O alto preço das crianças fora das escolas
Estudos são unânimes em defender a volta das crianças e adolescentes ao ambiente escolar
Com a vacinação andando a passos mais acelerados no Rio de Janeiro nas últimas semanas, profissionais de educação do ensino básico (creche, pré-escola, ensino fundamental e ensino médio) já foram imunizados. Nesta 4ª feira, 16 de junho, é a vez dos professores de educação superior e cursos profissionalizantes. Sendo assim, a expectativa é que até o final do mês, todos os profissionais de educação estejam vacinados com a primeira dose, o que já garante uma boa proteção. Diante deste cenário, é mais que recomendável, é fundamental que se pense na retomada das aulas presenciais em caráter definitivo.
Com a imunização dos profissionais de educação, que já era baixo, torna-se praticamente nulo. Estudo com um grupo de voluntários de uma comunidade do Rio de Janeiro coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com outras instituições de pesquisa, concluiu que é mais frequente a transmissão de Covid-19 de adultos para crianças do que de crianças para adultos. O mesmo estudo da Fiocruz defende que “escolas e creches poderiam potencialmente reabrir se medidas de segurança contra a Covid-19 fossem tomadas e os profissionais adequadamente imunizados”. É exatamente a este ponto que chegaremos no final do mês. Portanto é hora de tentar recuperar-se dos danos que os últimos 13 meses afastado do ambiente escolar pode ter deixado nas crianças e adolescentes. E estudos iniciais apontam que eles são vários.
Pesquisa feita pela UFRJ com pais, professores e diretores da pré-escola, indica que muitas famílias não mantiveram nenhum contato com os docentes durante a pandemia. A situação é mais preocupante na rede pública, onde esse índice sobe para 33% (contra 10% dos alunos da rede privada). A manutenção dos laços com a escola durante o ensino remoto manteve o mínimo de interação com outras crianças e com os professores, fundamentais no trabalho com crianças menores de 5 anos. Mas os empecilhos neste período foram muitos: da dificuldade na conexão da internet e no uso das plataformas online de ensino à dispersão dos alunos. O resultado é uma evasão escolar recorde: segundo a Unicef, a quantidade de alunos com idades entre 6 e 17 anos que abandonaram as escolas foi de quase 1,4 milhão. Para um país com grande analfabetismo e alto índice de crianças fora da escola é mais que uma má notícia: é uma tragédia.
O preço de tanto tempo fora da escola em tempo integral começa a aparecer agora. O estudo “Bem-estar subjetivo em adolescentes de Luxemburgo, Alemanha e Brasil durante a pandemia de Covid-19”, publicado no início deste mês, comparou o impacto da pandemia na qualidade de vida de 1.613 jovens entre 10 e 16 anos. Apesar de enxergar pontos de convergência entre adolescentes oriundos de lugares tão diferentes, o material atestou que estudantes com menor renda sofreram mais severamente os impactos do coronavírus no bem-estar do seu dia a dia, especialmente as meninas.
Outro artigo, coordenado por especialistas de diferentes países, inclusive do Brasil, mostra que crianças e adolescentes fora da escola estão atrasando – na cognição e no comportamento – em mais de 76%. Ou seja: a volta às aulas presenciais em agosto não é só saudável, mas também necessária para a saúde e o bem-estar das crianças e adolescentes.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).