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Zeca Pagodinho: ‘Passei por uma depressão braba, não queria levantar’

Cantor lança novo disco e fala sobre o hábito de fazer as unhas, a hipocondria e o gosto por vinhos franceses: 'Tem que ser de Bordeaux', afirma

Por Cleo Guimarães
Atualizado em 9 mar 2020, 10h07 - Publicado em 6 mar 2020, 12h06
Zeca Pagodinho sorri de óculos escuros. Ele está vestindo uma camisa branca e um paletó cinza, sentado numa cadeira
Zeca Pagodinho: depois do sucesso do Dia das Mães, agrado para os pais (Guto Costa/Divulgação)
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Após quatro anos longe dos estúdios, Zeca Pagodinho está com disco novo. Sem deixar de lado os grandes sucessos, o sambista, de 61 anos, apresenta seu 24º álbum no palco do Vivo Rio, nos dias 13 e 14 de março. Com quatro prêmios Grammy ao longo da carreira e mais de 760 milhões de streams nas plataformas digitais, Zeca recebeu VEJA RIO no seu bar, na Barra da Tijuca, e falou abertamente sobre carreira, casamento, família — os dois netos, Noah e Catarina, são seus xodós —, saúde, vaidade e a aversão a selfies. “As pessoas perderam um pouco a noção. Agora pedem foto até em hospital e enterro, e ainda querem que eu sorria”, reclama.

Seu novo disco se chama Mais Feliz. Tem a ver com a sua fase atual? Ah, com certeza. O mundo está muito doente, cheio de problemas, mas eu fiquei mais feliz depois que meus netos nasceram.

Você já passou por uma depressão? Já, depressão braba. De tomar remédio e ficar tristão. Não saía de casa. A pior parte é levantar da cama, eu não queria levantar. Mas já parei com os remédios, estou bem agora.

Uma das músicas da trilha de Amor de Mãe é interpretada por você e Beth Carvalho. Está acompanhando a novela? Não consigo mais ver novela. Chega essa hora, e eu já estou cansado. Durmo cedo, não sou mais aquele, não. Nem Jornal Nacional eu vejo mais, quando começa, eu já fui.

Também acorda cedo? Seis e meia da manhã o telefone da Mônica (a mulher de Zeca) toca porque ela tem de levar a Maria Eduarda ao colégio e começa aquela confusão. Eu espero elas saírem para dormir mais um pouquinho. Oito e meia já estou na pista, aí vou ao médico.

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Vai ao médico sempre? Vou, né? Tenho de ir, cara. Vou ficar velho de bobeira? Com aquele barrigão? Não dá! Eu me interno duas vezes por ano. Faço tudo que é exame. Ninguém me aguenta mais no hospital. E, quando não estou no médico, estou no salão. Adoro fazer a unha. A Mônica até brinca, diz que eu faço uma unha por dia, porque todo dia eu vou ao salão. Tenho de ficar elegante. E quer saber os perfumes que eu uso? Olha que eu vou esculachar, hein? É Armani, Ermenegildo Zegna, Chanel…

Ainda há muita gente machista que acha que fazer unha é coisa de mulher. Nunca fizeram graça com você por causa disso? É claro que não. A malandragem também faz unha! Eu me amarro em ficar com a mão bonitona. Vou deixar de ser homem porque coloco uma basezinha? E é alemã, tá? Não fala minha língua, não. Faço o pé também, porque eu gosto de andar de chinelo.

E esse dente de ouro, é novidade? Ah, eu andei muito no meio de malandro, bicheiro, sambista, e todo mundo tinha um dente de ouro. Podia até ser dentadura, mas tinha um dente de ouro ali. Eu sempre quis ter um, era o meu sonho. Esse aqui já caiu uma vez e eu botei outro. Fui comer uma fruta do conde, soprei o caroço e lá se foi ele com o dente e tudo.

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Ainda costuma jogar no bicho? É claro. Outro dia coloquei 100 reais e ganhei 1 800. Ganho quase toda semana e distribuo o dinheiro pro cozinheiro, pro motorista, pra todo mundo. Já ganhei mais de 10 000 reais num só jogo.

Então você é a favor da legalização do jogo do bicho? É ilegal?

Como as novas plataformas de streaming, como o Spotify, impactaram o seu trabalho? Spotify? Não sei nem o que é isso, não sei mexer nessa coisa. Na verdade, eu fiquei chateado porque antes as pessoas viam a capa do disco, tinha a informação de quem produziu, a banda… Agora não tem nada. No meu último disco, o Hamilton de Holanda e o Yamandu Costa tocaram Apelo, musicão do Vinicius de Moraes e do Baden Powell, e ninguém ficou sabendo. Esse negócio de internet deixou o mundo muito chato, as pessoas só querem saber de tirar foto e compartilhar, um saco isso.

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Não é adepto das selfies? Detesto fazer foto, e as pessoas perderam a noção, pô. Fui num velório e o cara queria que eu fosse na capela do lado para tirar foto com o defunto. Com o defunto! Fui visitar o meu pai na UTI, pediram para fazer selfie também. O cara ainda falou: “Dá um sorriso aí, Zeca”. Rir do quê?

Você acompanhou a polêmica da proposta de boicote ao Cacique de Ramos, feita na internet, porque seus integrantes usam fantasia de índio? Falta do que fazer, né? Os caras saem de índio há sessenta anos, tanta coisa para se preocupar e o pessoal encrencando com isso. Peraí, pô.

Você passou por uma fase que trocou a cerveja pelo vinho. Continua nessa? Eu continuo nos dois. No bar eu tomo cerveja, porque tem de ter parceiro. Dentro de casa, gosto de colocar um vinho ali na taça e ficar vendo televisão tranquilão.

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Tem algum rótulo da sua preferência? Para mim tem de ser francês e de Bordeaux. No meu aniversário, fizemos uma farra lá na gravadora, e aí foram umas doze garrafas de vinho.

Não deu uma ressaca, não? Nada. Com o tempo, o fígado se acostuma.

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