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Fabiano Serfaty

Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD. Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.
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Covid-19: como saber se você se tornou adicto no isolamento social

Dr. Fabiano M. Serfaty e Dr. José Alberto Zusman falam sobre dependência no isolamento social na pandemia do novo coronavirus

Por Dr. Fabiano M. Serfaty e Dr. José Alberto Zusman
Atualizado em 30 jun 2021, 09h30 - Publicado em 2 abr 2021, 15h06
Pessoa sentada na janela sozinha
Isolamento social: até que ponto corremos o risco de nos tornarmos adictos?  (Pixabay/Reprodução)
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A epidemia do novo coronavírus expõe a fragilidade de nossa própria existência. Mais do que isso, com as medidas de isolamento necessárias para contê-lo trouxe à tona o que muitas vezes queremos esconder até de nós mesmos: o quanto precisamos do convívio com outros humanos para sobrevivermos. A dependência é um instinto humano enquanto que a independência é uma defesa e uma criação cultural. A Covid-19 tenta inverter paradigmas próprios da nossa espécie. Antes entendíamos que era necessário ficarmos próximos dos que amamos para viver. Agora, por amor, temos que ficar longe de quem nos é querido. A complexidade do desenvolvimento humano é de tal ordem que, para assim fazê-lo, criamos um sistema complexo composto por dois eixos centrais, o eixo da dependência e o eixo da adicção.

Esses dois eixos, análogos e complementares, surgem e se encontram ao longo de nossas vidas. Eles representam um movimento análogo, sendo que cada eixo possui um objetivo diferente. O eixo da dependência visa o nosso desenvolvimento enquanto o eixo da adicção, a nossa sobrevivência. Cada eixo possui suas próprias estratégias de ação e unidos são ambos fundamentais para o nosso bem estar.

Convidei o Dr. José Alberto Zusman que é médico psiquiatra e psicanalista, pós doutor em adicções em uma parceria UFRJ/Harvard, que teve um artigo seu publicado hoje na revista “The Psychoanalytic Study of the Child (1)” um artigo inédito para literatura médica-psiquiátrica com enfoque na dependência e adição.

Demonstrar nossa independência é muita maneira de demonstrar como somos dependentes. Como saber se você se nos tornamos adictos no isolamento social e até que ponto corremos este risco?

Dr. José Alberto Zusman:

De fato, Somos todos dependentes e potencialmente adictos. Somos dependentes porque a dependência é um instinto da nossa espécie e somos potencialmente adictos porque recorremos aos objetos que podem levar adicção, que podem ser “coisas” como drogas, álcool ou “ações” como trabalho e exercício em excesso. Que sempre que confrontados com dores emocionais que ultrapassam nossas defesas humanas.

O eixo da adicção segue por um caminho concreto. São mais primitivos por um lado e mais resistentes por outro. Nos protegem ao preço de nos afastar de outros seres humanos.

O eixo de dependência, diferente do eixo da adicção, progride do mundo dos objetos , atingindo o mundo dos objeto encontrados na vida adulta. Nesse eixo encontramos o campo dos vínculos humanos e desfrutamos do conforto entre os nossos pares. Separamos coisas de pessoas.

Embora o eixo da adicção comece ao mesmo tempo que o eixo da dependência, ele segue restrito ao vínculo com elementos concretos ao longo da vida. O eixo da adicção é marcado pelo empobrecimento do campo mental que, sem opções, toma as coisas como se humanas fossem em detrimento das relações entre as pessoas.

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Todos os seres humanos saudavelmente transitam entre o eixo da dependência e o da adicção. A grande questão é apenas quanto tempo eles permanecem no eixo da adicção e os possíveis danos que esta relação pode causar à vida. Precisamos do vínculo com outros humanos para desenvolver o nosso pleno potencial humano e aprender a usar objetos adictivos para nos defender, sem nos deixar aprisionar no árido e solitário no eixo da adicção. Na pandemia que vivemos podemos gradativamente, abandonar os vínculos humanos e adotar objetos como drogas, comidas, álcool e jogos como se não houvesse amanhã.

Nossa saída é não perdermos contato com o humano que somos. Devemos buscar todo tipo de encontro possível, seja por telefone e/ou vídeo para ouvir a voz de quem nos ama e poder falar da nossa saudade. Assim voltamos ao eixo da dependência um eixo da dependência em que nos aproximamos das pessoas, no eixo da adicção nos aproximamos dos “objetos” e assim nos afastamos das pessoas e dos relacionamentos. No eixo da adicção sobrevivemos, já que no eixo da dependência experimentamos o quão abençoados somos por estar vivos e nos relembramos do quanto vale a pena viver.

Referência:
1.José Alberto Zusman (2021) Between Dependency and Addiction, The Psychoanalytic Study of the Child, 74:1, 280-293, DOI: 10.1080/00797308.2020.1859304

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