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Zezé Motta: “Toda mulher já foi violentada de alguma forma”

Às vésperas do Dia da Consciência Negra, a atriz e cantora fala sobre trabalho, namoro, envelhecimento e repercute o episódio com a colega Taís Araújo

Por Renata Magalhães
Atualizado em 14 nov 2025, 10h25 - Publicado em 14 nov 2025, 10h09
Zezé Motta: “Fiquei realmente triste. Como ainda temos que passar por algo assim? Que bom que a Taís reagiu”
Zezé Motta: “Fiquei realmente triste. Como ainda temos que passar por algo assim? Que bom que a Taís reagiu” (Thalles Leamari/Divulgação)
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Canceriana, Zezé Motta sabe que, em breve, vai se emocionar muito na plateia de um cinema. Nas próximas semanas, começa a rodar um longa-metragem que contará a sua história — desde a chegada de Campos dos Goytacazes ao Rio na infância até o sucesso internacional, contemplando uma trajetória de pioneirismos e com mais de cem personagens acumulados.

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O título, Nas Garras da Felina, faz alusão à música Tigresa, composta por Caetano Veloso, que teve a artista de 81 anos como inspiração. Trata-se de mais um motivo para celebrar em 2025, ano em que rodou o Brasil com o show Coração Vagabundo — Zezé Canta Caetano e estreou seu primeiro monólogo, Vou Fazer de Mim um Mundo, adaptação do best-seller Eu Sei Porque o Pássaro Canta na Gaiola, da americana Maya Angelou.

Atualmente em cartaz em São Paulo, a peça traz Zezé recitando, cantando e evocando as dores e glórias de gerações que vieram antes. “As pessoas estão vivendo com mais individualidade e introspecção, preocupadas com a própria sobrevivência. Na minha época, íamos todos juntos para as ruas”, lembra a eterna Xica da Silva, do filme de 1976 de Cacá Diegues. Moradora do Leme, ela conversou com VEJA RIO sobre o bom momento e as transformações em sua vida com a idade.

Por que decidiu celebrar seus 80 anos sozinha em cena? Queria fazer um trabalho de impacto, algo diferente. Eu me identifico com a Maya Angelou por ela ter sido uma negra sofrida que venceu as demandas e foi capaz de inspirar tanto. Esse texto tem tudo o que procurava.

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O público tem saído emocionado do teatro… … É compreensível, se pensarmos que toda mulher já foi violentada de alguma forma. Há uma identificação. Quando soube que estavam indo embora aos prantos, fiquei preocupada. Não era minha intenção fazer algo pesado, mas entendi que essas lágrimas são uma catarse, um desabafo. A peça realmente toca o coração das pessoas.

Quando percebeu que havia se tornado uma referência? As atrizes que vieram depois de mim me diziam isso, como Isabel Fillardis e Taís Araújo. Sempre tive o ímpeto da luta, mesmo num tempo em que falar de racismo era tabu. Apesar de todas as dificuldades, nunca pensei em desistir. Foi para isso que vim ao mundo… O que eu faria da minha vida?

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Acompanhou o que aconteceu com a Taís Araújo em Vale Tudo? Fiquei realmente triste. Como ainda temos que passar por algo assim? Que bom que a Taís reagiu. Se fosse há alguns anos, ela não estaria solitária nessa indignação. Haveria um movimento.

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Como assim? As pessoas estão vivendo com mais individualidade e introspecção, preocupadas com a própria sobrevivência. É outro momento, outra geração. Na minha época, nós íamos todos juntos para as ruas, fazíamos passeata e chamávamos a imprensa para repercutir esses absurdos. Sempre usei o espaço que conquistei para fazer denúncias, assim como Antônio Pitanga, Ruth de Souza e Léa Garcia. Passamos por muita discriminação e tivemos que engolir muito sapo. Hoje há uma apatia, talvez por conta da internet. Fiz a minha parte e estou bem com isso; agora passo o bastão.

Você foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado. Graças a ele temos o Dia da Consciência Negra? A data foi proposta inicialmente pelo MNU em parceria com outras organizações nos anos 1970 para contestar o protagonismo branco na história da abolição. Entendemos que ter um dia no ano dedicado a refletir sobre a questão racial no Brasil era necessário, inclusive para trazer novos aliados. Quem participava desses debates saía transformado. Enquanto os negros ficavam mais fortalecidos para lutar, os brancos entendiam que não existe um grupo superior. Somos seres humanos iguais, independentemente da cor.

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Que memórias vêm à cabeça quando pensa no início da sua carreira? As dificuldades. Estreei em Roda Viva e, quando a peça foi para São Paulo, tive que dividir um apartamento pequeno com pessoas que tinham um temperamento difícil. Pensei em jogar tudo para o alto e voltar para o Rio, mas o pouco dinheiro estava acabando. Felizmente, uma fada-madrinha apareceu na minha vida: a saudosa Marília Pêra, que me estendeu a mão e trabalhou comigo por anos. Ela virou uma irmã e tenho a honra de ser madrinha de sua filha caçula, Nina Morena.

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O que cantar te proporciona para além da atuação? Vivem me perguntando se gosto mais de cantar ou representar, e minha resposta é que me sinto em graça em ambos os momentos. Quando junto os dois, como no monólogo, em que canto sete músicas, é realmente uma bênção. Tenho vontade de dirigir também. Sou inquieta e fico me perguntando o que ainda falta.

Você está prestes a viver uma personagem lésbica nos cinemas, em Liberdade, ao lado de Letícia Sabatella. Está preparada para a repercussão? Tenho um namorado de 58 anos e gosto de falar sobre isso porque ajuda mulheres da minha geração — viúvas, divorciadas ou solteironas — a acreditar que merecemos viver da melhor maneira possível. Da mesma forma, é interessante alguém da minha idade interpretar esse papel: pode influenciar quem passou décadas reprimido a ter coragem de sair do armário. Criar identificação é uma das principais funções da arte.

Pensa em se casar novamente? Não! Já casei cinco vezes e não pretendo repetir essa experiência, ainda que tenha a impressão de que desta vez é para sempre. … uma história antiga, vivemos um romance vinte anos atrás e nos reconectamos há um ano. O tempo e a vivência me deixaram menos insegura e ciumenta.

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Como é ser uma mulher preta e envelhecer sob holofotes? Ninguém se refere a mim como idosa — ainda que eu reconheça que sou. Tenho personal trainer, trato a pele e o cabelo, me alimento bem… Sou vaidosa e, quando dizem que estou bem para a minha idade, fico toda prosa. Uma vez, fotografei para um outdoor que foi recusado porque os clientes de classe média não iriam comprar um produto anunciado por uma negra. Agora, depois de velhinha, estou sendo disputada para fazer propagandas (risos).

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