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‘Toque de recolher dos bandidos freou a Covid-19 em favelas’, diz médico

Epidemiologista da UFRJ, Roberto Medronho afirma que ação do 'poder parelelo' do tráfico tem ajudado no combate ao coronavírus em comunidades

Por Cleo Guimarães
24 abr 2020, 15h33
Defensor da cidade
Roberto Medronho: "As crianças das escolas públicas vêm sendo recrutadas pelo tráfico, e muitas delas também estão sofrendo abuso físico e sexual" (Redação Veja Rio/Reprodução)
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Chefe da divisão de pesquisa do Hospital Universitário Clementino Fraga, da UFRJ, Roberto Medronho faz parte do grupo de trabalho que dá apoio técnico ao governo estadual para as questões da pandemia de coronavírus – e ele anda assustado com a curva ascendente de mortalidade e de contaminação no Rio: já são 322 óbitos e 4027 casos confirmados no município. “É muito, mas seria bem mais se não tivéssemos adotado o isolamento social no início de março”, afirma.  Em entrevista a VEJA RIO, Medronho conta como ajudou a convencer o governador a optar pela medida, e diz que a vida dos cariocas só deve começar a voltar à normalidade a partir de setembro.

Em 31 de março, a cidade do Rio registrava 20 mortes e 583 casos confirmados. Ontem, dia 23 de abril, os números subiram para 322 mortes e 4027 confirmações. Essa curva ascendente não chega a ser uma surpresa, mas esperava-se que fosse tão acentuada? Sim. E poderia ser bem pior se o (Wilson) Witzel não aceitasse adotar o isolamento logo na segunda semana de março. No dia 13 daquele mês o secretário de saúde Edmar Santos me pediu que fosse ao palácio para ajudar a convencer o governador a decretar o isolamento social. Na reunião havia várias pessoas contrárias, outras favoráveis à medida. Eu disse para ele, contundentemente, que essa era a única solução. O Witzel, que bom, convenceu-se que era o melhor a fazer.

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As primeiras confirmações da doença na cidade foram registradas em bairros da Zona Sul e na Barra. Um comentário frequente era que, quando chegasse às comunidades, o número de casos sairia do controle por causa da falta d’água, de saneamento, das aglomerações dentro das casas. Mas as contaminações nas favelas parecem ser menores que o previsto, não? Graças a Deus, elas não estão acontecendo na velocidade que esperávamos. Uma hipótese para isso é isolamento compulsório imposto pelo tráfico. Aqueles cartazes “Quem sair de casa depois de tal hora var morrer”, que acabaram viralizando. É trágico, mas, neste caso, o estado paralelo – essa adesão dos bandidos – nos auxiliou.

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O senhor também ajudou a convencer o governador a manter o isolamento, nesta semana? Sim, eu e um grupo de experts, do qual fazem parte também o ex-ministro José Gomes Temporão e a pneumologista Margareth Dalcolmo, entre outros, nos reunimos com o secretário Edmar e explicamos para ele que, se flexibilizássemos agora o isolamento, neste momento de ascensão da curva, poderia ocorrer uma tragédia. Seria um tiro no pé, poderia acabar saturando os leitos de hospitais. Ele passou nossa mensagem ao governador, que foi sensível e voltou atrás na ideia de relaxar o isolamento. Sei que é um remédio amargo, principalmente para as pessoas mais vulneráveis economicamente, mas estamos salvando vidas. Não é brincadeira. Cabe ao governo dar subsídios para mitigar este impacto.

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Mesmo não sendo uma certeza, quando o senhor imagina que conseguiremos voltar à vida normal? A grosso modo, eu diria que voltar ao normal, normal mesmo, de ir a um jogo no Maracanã cheio, por exemplo, só a partir da segunda semana de setembro. Mas em meados de junho acho que conseguimos ter um isolamento já mais flexível, num plano de abertura amplo, gradual e seguro.

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