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Por Juarez Becoza, repórter de gastronomia popular e caçador de botequins
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Férias boêmias na Ilha Grande: onde comer e beber bem no paraíso

Um pequeno guia com os melhores e mais bem guardados segredos para quem visita a ilha sem abrir mão da cervejinha, da caipirinha, do polvo e do camarão...

Por Juarez Becoza
Atualizado em 2 fev 2021, 16h48 - Publicado em 1 fev 2021, 19h48

Estou de volta. Acabo de chegar de duas semanas de folga na Ilha Grande…. Dias de sol, de mar, de trilhas, florestas, rios, cachoeiras… E também restaurantes, bares, botequins, cerveja gelada, peixe, polvo, camarão e muita cachaça artesanal… Sim, caro leitor: se você, como eu, gosta de unir os prazeres da natureza com as delícias de um bom botequim caiçara, daquele de pé na areia e mesinha sob a sombra da amendoeira, o paraíso ecológico da Ilha Grande, no litoral Sul Fluminense, está cheio de opções nesse sentido. E nem me refiro àqueles restaurantes flutuantes caríssimos, que servem coquilles saint-jacques e champanhe francesa aos iates dos ricaços que fundeiam nas águas badaladas do Saco do Céu, da Lagoa Verde, da Freguesia de Santana ou da Praia da Baleia. Falo de botecos familiares, que espalham suas mesinhas de plástico pelas praias mais simples e comunitárias, onde pescadores, ilhéus e amantes da natureza convivem em harmonia nos vilarejos cheios de surpresas – especialmente as gastronômicas.

Cantina da Tereza
Cantina da Tereza, na Vila de Dois Rios: atrás das grades, cerveja. (Juarez Becoza/Arquivo pessoal)

Lugares como a Praia de Dois Rios, onde funcionou o infame Presídio da Ilha Grande e hoje abriga uma pacata vila de moradores. Lá, a Cantina da Tereza, que por décadas preparou as quentinhas dos prisioneiros, hoje serve cerveja, petiscos caseiros e inacreditáveis histórias a quem se aventura pela trilha de 7,5 quilômetros até lá. Ou como a Praia de Araçatiba, onde a cozinha da casa da menina Maria Amélia oferece pizza caseira com vista espetacular e caipirinhas muito honestas que, na happy hour, saem por menos de R$ 10. Ou ainda na vizinha Praia de Araçatibinha, onde o Bar do Pedro, nada mais que uma casinhola com mesinhas sobre um velho píer no meio da praia de areia dourada, oferece peixe e cerveja gelada pra quem sabe identificar de longe o que é um bar no paraíso. A praia ainda abriga uma inacreditável pousada, a João & Maria da Ilha, cujos quartos confortáveis se escamoteiam por trás das árvores, em meio a um pomar de frutas tropicais, um lago de tilápias e um forno de pizza instalado, literalmente, no meio do mato.

Mas a razão principal deste post, caro leitor, é registrar a tarde inesquecível que passei na formosíssima Praia Vermelha, no extremo sul da ilha. Ali, uma pequena vila de pescadores abriga alguns bares, meia dúzia de pousadas e um dos maiores patrimônios etílico-gastronômicos que eu já descobri no litoral sul do Rio de Janeiro (e olha que frequento a região desde que era criança, lá pelos meados do século passado). Trata-se do restaurante Ponta da Barca, do advogado Fernando e sua família de músicos e cozinheiros de mão cheia. Ali comi, caro leitor, o mais espetacular polvo que já experimentei na vida. Peço perdão até ao meu amigo João Paulo, do Bar Adonis, cuja tijelinha de polvo com bacon inspirada no Satyricon é de comer rezando. Mas o polvo à lagareira da Dona Marluce, mulher do Fernando e cozinheira chefe da Ponta da Barca, é de comer ajoelhado no milho, batendo com a cabeça na parede. O prato oferece múltiplos orgasmos: que começam na saborosa maciez do nosso amigo artrópode, passam pelas batatas ao murro que servem de cama para o bicho, e terminam no mar de molho cremoso cheio de aromas e texturas onde o polvo navega, e a gente se entrega. Ao fim dessa odisséia cabe a nós, comensais, sorver aquele líquido com a paixão dos mais intrépidos exploradores. Que viagem, caro leitor, que viagem. Só não pense que termina por aí:

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Ponta da Barca
A Praia Vermelha vista da janela do Ponta da Barca: idílio. (Juarez Becoza/Arquivo pessoal)

Basta uma vistoria simples no salão para descobrir outro tesouro do Ponta da Barca: a espetacular carta de cachaças do lugar. Digna de um Galeto Sat´s, de uma Academia da Cachaça, de uma Noo Cachaçaria. Afinal, quais são as chances de descobrir, a poucos metros do mar, uma prateleira que expõe a mineira Providência, a gaúcha Harmonie Schnaps, a catarinense Armazém Vieira e a paratiense Maria Izabel, entre muitas outras clássicas, famosas e raras? Pois é. Eu também fiquei surpreso. Especialmente quando, durante o deleite à mesa, fui surpreendido por uma dose de Tabaroa, uma pérola de cachaça produzida na cidade de Prados, em Minas Gerais, que deixou a tarde ainda mais colorida.

Ao fim e ao cabo, o que era para ser um almoço virou um dia inteiro de prazeres etílicos e gastronômicos caiçaras. Sem dúvida, a Ponta da Barca foi o ponto alto de duas semanas nessa sempre surpreendente Ilha Grande, não importa quantas vezes a gente volte lá.

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Difícil só foi enfrentar a trilha de volta, já na penumbra do pôr do sol, com os sentidos para lá de obnubilados pelos vapores etílicos. Eu mesmo não lembro, mas a patroa conta que, lá pelas tantas, reclamei horrores de não haver instalado nem um corrimão pelo caminho…

Mas chegamos vivos e sem arranhões à pousada. Aliás, outro achado e tanto: a Mar da Lua (@mardaluaig), uma casa jogada sobre o mar, a menos de cinco minutos caminhando da Praia de Araçatiba), além de confortável também tem uma cozinha e tanto. Dona Ana e sua filha Alice produzem almoços memoráveis aos hóspedes. Especialmente os camarões em ninho de queijo parmesão e o estrogonofe de lula. Só de lembrar já dá vontade de voltar.

E como resultado dessa empreitada ofereço a você, querido leitor, com uma listinha com alguns dos melhores e mais genuínos botequins da Ilha Grande, experimentados por mim nesta e em outras viagens, ao longo dos últimos 25 anos:

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Cantina do Presídio, na Vila de Dois Rios
(Juarez Becoza/Arquivo pessoal)

Cantina do Presídio (Cantina da Tereza):
Literalmente uma viagem no tempo. A estrutura onde fica o bar é uma das últimas que restou em pé do presídio original. Circulando pelo pequeno bar, dá pra ver até grades idênticas às que havia na carceragem logo ao lado. Nas mesas, além da cerveja gelada e dos PFs de peixe frito, o tesouro é encostar nos moradores que lagarteiam por lá para ouvir as histórias dos tempos em que o presídio funcionava. Entre eles, é fácil encontrar ex-carcereiros e, dizem, até mesmo ex-detentos.
– Vila de Dois Rios s/nº, Ilha Grande — (24) 3361-9223. Diariamente, das 8h às 22h.

 

Pizzaria Casa da Maria Amélia, na Praia de Araçatiba
(Casa da Maria Amélia/Divulgação)

Casa da Maria Amélia (@pizzariacasadamariaamelia):
É divertido descobrir que a Maria Amélia que dá nome à pizzaria artesanal no alto da colina que oferece vista espetacular para o lado sul da Praia de Araçatiba é a sapeca filha da dona. O cardápio oferece pizzas simples mas muito caprichadas, além de pratos regionais, cerveja gelada e a promoção de caipirinha: duas por R$ 15, das 18h às 21h.- Travessa do Castelo 6, Praia de Araçatiba.

Bar do Pedro
Bar do Pedro. (Juarez Becoza/Arquivo pessoal)

Bar do Pedro:
Não são poucas as histórias de gente que passa por Araçatibinha a caminho de outras praias e acaba ficando por ali mesmo. As areias douradas e o cenário que mais lembra uma lagoa (por influência dos dois rios que a cercam) são encantadores. E o Bar do Pedro, com suas mesas sobre o mar, o clima de vila perdida no tempo e nenhum relógio à vista deixam tudo ainda mais atraente. A pousada João & Maria (@joaoemariadailha), logo atrás, é uma confortável solução pra quem se apaixona perdidamente e não quer mais saber de outro lugar. Acontece muito.
– Praia de Araçatibinha, s/n, a cinco minutos andando da Praia de Araçatiba.

Fernando, dono do Ponta da Barca, posa com suas cachaças artesanais
(Juarez Becoza/Arquivo pessoal)

Ponta da Barca (@pontadabarca.com.tudo):
O restaurante do Fernando e sua família é tudo isso que eu disse aí em cima e mais um pouco. Uma visita obrigatória se você está pela trecho sul da Ilha Grande, entre a Praia de Araçatiba e a Ponta do Acaiá, que tem na Praia Vermelha um dos seus pousos mais concorridos. Além da Ponta da Barca, a praia conta com algumas outras pousadas, bares, restaurantes e até uma operadora de mergulho.
– Rua da Praia, 13, Praia Vermelha.

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Casarão da Ilha

Casarão da Ilha:
Este é o boteco mais popular e festivo da capital da Ilha Grande. Não concebo visitar a Vila do Abraão sem gastar uma tarde tomando cerveja de garrafa e comendo camarão nas mesinhas do Casarão, de frente para o píer onde os barcos chegam e se vão. Às vezes tem música ao vivo também, e de noite é uma festa.  Aberto desde 1987, quando o presídio ainda funcionava e a ilha era salpicada de policiais e caçadores de fugitivos, a casa do Gilson, uma das figuras mais conhecidas da ilha, talvez seja o mais longevo bar em atividade na ilha.
Rua da Praia, 20, Vila do Abraão.

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