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Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD.
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.
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Saúde mental: vencer ou ser feliz?

O propósito da vida é mais viver do que ganhar. Perder faz parte da construção da maior das vitórias: a vida

Por Dr. José Alberto Zusman e Dr. Fabiano M. Serfaty
Atualizado em 3 ago 2021, 14h21 - Publicado em 1 ago 2021, 19h32

Por Dr. José Alberto Zusman e Dr. Fabiano M. Serfaty

O esporte nos ajuda entender um pouco melhor a vida. O episódio pelo qual passou a Simone Biles trouxe à tona um aspecto importante para todas as pessoas de qualquer profissão: a questão da saúde mental.

A saúde mental não é “desconectada“ do corpo humano. A saúde mental é parte fundamental da nossa saúde geral e do nosso bem-estar, afinal, a boa saúde humana consiste no funcionamento em conjunto e harmonia do corpo e da mente.

Há culturas que dividem as pessoas, de forma maniqueísta, entre vencedores (winners) e perdedores (losers).
As Olimpíadas, dentre as diversas coisas boas que traz, como substituir as guerras, acaba sendo para alguns um simulacro da fictícia ideia de que existem “super humanos” amados por toda humanidade. Esta é uma ideia ilusória, uma vez que somos todos seres “humanos”, passíveis de erros e falhas.

O que assistimos no caso da Simone Biles foi a triste constatação de alguém que paralisou diante do risco de deixar de ser uma winner em caso de uma derrota e se tornar uma loser. Mais do que isso, em sua mente, a ideia de deixar de ser amada.
Na cultura norte-americana, como em outras, loser além de ser um xingamento define parte da identidade da pessoa.
Alguns dizem que Simone “amarelou”, quando na verdade foi muito mais grave. Ela teve medo de desbotar e deixar de se reconhecer no espelho. Pior, de se ver deformada para o mundo que passaria a ter horror a ela.

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O que faz um winner virar um loser em segundos?
Nesse sistema maniqueísta de vida não há meio-termo. Ou você representa o “melhor” ou o “pior” da espécie humana. Simone agora está sendo assistida por uma junta multiprofissional para avaliar seu problema, quando ela talvez só precisasse de carinho e de um suporte emocional para saber que ganhando ou perdendo ela continuaria a ser vista como humana e amada como tal.

Esse fenômeno vem de longe no desenvolvimento humano. Na infância vem da ideia que a alegria é consequência da vitória, quando o oposto é que é verdadeiro. Quando alegres significa que vencemos. É como alguns que acreditam que é preciso ser rico para ser feliz. Vencer na vida para ser reconhecido. Ledo e grave engano. Só somos felizes quando somos nós mesmos. E humanos que somos, ora ganhamos e ora perdemos. O amor vem da autoestima que, por sua vez, vem do olhar que nossos cuidadores possuem sobre nós.

A perfeição não é um traço humano. Quando pequenos, queremos ser perfeitos como expressão da nossa insegurança de não sermos devidamente apreciados. Quando menores ainda encontramos no brilho nos olhos dos nossos cuidadores que, simplesmente encantados com a nossa existência, nos fazem sentir plenos de amor e segurança. Somos felizes por quem somos e não por nossos feitos. O significado das nossas vidas vem do reconhecimento de que fazemos o nosso melhor possível.

O propósito da vida é mais viver do que ganhar. Ganhar é parte de um jogo comparativo que reduz a vida a uma pequena parte da imensidão de suas possibilidades. Perder faz parte da construção da maior das vitórias: a vida.

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Bom é quando nossos julgadores internos, representantes dos nossos vínculos parentais primevos, nos permitem sentir parte de uma vida significativa na qual o maior significado de todos é, simplesmente, existir com o orgulho de sermos únicos e incomparáveis. Afinal, talvez essa seja a melhor conquista de todas. Exatamente como um antigo e verdadeiro ditado: “o bom é inimigo do ótimo!”.

Tomara que Simone Biles entenda que seu primeiro lugar está não no campo da disputa, mas sim na sua própria singularidade e originalidade. Certamente, nunca haverá uma outra Simone Biles na Terra. E isso serve para cada um de nós, que somos todos primeiros lugares e singulares nesta vida.

Na história da vida, Simone já é vencedora e nem existem segundos lugares. Mais ainda, que ela e todos nós possamos saber que o amor genuíno e incondicional pode ser encontrado em qualquer etapa da vida independentemente de qualquer vitória ou derrota.

De acordo com um ditado talmúdico : “Se alguém diz: ‘Tentei, mas nada consegui’, não acredite nele”. Por quê? Porque tentar é conseguir. É o esforço no processo despendido por nós que importa, muito mais que o próprio resultado final.

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Para cada um de nós, então, existe algo que só a gente pode fazer e realizar como nossa missão divina. Isso não significa que somos melhores que os outros, apenas que somos singulares e os únicos capazes de achar a nossa “melhor versão” de nós mesmos. Que Simone Biles e todos nós possamos crescer nas derrotas da vida e vencer na nossa singularidade para buscar a nossa felicidade com propósito e significado nesta vida.

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