia 9 de março estão à venda no site e na bilheteria do Circo Voador. Uma ótima oportunidade para conhecer uma parcela importante do novo e atual cenário musical brasileiro.

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