Festas na pandemia: a responsabilidade dos ídolos com seus fãs
Aglomeração ganhou o noticiário e expôs artistas que influenciam crianças e adolescentes
No momento em que a segunda dose da vacina não chegou ao braço de nem 10% da população, a circulação de variantes não para de crescer e a exaustão vai ganhando terreno na saúde física e mental das pessoas, eis que chega ao noticiário a realização de festas, reunindo centenas de convidados. Esse movimento, ainda que timidamente, já havia se iniciado no Ano Novo e no Carnaval.
Agora, se não bastasse a falta de empatia no momento em que o Brasil soma mais de 430 000 mortos, a boca livre chama atenção pela irresponsabilidade, já que as autoridades sanitárias ainda clamam pelo isolamento social como forma mais eficiente de conter a propagação da Covid-19.
Vez ou outra, a imprensa relata os nomes de artistas que aceitaram se apresentar nestas festas privadas. Invariavelmente, eles alegam que ao serem contratados, lhes foi assegurado que todos os protocolos sanitários seriam respeitados. Não é o que mostram fotos e vídeos. Artistas precisam exercer seu ofício, assim como todos os demais trabalhadores. No entanto, é preciso ter responsabilidade com o tipo de trabalho que se aceita.
Esses artistas tem muitos fãs e um séquito de seguidores em suas redes sociais. Eles precisam estar atentos que os mais jovens aprendem pelo exemplo. Gostem ou não, ídolos influenciam fortemente seus fãs. Sempre foi assim: esportistas, músicos e atores ditam o comportamento de crianças e jovens. Essa tendência cresceu consideravelmente no mundo das redes sociais. Portanto, lamentar a morte de colegas por Covid-19 no perfil do Instagram e aglomerar em festas, achando que não serão descobertos, é mais que uma incoerência, é um tiro no pé.
A pandemia tem sido uma grande prova de fogo em diversos aspectos. A responsabilidade com o que se faz e com o que se fala talvez seja uma das vertentes mais significativas do atual momento. Que as celebridades tenham dimensão do poder e alcance das suas atitudes junto ao público que os tem como referência de postura e conduta.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).