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Psiquiatra infantil
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“Definhamento”: o mal-estar na pandemia

Estagnação, vazio, falta de propósito e dificuldade de concentração são alguns dos sintomas

Por Fabio Barbirato
Atualizado em 9 jun 2021, 14h07 - Publicado em 9 jun 2021, 09h58

Se não acontece com você, certamente é a realidade de alguém próximo: desde que a Covid-19 entrou em nossas vidas e o isolamento social foi a solução imposta tornaram-se constantes o sentimento de estagnação, vazio, dificuldade de concentração, uma sensação de que os dias estão se arrastando. Em artigo no jornal americano The New York Times, o psicólogo em Wharton e autor de livros Adam Grant definiu este sentimento estabelecido pela pandemia como “definhamento” (“languishing”, no original em inglês).

Segundo Grant, não se trata de esgotamento ou depressão. Para ele, o sentimento é de falta de alegria ou de objetivo. Esse cenário é propício para o tal “definhamento” a que ele se refere. Já vivemos várias “pandemias” dentro da pandemia. No começo, dias de incerteza e dúvidas. Com o passar dos meses e o maior conhecimento da doença, veio a sensação de abatimento e, logo em seguida, o “definhamento”.

O autor explica que na psicologia há diferentes níveis no que se refere à saúde mental. A escala vai de depressão ao florescimento (“depression to flourishing”, no original), sendo este último o ápice do bem-estar. O definhamento é o meio do caminho. É o vazio onde muitos se encontram: o buraco entre depressão e florescimento. É como se tudo estivesse a meio do caminho: não há sintomas de doença mental, mas também não há indicativos de plena saúde. Segundo Grant, o definhamento intimida a motivação, distrai a capacidade de se concentrar e aumenta consideravelmente as chances de queda no rendimento no trabalho.

Pesquisas do sociólogo Corey Keys, que orientaram Grant em seu artigo, indicam que pessoas com maior probabilidade de experimentar depressão e ansiedade na próxima década não são as que apresentam sintomas hoje, mas sim as que estão “definhando” neste momento. O perigo reside no fato que quando a pessoa se encontra neste quadro, ela não tem a capacidade de enxergar que está, lentamente, resvalando para a solidão. O indivíduo torna-se indiferente à própria indiferença. Diante disso, a ajuda profissional fica inviabilizada.

Quando trazemos essa realidade para o Brasil a situação fica ainda mais grave porque o país já padece de números alarmantes no que se refere à saúde mental. Segundo a OMS apurou em 2019, somos a nação com maior número de casos de ansiedade e o quinto em depressão. Tendo em vista os últimos dois anos, o quadro seguramente se agravou. O definhamento, portanto, comprometeu a saúde mental de pessoas saudáveis até então.

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Trazendo para a realidade nacional, a sensação de definhamento se junta à de revolta diante das pessoas que simplesmente se recusam a seguir os protocolos sanitários, guiados pela ciência. É um duplo risco: colocam em perigo a vida dos demais e dão o mau exemplo a quem os cerca – principalmente as crianças.

Países da Europa e Estados Unidos já vacinaram boa parte da população. O verão se prenuncia no Hemisfério Norte, trazendo a promessa de uma temporada de reencontros e renascimentos. Se será o final da sensação de “definhamento”, ainda é cedo para dizer. Façamos nós a nossa parte no Brasil para que quando o verão chegar – logo ali, daqui a seis meses – possamos nós também dar adeus ao definhamento que marcou nossos últimos dois anos.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM  e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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