PAUSA: medo e sobrevivência
Produtor musical carioca Diogo Strausz lança projeto sobre esvaziamento das grandes metrópoles devido à Covid-19

Em “Grande Sertão Veredas”, uma das mais significativas obras da literatura brasileira, o escritor mineiro Guimarães Rosa já notava que a vida pede coragem. E é difícil ter coragem quando vive-se num país que sempre fomentou o medo. Por aqui, vivemos com medo. Diria até que faz parte da experiência “ser brasileiro”. A gente até tenta viver sem angustia mas o medo está por toda parte. Não nos enganemos.
Eu sinto medo ao ver as ruas vazias mas temo mais ainda em vê-las lotadas de gente que não respeita o isolamento social porque acha que essa pandemia é uma gripezinha. Quem dera se essa crença fosse apenas da criatura desequilibrada que governa o país.
Sinto medo do amanhã e medo de não ter amanhã. Mas enquanto o medo paralisa alguns, ele movimenta outros. O produtor musical carioca Diogo Strausz (compositor, arranjador e multinstrumentista) se juntou ao fotógrafo londrino Jacob Perlmutter e juntos produziram o projeto PAUSA, composição instrumental e curta-metragem já disponível em todas as plataformas digitais, em áudio e vídeo.
Sensível e atento às mudanças, Diogo Strausz (foto), radicado há dois anos em Paris, compôs PAUSA a partir do esvaziamento das grandes metrópoles devido à Covid-19. A faixa instrumental ganhou um clipe cuja produção contou com colaboradores de diversas metrópoles mundo afora, dirigido por Jacob Perlmutter. Nova Iorque, Rio de Janeiro, São Paulo, Milão, Jakarta, Paris, Tel-Aviv, Mumbai, Quito, Berlim e Atenas são vistas do alto e praticamente vazias.
As imagens que poderiam ser somente angustiantes, emocionam. A canção preenche e propõe reflexão. O processo criativo solitário de Diogo foi sendo desenvolvido em meio ao lockdown severo da capital francesa. Enquanto músicos do Brasil, França e Estados Unidos registravam seus violinos, trombones, piano de cauda, baixo e bateria de seus estúdios em casa, cinegrafistas enviavam filmagens de drone de suas cidades esvaziadas pelas necessárias sanitárias de confinamento horizontal.
Ao ver e ouvir PAUSA fui tomada por uma sensação de leveza que há muito não sentia. E leveza é tudo que precisamos num momento tão duro, grave e doído. E já que comecei falando de Rosa, finalizo dando razão a outro poeta, este mais contemporâneo a mim: sonhos são como deuses, quando não se acreditam neles deixam de existir (Paulinho Moska) e eu não sou daquelas que duvida dos deuses. Enquanto estamos em pausa, cientistas correm contra o tempo corajosamente para encontrar uma solução rápida e eficaz para sairmos deste estado de suspensão. Quando isso acontecer, voltaremos aos nossos medos cotidianos.